A volta do dodô?: cientistas anunciaram que farão um esforço para recuperar uma ave extinta pela ação do homem há mais de 360 anos nas Ilhas Maurício. A iniciativa divide opiniões.
Volta do dodô da extinção é planejada por cientistas
9/2/2023 :: Marco Pozzana, biólogo
Sempre que é anunciada a tentativa de trazer de volta da extinção algum animal há muito extinto, a notícia gera polêmica e discussão. Isto ocorre porque muitas pessoas acreditam que é melhor investir os recursos para conservar as muitas espécies que se encontram em perigo crítico de extinção do que tentar “ressuscitar” uma espécie que possivelmente não tem mais como se manter na natureza.
Todavia, o dodô, não é qualquer espécie. Tornou-se um animal icônico, eternizado no imaginário popular com sua aparência peculiar e desengonçada após sua extinção no século XVII. Naquela época, muitos sequer imaginavam que um animal poderia desaparecer do planeta para sempre. O acontecimento foi noticiado e trouxe à tona o debate sobre a extinção das espécies, um problema que, hoje sabemos, frequentemente tem o homem como agente causador.
“É fácil pensar que, como resultado da extinção do dodô, estamos agora mais tristes e mais sábios, mas há muitas evidências que sugerem que estamos apenas mais tristes e mais bem informados.” ― Douglas Adams
Desafios na reconstrução do dodô
A Colossal Biosciences, empresa norte-americana de biotecnologia e engenharia genética situada em Dallas, é a responsável por essa desafiadora missão. A mesma que já tinha planos de recriar geneticamente membros de duas famosas espécies extintas – o mamute e o tilacino (ou lobo-da-tasmânia). É importante ressaltar que, caso o projeto seja bem-sucedido, o animal resultante não seria a mesma espécie do dodô, mas uma ave com aparência e características similares, e carga genética aproximada.
Um dos maiores desafios na reconstrução do dodô é um problema da genômica aviária. Com os mamíferos, o processo é semelhante ao usado na criação da ovelha Dolly, o primeiro animal a ser clonado com sucesso a partir de células adultas.
“Não podemos clonar pássaros”. A clonagem requer acesso a um óvulo que está pronto para a fertilização, mas ainda não fertilizado. “Não há acesso a um óvulo de ave no mesmo período de desenvolvimento que há para um mamífero”, conta Beth Shapiro, paleogeneticista líder e membro do conselho científico da Colossal Biosciences. Shapiro, também é professora de ecologia e biologia evolutiva na Universidade da Califórnia.
Em última análise, diz Shapiro, “a versão final do dodô surgirá de um pombo que foi projetado para ter o tamanho de um dodô. Assim, o tamanho dos ovos será consistente”.
Que existe alguma polêmica no campo da bioética que envolve a tentativa de se recriar uma espécie em laboratório, não há dúvidas. Mas o desafio científico é fascinante e, nesse caso, o intuito é buscar reparar um erro histórico da humanidade. Se vamos conseguir superar esse desafio, devolvendo um animal bem próximo do que foi o dodô para a sua ilha nativa, protegendo-a e assegurando que seja capaz de se alimentar e se reproduzir por si mesma, isso só o tempo irá dizer.
Fontes e referências:
- This Company Wants to Bring the Dodo Back From Extinction – smithsonianmag.com (em inglês).
- A ‘De-extinction’ Company Wants to Bring Back the Dodo – scientificamerican.com