Sapo-dourado: outrora abundante em uma pequena área ao norte da cidade de Monteverde, na Costa Rica, a Incilius periglenes acabou extinta, tornando-se uma espécie emblemática do declínio dos anfíbios.
Sapo-dourado: o mistério de um anfíbio extinto
18/11/2022 :: por Marco Pozzana, biólogo
Endêmico de um pequeno trecho de floresta nublada — tipo de floresta úmida perene de altitude — da Costa Rica, o sapo-dourado (Incilius periglenes) era uma das cerca de 500 espécies da família Bufonidae, os “sapos verdadeiros”.
O anfíbio, que vivia em um território de cerca de 4 quilômetros quadrados, foi descrito pela primeira vez em 1966 pelo herpetologista Jay Savage. O último avistamento, que foi de um único sapo macho, foi em 15 de maio de 1989.
Em 2004, a IUCN listou a espécie como extinta. A conclusão da entidade foi baseada na falta de avistamentos desde 1989 e na intensa busca feita desde então, sem que o sapo-dourado fosse achado.
Não há evidências concretas do que levou o sapo-dourado para a extinção. Entretanto, algumas hipóteses foram apontadas para o declínio da espécie. As mudanças climáticas e o aquecimento global e suas consequências, estão entre as explicações mais aceitas.
Também acredita-se que um fungo poderia ter afetado as populações. Além disso, era sabido o Incilius periglenes era muito vulnerável pelas características de sua reprodução.
†Incilius periglenes (Savage, 1966)
Sinônimos: Bufo holdridgei; Cranopsis holdridgei
Espécie com evidente dimorfismo sexual, os sapos-dourados machos eram laranja brilhante e às vezes levemente mosqueados na barriga, enquanto fêmeas apresentavam mais cores, incluindo preto, amarelo, vermelho, verde e branco. As fêmeas eram tipicamente maiores que os machos.
O comprimento do corpo variava de 39 a 48 mm nos machos e de 42 a 56 mm nas fêmeas. Os animais passavam a maior parte do tempo em tocas úmidas, principalmente na estação seca. Eles emergiriam no final de março a abril para acasalar nas primeiras semanas em piscinas de água da chuva entre as raízes das árvores, onde também depositavam seus ovos.
Outros nomes: sapo-de-monteverde, sapo-alajuela ou sapo-laranja
Os machos lutavam entre si pelas oportunidades de acasalar com as fêmeas, antes de se abrigar em suas tocas. O tempo médio de vida do sapo dourado é desconhecida, mas outras espécies de anfíbios da família têm uma média de vida que vai de 10 a 12 anos.
O declínio dos anfíbios
Um dos mais antigos grupos de animais existentes no planeta, os anfíbios estão desaparecendo de maneira preocupante, mesmo nas áreas destinadas à conservação. O desaparecimento dos anfíbios está associado à poluição, à perda do habitat ou à caça, mas também à uma ameaça cada vez mais grave, as mudanças climáticas.
A Avaliação Global de Anfíbios (GAA) listou 427 espécies como “criticamente ameaçadas”, incluindo 122 espécies que poderiam estar “possivelmente extintas”. A maioria das espécies, incluindo o sapo-dourado, declinou mesmo em ambientes supostamente não perturbados.
Embora reste pouca esperança para se achar o sapo-dourado em seu pequeno território com vida, vale lembrar que uma outra espécie, também da Costa Rica, o sapo-de-holdridge (Incilius holdridgei), foi declarada extinta em 2008, mas foi redescoberta em 2010.
Fontes e referências:
- IUCN SSC Amphibian Specialist Group. 2020. Incilius periglenes. The IUCN Red List of Threatened Species 2020: e.T3172A54357699. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T3172A54357699.en. Accessed on 15 November 2022. (em inglês).
- Golden_toad – Wikipedia.org (em inglês).
- Pounds, J. Alan; Crump, Martha L. (1994). “Amphibian declines and climate disturbance: The case of the golden toad and the harlequin frog”. Conservation Biology. 8 (1): 72–85. doi:10.1046/j.1523-1739.1994.08010072.x. JSTOR 2386722. (em inglês).
- Richards-Hrdlicka, K. L. (2013). “Preserved specimens of the extinct golden toad of Monteverde (Cranopsis periglenes) tested negative for the amphibian chytrid fungus (Batrachochytrium dendrobatidis)“. Journal of Herpetology. 47 (3): 456–458. doi:10.1670/11-243. S2CID 86276805 (em inglês).