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Biologia na quarentena

Biologia na quarentena: O desafio de fazer ciência em casa. Estudos avaliam como o isolamento social está mudando a rotina de trabalho de pesquisadores em todo o mundo.

Biologia na quarentena

Maio/2020 :: Bruno de Pierro / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

É cantando que o músico e cientista social Victor Kinjo inicia, de sua casa na zona rural de Mogi das Cruzes (SP), reunião on-line para apresentar reflexões sobre possíveis interferências da epidemia do novo coronavírus nas iniciativas de revitalização de rios paulistas.

Pesquisando na quarentena

A letra da música, composta por ele, fala em “abrir novos caminhos” e vem a calhar com o período de isolamento social, que obriga muitos cientistas a pensar alternativas para atenuar o impacto desse distanciamento em suas vidas e atividades de pesquisa.

“A pandemia tem evidenciado a urgência de algumas questões ligadas aos rios, como abastecimento de água, esgotamento sanitário, assentamentos precários e, por fim, as desigualdades sociais. Portanto, estou enfrentando desafios metodológicos, uma vez que a quarentena limita encontros e pesquisa de campo”, explica Kinjo, que investiga práticas de governança de rios urbanos durante estágio de pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).

O desafio de fazer ciência em casa

Apesar das restrições, a quarentena não significa uma interrupção completa da produção científica, diz Kinjo.

“Estou procurando estreitar laços de colaboração e dialogar com áreas do conhecimento com as quais não costumava lidar, como ciências médicas e da saúde.”

Para ele, os encontros virtuais, realizados por meio de ferramentas como Skype e Zoom, podem ampliar as possibilidades de investigação, mas não substituem atividades presenciais. “Tenho experimentado novos modos de fazer pesquisa, como a etnografia digital e entrevistas a distância. No entanto, as observações de campo e ações de mobilização tiveram que ser adiadas.”

Mudanças na rotina de trabalho dos pesquisadores têm sido relatadas em depoimentos colhidos por Pesquisa FAPESP e publicados na seção Pesquisa na Quarentena desde o fim de março. O desafio de se adaptar à nova realidade é enfrentado por toda a comunidade científica. O isolamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação do vírus Sars-CoV-2, limitou a área de atuação de cientistas que dependem de estudos de campo ou equipamentos de pesquisa para dar continuidade a seus projetos.

Ao mesmo tempo, afastados de tarefas administrativas, muitos pesquisadores relatam ter agora mais tempo para planejar novos projetos.

“Não há como negar que a situação atual está provocando transformações no modo como os cientistas trabalham e na percepção da importância da pesquisa científica pela sociedade. Resta saber se as mudanças serão permanentes”, observa Kinjo.

Impacto da pandemia na comunidade acadêmica

Impacto da maternidade na carreira científica

Com o objetivo de sistematizar uma análise quantitativa do impacto da pandemia na comunidade acadêmica, o portal ResearchGate – mídia social voltada para pesquisadores – aplicou um questionário a aproximadamente 3 mil cientistas de várias áreas do conhecimento de todos os continentes. Observou-se que, para 82% dos participantes, as medidas de isolamento impactam diretamente seus trabalhos. Desse total, 67% declararam conseguir trabalhar remotamente.

O estudo também avaliou como o trabalho em home office é aproveitado pelos cientistas. Cerca de 43% disseram estar conseguindo dedicar mais tempo para fortalecer parcerias ou firmar novas colaborações do que antes do isolamento social. Outros 43% informaram ter tido mais tempo para escrever e submeter manuscritos para revistas científicas, enquanto 45% declararam estar colocando em dia a leitura de trabalhos acadêmicos e fazendo pesquisas bibliográficas. Para 46%, a quarentena tem propiciado a busca por novas ofertas de trabalho.

Acesse o artigo completo da Revista Fapesp > O desafio de fazer ciência em casa

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