Biólogo

Anta, a jardineira da floresta

Anta, a jardineira da floresta: Poucos animais são tão subestimados em seu papel ecológico como a anta (Tapirus terrestris). Valiosa como dispersora de sementes (principalmente de palmeiras), a anta é tida pelos biólogos como a “jardineira da floresta”.

Anta, a jardineira da floresta

13/4/2022 ::  Marco Pozzana, biólogo

Animal essencial para a manutenção da biodiversidade da Mata Atlântica, a anta — maior mamífero terrestre nativo da América do Sul — enfrenta um futuro incerto no Brasil.

Em estudo publicado em janeiro na revista Neotropical Biology and Conservation, biólogos traçaram um panorama da distribuição e o estado de conservação de Tapirus terrestris na Mata Atlântica.

O longo e detalhado estudo levou 15 anos. Foram necessárias visitas em 93 florestas e 217 relatórios de especialistas. Os resultados permitiram aos autores entenderem a situação para a conservação da espécie. 

Embora o cenário não seja muito animador — a anta brasileira ocupa menos de 2% de sua área de distribuição histórica na Mata Atlântica, e poucas de suas populações são consideradas viáveis no longo prazo —, a anta tem demonstrado resiliência. As populações na Mata Atlântica estão estáveis ​​ou mostrando sinais de crescimento, uma situação sensivelmente melhor em relação à poucas décadas atrás.

A “Jardineira” e os buritis

Mamífero não ruminante e frugívoro, a T. terrestris realiza um importante serviço ecológico de dispersão de sementes. Por seu modo peculiar de defecar na água, a anta é especialmente valiosa na manutenção das florestas de palmeiras, principalmente dos buritizais na Amazônia e Cerrado.

Um animal subestimado e incompreendido 

Chamar alguém de anta no Brasil é um xingamento, um modo de dizer que a pessoa é burra. Mas a escolha da palavra é equivocada e infeliz, uma vez que a anta é considerada um animal inteligente, com um cérebro avantajado e complexo, comparável ao do elefante.

Fêmea de T. terrestris no Pantanal. © Allan Hopkins

Amplamente adaptável, a espécie se espalhou pelos trópicos e subtrópicos da América do Sul a leste da Cordilheira dos Andes (Padilla e Dowler 1994; García et al. 2012).

Último representante da megafauna na Amazônia, a anta brasileira se diferencia das outras espécies do gênero Tapirus por apresentar uma crista sagital proeminente e uma crina. Exibe uma probóscide, útil para achar alimento.

Conservação

Exterminada ao longo das encostas mais baixas da serra litorânea no sul do estado do Rio de Janeiro e em partes do nordeste brasileiro no final do século XIX, a anta brasileira ficou confinada na Mata Atlântica.

Foi muito caçada no Brasil, o que a levou a ser listada como ‘vulnerável’ pela IUCN. Embora a caça ilegal nunca tenha cessado, hoje o fator que causa mais óbitos é o numero alto de atropelamentos de antas nas rodovias federais.

Outro desafio para a conservação da T. terrestris é a fragmentação florestal. Os animais ficam isolados em áreas que dificultam encontros com outros grupos. Quando indivíduos da mesma família cruzam, o risco de doenças genéticas e distúrbios causados ​​por genes recessivos é aumentado. Por isso, os biólogos consideram que poucas populações ​​restantes são viáveis. Outro problema vem de sua taxa reprodutiva lenta, muitas vezes com mais mortes que nascimentos.

“As antas persistem em pequenas áreas com populações pequenas e desconectadas que estão longe de estar em um estado seguro de conservação”, diz Emília Patrícia Medici, um dos autores. “A verdade é que a situação é melhor do que no passado, quando as antas foram extintas em muitas partes da Mata Atlântica. A população permaneceu estável nas últimas décadas, mas se não tomarmos medidas cuidadosas, a situação vai piorar.”

Fontes e referências:
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