NÃO SEI DE NADA.....
Lembro
como se fosse hoje, numa doce manhã de 1979, quando argüi
a professora de português a respeito de assunto político
e a mesma me respondeu com jeito assustado que não sabia de nada.
Provavelmente fruto dos anos de chumbo da ditadura militar que ainda vigorava
naqueles doces anos de minha adolescência transcorridos no ginásio
Guido de Fontgalland, a mesma se borrou de medo imaginando que por trás
daquela pergunta e daquele adolescente CDF existisse uma conspiração
do DOPS (órgão de repressão dos subversivos da época).
Pois bem, muitos anos se passaram desde então, mas sempre me ensinaram dentro de casa e pelos colégios que estudei que não existe outro caminho a trilhar se não o de assumir o que se faz, tomando conhecimento de suas responsabilidades e no caso de dar algum “curto circuito”, assumir o problema e resolvê-lo. ![]()
Desde 1992 venho acompanhando a agonia das lagunas do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá. Inicialmente dei de cara com esgoto, depois com lixo domiciliar, mais a frente com cama, cadeira, televisões, sofás, brinquedos, um pouco além com gigantescas ilhas de lama e lixo, mais um pouco a frente com gigogas e algas tóxicas e finalmente em 2006 com resíduos hospitalares. Na minha lista agora só está faltando material radioativo e pedaços do último ônibus espacial que explodiu. Pois bem, como de praxe, de tudo que foi visto nesses 14 anos de navegação fecal, NUNCA ouvi oficialmente de algum órgão ambiental que os encontros de “terceiro grau” tidos nas lagunas já haviam sido detectados anteriormente. Após cada uma das centenas de denúncias, sempre vinha aquela nota protocolar já até gravada pela assessoria de imprensa do órgão X. Y ou Z dizendo que iriam ao local para fazer não sei bem o que. No caso dos resíduos hospitalares que venho colecionando morbidamente há três meses, recolhidos das margens e do espelho dágua das lagunas de Jacarepaguá, Camorim e Tijuca, mais uma vez o órgão ambiental X do estado do Rio de Janeiro, informa que nada sabia sobre o assunto até aquele momento e provavelmente vai continuar sem saber, visto que em seguida aparece outro abacaxi ambiental que também não vai ser resolvido, pois “nada sabemos dele”, e empurra-se com a barriga essa imensa massa falida ambiental chamada cidade do Rio de Janeiro. ![]() Saliento que nós merecemos a merda de serviços prestados por esse gigante atrofiado, falido, mentalmente comprometido e extremamente guloso por tributos chamado “poder pútrido” pois nada fazemos para exigir melhorias. Não nos revoltamos, não invadimos as torres de controle, não invadimos as pistas de decolagem, não invadimos as prefeituras, não invadimos porra nenhuma, pois somos geneticamente e culturalmente um bando de cornos mansos. Então dentro dessa ótica do “eu não sei de nada” ou “não quero me envolver com isso”, muito desenvolvido nesses dois últimos anos pelas “auturidadis cefalopodiais” bem como transformado em epidemia em Pindorama, onde quando dá merda, ninguém é pai do filho feio, e quando existe um pai o mesmo é geralmente primogênito de algum laranja, desafeto ou colaborador em processo de fritura, tome cuidado ao ir à praia da Barra próximo ao Quebra-Mar. Nesse verdadeiro ânus lagunar e em sua periferia fecal, além da merda que bucolicamente escoa a cada baixa-mar, você poderá, nessa roleta russa no qual se transformou nosso dia a dia na cidade sem ordem, dar uma topada ou quem sabe ter sua bunda furada por uma seringa que vingativamente por tanta brochura coletiva resolveu se vingar em sua saúde. Colhemos
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Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
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