HONRA, DISCIPLINA E DIGNIDADE
Sempre
gostei muito de cinema. Posso dizer que fui criado dentro deles. Inicialmente
levado por minha irmã e meu pai e posteriormente na maioria das
vezes indo sozinho nas famosas pré-estréias do falecido
Art Copacabana ou com as namoradas e amigos em horários menos esotéricos.
Mas voltando
aos 300 e comparando com nosso modelo de nação pindorâmica,
olho em volta e cadê a tal “Honra, Dignidade e Disciplina”
? Sparta, segundo os historiadores, era um vilarejo que diferente das outras cidades-estado não possuía muralhas, visto que quem quisesse alimentar alguma idéia mais arrojada de dominação daquele pessoal, já sabia que ia dessa para uma outra melhor, pois lá não haveria moleza. Aí lembro da época que eu morando com meus pais em Copacabana, vinha da escola e entrava na portaria da Figueiredo Magalhães 304 sem a mesma estar nunca trancada e quando dava de entrar pelos fundos a entrada da garagem também ficava aberta dia e noite. Isso era em lá por volta de 1977, mas de repente um dia encontrei tanto a portaria fechada como a entrada da garagem trancada. Alguma coisa estava mudando, rápido e para sempre na minha relação com a cidade e com seus moradores. O medo de lá para cá só fez crescer, junto com as portarias fechadas, gradeadas, com seguranças, cercas eletrificadas, câmeras nas portarias, nos elevadores, com portas blindadas, com leitores digitais, leitores de córneas, carros blindados, com a proliferação crescente e absurda de escândalos envolvendo políticos, espertalhões milionários, sem qualquer punição na maioria dos casos, seqüestros, balas perdidas e achadas e medo crescendo, sempre e sem parar.
Afinal penso entre uma carnificina e outra, que merda de gente nós somos? Recuamos tanto diante do lixo que vimos e vemos que a proliferação de fobias engorda as indústrias farmacêuticas de antidepressivos e calmantes, controlando a resposta por tanto medo, Medo de tudo e de todos, sem que de fato nós enfrentemos o monstro que nossa apatia, nossa falta de HONRA, DISCIPLINA E DIGNIDADE para com nosso presente e o futuro de nossos descendentes, escravos do medo, que nos tornamos algo indefinível, amorfo, sem gosto e inodor. A sociedade do “tanto faz”, do “não vai adiantar mesmo”, do “deixa para lá” e vamos desabando como mortos vivos, indecentemente irresponsáveis pelas indecências cometidas pelas nossas ações e omissões. Não foi à toa que no filme dos 300 o grande traidor de Sparta, estrupador da rainha, era um político comprado por um saco de medalhas com a efígie do deus-rei persa. Cada vez mais fica claro que a classe política tanto aqui como por todo o planeta vai sendo identificada como do que há de mais podre na espécie humana, desprovida de qualquer Honra, Dignidade e Disciplina, salvo as estatísticas exceções de praxe. Sinto nesta Páscoa, onde a maioria nem sabe pelo que, nem para que, se fica em casa, é que precisamos alimentar em nossos corações HONRA, DISCIPLINA E DIGNIDADE contra as hordas de inimigos que insistem em destruir e pilhar nossos recursos naturais, que insistem em degradar nossas lagoas, nosso ar, alimentados exclusivamente pelo nosso medo e apatia. No dias
em que a cristandade lembra do martírio e da ressurreição
de Cristo é que os ecos do futuro exigem de todos nós,
cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, agnósticos
e de todos que têm algum compromisso com o futuro: HONRA, DISCIPLINA
E DIGNIDADE! |
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Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
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