bocadomangue Mario Moscatelli

VALE TUDO

Na década de oitenta, eu costumava assistir as novelas que atualmente são apresentadas às 21:00 na rede Globo. Uma delas se chamava “Vale Tudo” onde basicamente se mostrava o Brasil como ele é até hoje, ou seja, uma gigantesca quadrilha constituída de outras milhares de pequenas quadrilhas, cada uma defendendo seus interesses e recursos através de inúmeras maracutaias

Alguma das novidades no século XXI desse enredo que se arrasta desde o século XVI em nossa colônia, é o grande negócio de ter ong´s de mentirinha que recebem montanhas de dinheiro público, proveniente de nossos milhares de impostos, desde que o presidente da dita cuja organização tenha alguma intimidade promíscua com o dono da bola da vez, bem como da ampla cobertura jornalística que diariamente expõem para os que gostam de sofrer sentido o odor das entranhas pútridas do poder pútrido e vendo seus tributos transformados em riqueza para um bando de assaltantes engravatados que em sua maioria absoluta continuam livres, leves e soltos com hábeas corpus preventivos e sabe-se lá mais o que existe para salvar ladrão de gravata.

Nesse contexto reproduzo um desabafo de talvez um dos poucos políticos honestos do Congresso Nacional e faço de suas palavras revoltadas as minhas:
Pronunciamento do Senador Jefferson Péres realizado em 30.08.2006 no plenário do Senado Federal

”Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de uma longa ausência de algumas semanas, volto a esta Tribuna para manifestar o meu desalento com a vida pública deste País.
Gostaria de estar aqui discutindo, como fez o Senador José Jorge, a respeito das riquezas naturais do Brasil, com as quais ele tanto se preocupa, e não como falarei, sobre algo muito pior: a dilapidação do capital ético deste País.

Senador José Jorge, poderíamos não ter um barril de petróleo nem um metro cúbico de gás, mas poderíamos ser uma das potências mundiais em termos de desenvolvimento.

O Japão não tem nada. Não tem petróleo, gás ou riquezas minerais. A Coréia do Sul também não tem nada disso, Senador Antonio Carlos, e nos dá um banho em termos de desenvolvimento não apenas econômico, mas também humano.

O que está faltando mesmo a este País e sempre faltou é uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública, capaz de fazer neste País o que precisaria ser feito: investimento em capital humano.

Vejam que País é este. Estamos aqui com seis Senadores em pleno mês de agosto, porque estamos em recesso branco. Por que não se reduz a campanha eleitoral a trinta dias e transfere-se o recesso de julho para setembro? Nós ficaríamos com o Congresso aberto, de Casa cheia, até 31 de agosto. Faríamos trinta dias de campanha em recesso oficial, remunerado.

Estamos aqui no faz-de-conta. Como disse o Ministro Marco Aurélio, este é o País do faz-de-conta. Estamos fingindo que fazemos uma sessão do Senado, estamos em casa sem trabalhar. Estou em Manaus há quase um mês, recebendo, sem fazer nada " para o Congresso Nacional, pelo menos. Como se ter animação em um País como este com um Presidente que, até poucos meses atrás, era sabidamente " como o é " um Presidente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu neste País e este Presidente está marchando para ser eleito, talvez, em primeiro turno? É desinformação da população? Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar deste País, todos concordarão, ou a grande maioria, que o Presidente sabia de tudo.

Então, votam nele sabendo que ele sabia. A crise ética não é só da classe política, não, parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Democracia é isso.
Curvo-me à vontade popular, mas inconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância. Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódio deplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada!

Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas, Senador Antonio Carlos Magalhães!

