Meio Ambiente bocadomangue Mario Moscatelli

POBRE SEPETIBA

Lá fui eu voando sobre a baía de Sepetiba. Há muito tempo não me aventurava por aqueles lados. Muitas restrições de vôo devido o funcionamento da base aérea de Santa Cruz, com os treinamentos militares que dificultavam minhas incursões aéreas por aquelas bandas.

Pois bem o resultado não poderia ser outro daquele esperado. Pegando uma maré baixa daquelas, onde até Iemanjá acabou ilhada no meio do extenso lamaçal que se tornou boa parte das margens daquela baía o que se vê lá de cima não há foro privilegiado que pudesse suportar o que fazem com aquele outrora paraíso da pesca.

Com o maior manguezal do município do Rio de Janeiro sob a tutela do governo do estado na unidade de conservação denominada Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba, a paisagem vista do alto é alentadora, paradisíaca, onde manguezais são entrecortados por rios em zigue-zague, onde os braços de mar que penetram nos manguezais têm seus fundos formados por areias brancas, onde os maiores apicuns do estado se entrelaçam aos bosques de manguezais e com as “pradarias” verdes e roxas de salicornias.

É bonito mesmo de se ver o potencial ambiental e ecoturístico daquele patrimônio que só está ainda inteiro em virtude da presença do exército. Fosse a vontade política de nossas promíscuas “auturidadis” o mangue, o apicum e o que existisse, já teriam virado mais outra gigantesca favela.

Falando em favela, passando pelo rio Cabuçú-Piraquê, o pobre apicum e o manguezal que existiam do lado de lá da reserva viraram, é claro, mais uma grande favela, que apesar como de outras, já devidamente denunciadas, cresceram felizes, felizes, sem qualquer providência prática de nossas excelências “auturidadis”. O apicum inclusive situado mais próximo da margem da baía está sendo organizadamente loteado sem qualquer intromissão dos poderes constituídos.

O rio Cabuçú-Piraquê por sua vez deixou de ser rio como todos os demais rios, canais e drenos, dali até a altura da base aérea de Santa Cruz, para se transformarem na rede de esgoto da região, que é claro, até hoje, nem sabe o que rede de esgoto.

Pois bem, cresce a população de qualquer jeito, se ajeita como pode e a tal da merda de cada dia tem que ir parar em algum lugar, sendo o destino final de todo aquele patê, a baía de Sepetiba.

Inclusive na praia das Brisas a arrumação da prefeitura, criou um novo tipo de deque. O deque côcô, visto que por baixo de cada um deles deve sair uma tubulação teoricamente de águas pluviais que bucolicamente despeja é merda, dia e noite na praia.

É apocalíptico ver aquela quantidade de barcos adernados na lama, no meio do esgoto, cansados de esperar alguma ação que além de enfeitar o defunto, tente de fato ressuscitá-lo.

Paro e penso lá de cima que tudo que vejo não é nenhuma novidade, daí até a dificuldade de alguém da imprensa se interessar em colocar no ventilador, principalmente quando estamos na escolha das sete maravilhas do estado e eu encontrando só merda para denunciar.

Chega a ser um espetáculo, digamos visualmente violento, a foz dos rios despejando, ou melhor, vomitando esgoto na baía como um intestino grosso soltando  aquilo numa latrina, sem parar, dia e noite, sem parar.

Vejo aquele remador, lutando para tirar seu barco do encalhe, no meio do esgoto e da lama. Sobrevôo o mesmo diversas vezes até que ele me faz aquele ato obsceno do top, top, top. Tenho de concordar com a zanga dele. Realmente o cara está na merda.

POBRE SEPETIBA

Pobre baía de Sepetiba, pobre baía de Guanabara, gigantescas cloacas, frutos de nossa incompetência histórica e da ladroagem desta outra merda chamada de “puder púbico”.

Pouco a acrescentar além das imagens em anexo.

Ia esquecendo. A favela de Vargem Pequena manda lembrança para todos os otários que pagam impostos na cidade do Rio de Janeiro, pois apesar de denunciada em jornal de maior circulação em nossa cidade, os barraquinhos de madeira bem ordenados, um do lado do outro, com telhado de zinco, crescem felizes sobre o brejo, sem serem incomodados, igualzinho a ampliação da favela do canal do Cortado, atualmente devidamente consolidada, graças a omissão explícita de nossas “competentes auturidadis”.

Que bom!

Esse é um país que vai para frente! Oh, Oh, Oh.......

De uma gente tão contente! Oh, Oh, Oh.......

Tá achando graça?

Então continua sem fazer nada.

para ver o relatório de monitoramento ambiental do mês de agosto, clique aqui!
POBRE SEPETIBA

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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