UMA NAÇÃO CHAMADA APAGÃO
Confesso que mais uma vez ando mal humorado. A razão é a de sempre, isto é, continuar a ler jornal e isso não é de hoje. Enquanto minha esposa estava prestes a dar a luz para a querida Giovanna em 2001, o “guvernu” das aves tucanas, percebeu um belo dia que os reservatórios estavam quase vazios e consequentemente estávamos entrando na era do apagão. Foi aquele corre-corre dos diabos para quem podia comprar luzes de emergência, geradores e eu pai extremoso, lá fui correr atrás da porra de um gerador. Comprei, paguei a prazo, uma nota federal e falta de luz mesmo, só pela televisão. Aí se inventou o imposto de emergência, para financiar mais incompetência, muitas desculpas e quem entrou pelo cano como de praxe fomos nós, os colonos.
Para não ficar só no lamento, semana passada eu fui à delegacia de proteção ao meio ambiente com “minhas” duzentas e vinte seringas, ampolas de sangue, cateteres e demais resíduos hospitalares recolhidos nas lagoas da baixada de Jacarepaguá e de noite para arrematar fiz uma reunião na qual, apesar de convidados por meio dos meios de comunicação (emissoras de tv e jornais) nenhuma “auturidadi” apareceu, a não ser a delegada titular da delegacia de meio ambiente. Confesso que me senti meio idiota falando para aquelas pessoas naquela quinta-feira, num auditório quase vazio. Aquilo era exatamente o reflexo nítido de nossa nação, digo colônia. Gritava com as fotos dos supostos legados, engodo para os otários contribuintes, que de um orçamento estimado em 300 milhões de reais os investimentos para esses tais de jogos Pan Americanos já pularam para coisa de CINCO BILHÕES DE REAIS. Isso numa cidade abandonada, sem segurança, sem hospitais, sem saneamento básico, com um verdadeiro processo de metástase adiantado no tecido urbano-ambiental e moral. Lembro da absolvição dos canalhas mensaleiros e sangue-sugas, da reeleição de vários dos canalhas nas últimas eleições, acompanho a elevação dos salários dos deputados federais em quase 100% do atual vencimento, do cefalópode botando no um sexto de ambiente a culpa pela falta de infra-estrutura para o crescimento do país. Falta-me o ar, sinto que estou pirando. Respiro, e o silêncio, a apatia dos milhões de cornos mansos que só fazem pagar impostos para manter essa corja a continuar a parasitar a colônia quase que me ensurdece. Não há como escapar do destino fecal, digo fatal, de uma colônia propositadamente sem educação com qualidade, com bolsa família, sistema de cotas e todos os demais mecanismos de emburrecimento e assistencialismo existentes. Não há como escapar do colapso. É só uma questão de tempo. E o tempo se esgota na colônia do apagão. Bom Natal. |
||
Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
| eventos | ongs | universidades | página inicial |
A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade dos mesmos