Um compositor dizer que "política é isso mesmo, fez o que deveria fazer", o outro dizer que "política é meter a mão na 'm'"! Um artista, em qualquer país do mundo, é a consciência crítica de uma nação. Aqui é essa, é isso que é a classe artística brasileira, pelo menos uma grande parte dela, é o povo conivente com isso.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) E pagos pela Petrobras. O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) E pior, pior ainda: os artistas estão fazendo isso em interesse próprio, porque recebem de empresas públicas contratos milionários - isso é a putrefação moral deste País - , e o povo vai reconduzir o Presidente porque "política é isso mesmo".

Tenho quatro anos de Senado. Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou silenciar. Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei aí na tribuna dizendo que ele deveria ter sido mesmo destituído. O que ele fez é muito grave. É muito grave. Curvo-me à vontade popular, mas não sem o sentimento de profunda indignação. A classe política já nem se
fala, essa já apodreceu há muito tempo mesmo. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que já participei. É a pior legislatura da qual já participei, Senador Antonio Carlos Magalhães. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria ilustre, respeitável, a quem cumprimento. Mas uma maioria, infelizmente, tão medíocre, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi. O que se pode esperar disso aí?

Não sei. Eu não vou mais perder o meu tempo. Vou continuar protestando sempre, cumprindo o meu dever. Não teria justificativa dizer que não vou fazer mais nada. Vou cumprir rigorosamente o meu dever neste Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar, não! Um País que tem um Congresso desse, que tem uma classe política dessa, que tem um povo... Senador Antonio Carlos Magalhães, dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso? É lamentável. E que sabe. Não é por desinformação, não. E que não é só o povão, não. É parte da elite, inclusive intelectual. Compactuam com isso é porque são iguais, se não piores. Vou continuar nessa vida pública?

Para quê, Senador Antonio Carlos Magalhães? Eu louvo V. Exª, que é um pouco mais velho do que eu e vai continuar ainda. Mas, para mim, chega! Vou continuar pelejando pelos jornais e por todos os meios possíveis, mas, como ator na vida política e na vida pública deste País, depois de 2010, não quero mais! Elejam quem vocês quiserem! Podem chamar até o Fernandinho Beira-Mar e fazê-lo Presidente da República - ele não vai com o meu voto, mas, se quiserem, façam-no.

O meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos Anais do Senado Federal. Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, perdendo ou não votos " pouco me importa. Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela.
Muito obrigado, Sr. Presidente.”

A não ser pelos elogios à outro político representante desta merda toda, reitero todas as palavras do senador representante do Amazonas. Do jeito que vai, não vai sobrar mais nada, nem biomas, nem biodiversidade, só mesmo nossa pouca ou nenhuma vergonha que temos na cara. A colônia afunda a poucos dias da próxima eleição que provavelmente reelegerá o cefalópode, na mais profunda crise moral de nossa história onde a maioria dos mocinhos morreu ou está internada em manicômios e os bandidos estão soltos deitando e rolando, debochando de todos.

Enquanto isso na Bulgária, o cacete está comendo solto, pois lá o povo tem o tal produto escasso por aqui, e a rapaziada não aceita sacanagem de político, e o bicho está pegando, onde exige-se a renúncia do cacique de lá, que andou mentindo, olhem só, apenas mentindo para a população a respeito do estado de saúde da economia local.

Em resumo estamos na merda pois somos um bando de cagões submissos e indigentes mentais enquanto o cefalópode continua com sua retórica de não saber de nada!!!!

A hora da eleição está chegando. E aí, já escolheu seus representantes? Pesquisou quem esteve envolvido em maracutaias? Está tentando influenciar outras pessoas menos instruídas para que votem com consciência, no que há de melhor ou de menos pior? Eu já tenho meus candidatos e vou continuar cobrando dos mesmos, caso sejam eleitos, atuação nos problemas que identifico em nossa cidade e estado.

É assim que funciona em resumo. O resto é besteira.

Termino cantarolando um velho samba, também da década de oitenta que dizia em seu refrão:
“Se gritar pega ladrão, não sobra um meu irmão. Se gritar pega ladrão, não sobra um meu irmão.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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