OMISSÃO, CORRUPÇÃO OU GUERRA

OMISSÃO, CORRUPÇÃO OU GUERRA

Desde 1989 minha relação com o poder “público”, digamos é a pior possível.

Antes eu ainda acreditava que tendo as pessoas certas, nos locais certos, na hora certa, as coisas poderiam se acertar e todos os desmandos que eu acompanhava em Angra dos Reis como a destruição dos manguezais devidamente consentida pelos órgãos ambientais da época poderia ser neutralizada e revertida. Os corruptos seriam punidos e a paz enfim reinaria.

Hoje dou gargalhadas amargas lembrando tamanha simplicidade de pensamento. Coisa de Star Wars.

O que estava e continua a nossa frente é um monstro de inúmeros tentáculos que mistura partidarismo político, assessores de porra nenhuma, omissão, consentimentos, toma lá da cá, paralisia, falta de massa crítica e muita, muita confusão proposital, visando dividir e iludir o que já está mais do que catatônica que é nossa massa crítica e seu poder de reação.

Os exemplos me saltam aos olhos.

1-A construção da estação de tratamento do arroio Fundo que foi colocada para funcionar precariamente para os jogos Pan e Para Pan Americanos, logo após a finalização dos jogos foi paralisada. O ministério dos esportes diz que a prefeitura do Rio de Janeiro não fez a contra-partida esperada e a prefeitura diz que já fez e o ministério é quem não vê o que foi feito. Enfim aquela história de empurra de sempre, onde quem se FODE DE VERDE E AMARELO é o ambiente que no caso é o sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá e a qualidade de vida dos moradores da região.

O que eu mais estranho é que a não ser pela minha insistência pessoal sobre a necessidade da continuação das obras que aliviariam uma boa parte de esgoto in natura que escorre para o sistema lagunar e o eutrofiza gerando as explosões demográficas de cianobactérias, ninguém, nem os futuros moradores definitivos da vila do Pan se mexem nem para dar um pio!

2-As favelas que foram denunciadas num estágio embrionário no ano de 2006 já se consolidaram e de lá ninguém mais tira. Enquanto isso, novas favelas são identificadas em 2007, denunciadas e mais uma vez ninguém faz nada. A prefeitura, o ministério público, enfim as autoridades constituídas e pagas com o meu e o seu dinheiro, aparentam um adormecimento generalizado. Caso estejam fazendo algo, lamento informar que o resultado prático tem sido o estímulo para o clima “Joana Mother´s House”, pois o monstro da ocupação desordenada só faz crescer.

3-Fruto da zona institucionalizada e regada com uma carga estelionatária de impostos, nossas conhecidas cianobactérias chegaram antes à praia da Barra da Tijuca. Produzidas na laguna de Jacarepaguá e já escorrendo pela laguna do Camorim para a Tijuca há três semanas passadas, a chuva do final de outubro, foi o que se precisava para que as “ciano” chegassem à praia alcançando as ilhas em frente ao quebra-mar, com uma macha verde de 2.5 quilômetros de largura por 3.5 de comprimento. Lá do alto, era claro o percurso seguido pelas cianobactérias.

Causa e efeito: Deixa a "cumunidadi crescê", enche o rabo de votos, e que se ferre quem precisa de trabalhar usando o carro.

Avisada pelos órgãos de imprensa a FEEMA, salvo engano, nada sabia do gigantesco vazamento da sexta, pois tinha feito avaliações na quarta sem ter detectado nada de anormal. Mesmo avisada do problema, salvo engano, apenas fará novas análises na segunda, estando o final de semana por conta e sorte dos usuários da praia.

Reitero que num passado não muito distante foi assim durante as mortandades de peixes na laguna Rodrigo de Freitas que enquanto o esgoto sufocava peixes e crustáceos técnicos negavam-se em confirmar os lançamentos que ocorriam para quem quisesse ver.

Destaco que gostaria de saber os dias, horários e locais onde são efetuadas essas análises, pois, muito bem sei que dependendo desses elementos, podemos ter dados completamente diferentes da realidade que atinge os banhistas numa baixa-mar contra uma preamar de sizígia.

4-Os manguezais de Duque de Caxias vêm sendo exterminados por lixões, pela expansão de terrenos industriais e favelas bem como pela eliminação de chorume por parte dos lixões e parece que tudo que se vê do alto não está acontecendo, ou acontece numa realidade paralela, a minha realidade.

5-A laguna da Tijuca com a recente seca que, atordoou por quarenta e cinco dias minha cidade se transformou num canal raso e imundo cercado por lixo, sofás e pneus. O mau cheiro é impressionante quando junto ao gás sulfídrico e metano proveniente da água anóxica, se junta o odor da lama sob a ação do sol e do lixo depositado sobre a mesma.

Lembro do “Sorria você está na Barra”, enquanto a laguna da Tijuca morre e a prefeitura constrói um novo teatro municipal, a “Cidade da Música” na cidade sem hospitais decentes, sem ruas decentes, sem unidades de conservação municipais decentes, sem praticamente políticos decentes.

6-Finalmente tomada por cianobactérias, a lagoinha das Taxas, com as fortes chuvas expulsou seu conteúdo tóxico pelo canal das Taxas para a parte final da laguna de Marapendi, unidade de conservação municipal entregue a própria sorte, seja pela invasão de espécies exóticas, seja pela contaminação de esgoto, pela falta de fiscalização e pelos incêndios que fragmentam e suprimem as formações residuais de restinga ainda existentes.

Dá claramente a sensação que não vai sobrar nada, nada mesmo.

Aí bundão, não tem mais essa de ficar em cima do muro não, ou ficar na masturbação filosófica e sexual acadêmica dos porquês da destruição ambiental e do comportamento do galho duro do pau mulato.

Acabou caro leitor, assume que você é um bundão ou que está mesmo é a fim de arrumar algum carguinho de aspone, em algum canto e ver a vida passar calmamente, fofocando, puxando o saco do chefe, pois sabe que profissionalmente você é um merda e que no mercado de trabalho você não duraria nem meia hora.

Agora se você não é nada disso aí em cima, não espera não, não há mais tempo, pois a guerra já começou há muito tempo e desse lado tem pouquíssima gente a fim de porrada por algo que realmente tenha valor para nosso breve futuro e para o futuro de todas as crianças.

Como vem se dizendo num filme recente que retrata a guerra do Rio, ou você se corrompe, se omite ou vai para a guerra. Eu já fiz minha opção em 1989, e você?

Caso esteja em dúvida se sua cidade está precisando de você, cheque as fotos do dia 26 de outubro de 2007 para ver o que a maioria dos políticos, os corruptos e os omissos andam fazendo com ela e decida-se.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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