Meio Ambiente bocadomangue Mario Moscatelli

“SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA”
Sr. Luís Inácio da Silva - O GLOBO – 16/04/07 – Pág. 4 - coluna do Sr. Ricardo Noblat

Bem que meu médico sempre me recomenda: “Deixe de lado essa mania de ler jornal no banheiro. Faz mal. Você ainda vai acabar tendo hemorróidas além de ficar deprimido....”.

Pois bem, como péssimo paciente que sou, lá fui eu ao banheiro nesta segunda, dia 16 de abril de 2007, com o jornal nas mãos. Sentei no trono e de cara peguei esse magnífico posicionamento de nosso estadista tupiniquim: “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA”. Como é que é? E aí foi pipocando na minha cabeça sem parar “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA” “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA”.

O que mais dizer do que já foi dito ou demonstrado nos últimos anos de nossa “mui querida” classe política brasileira e de nosso “não sei de nada”?

Só para relembrar, nossa colônia é responsável em números redondos por algo de 20% de todos os organismos vivos desse planeta. O detalhe é que os 20% dizem respeito à apenas 1.750.000 espécies conhecidas, isto é um pouco mais de 10% das 14 MILHÕES de espécies que se supõe que existam de fato.
Então entendemos que nossa colônia é uma potência biológica megadiversa. Muito bem! No entanto na velocidade em que nossa classe política disponibiliza recursos para os centros de pesquisa descobrirem e aplicarem o que poderia ser descoberto de nossa riqueza biológica, congelados hipoteticamente nossos recursos biológicos nesse exato momento, levaríamos OITOCENTOS ANOS para descobrir o que existe em pindorama!

Enquanto isso, depois de terem acabado com o pau-brasil, agora os gringos do momento, muito bem assessorados, exportam pererecas, microorganismos e sabe-se lá mais o que, que provavelmente serão os remédios, devidamente patenteados que nós subdesenvolvidos vamos pagar a preço de ouro.

SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA

Os variados ecossistemas “em pé”, como já repetiram inúmeras vezes, milhares de entendidos no assunto, vale muito mais e por muito mais tempo do que os pastos, as imensas monoculturas de soja e mais uma vez de cana, esse último voltado para a produção do etanol.

Em plena queda livre de toda a humanidade no inferno do aquecimento global, na maior onda de extinção de espécies dos últimos milhões de anos, o mandatário do único país que tem por nome uma árvore, desdenha do seu órgão ambiental federal, que por acaso é o responsável pela execução da política de meio ambiente do governo federal.

Por outro lado fiquei feliz com a declaração do nosso “guia presidencial”. Se o IBAMA está incomodando tanto assim à nossa “santidade presidencial”, provavelmente deve estar fazendo o trabalho direito, não “abrindo as pernas” para os interesses imediatistas dos amigos da patota dirigente. Isso é bom!
Mas por outro lado, como também é possível, a excessiva morosidade do órgão público pode estar prejudicando importantes investimentos. Neste caso, visando ajudar nosso “pai dos pobres”, sugiro que já passou da hora de transformar o IBAMA num exemplo de eficiência, tanto por meio da melhoria dos salários, como da contratação de mais funcionários e equipamentos que tornem o IBAMA no órgão moderno e fundamental em relação ao patrimônio maior dessa terra, chamado biodiversidade.

Sei que todo esse desabafo, adianta de pouca coisa na rota de colisão que tanto localmente como globalmente, nossa classe política míope e genocida, traçou e que a maior parte de nossa sociedade por falta de informação e ou interesse têm seguido.

Finalmente, gostaria de dizer ao Senhor Presidente que se eu pudesse:
1-Acabaria com todos os políticos demagogos, assistencialistas, fisiologistas e corruptos;
2-Investiria todo o dinheiro à disposição em educação, saneamento básico, habitação, transporte seguro e de qualidade bem como no tão indesejado pela classe política, planejamento familiar;
3-Possibilitaria economicamente para que todos os centros de pesquisa investigassem nossa biodiversidade e sua aplicabilidade econômica;
4-Fortaleceria o IBAMA tornando-o peça fundamental na proteção de nossos recursos naturais bem como na garantia da qualidade de vida nossas futuras gerações;
5-Acabaria com esse negócio de reeleição.
E aí me vem na cabeça, a frase de nosso “estadista”: “SE EU PUDESSE, ACABARIA COM O IBAMA”. Ninguém merece ter de ler uma merda dessas em plena segunda-feira.
Enquanto isso, as florestas ardem, os esgotos sem tratamento invadem os rios e milhares de crianças em vários estados, não começaram ainda o ano letivo de 2007. Assim mais uma horda de tecnicamente analfabetos é gerada para a manutenção das coisas como elas devem continuar a ser.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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