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Epidemiologista na Pandemia

Epidemiologista na Pandemia: Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas, fala sobre o esforço de pesquisa para identificar quantas pessoas já tiveram o novo coronavírus

Epidemiologista na Pandemia

Abr/2020 :: Depoimento concedido a Fabrício Marques / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

Há três anos, assumi o cargo de reitor da Universidade Federal de Pelotas [UFPel] e apertei a tecla pause na minha vida científica. Interrompi o vínculo com todos os projetos de pesquisa em que trabalhava para me dedicar 100% ao comando da universidade. Até que surgiu a pandemia do novo coronavírus.

Estudando o novo coronavírus

Eu estava vestindo o chapéu de reitor, mas não dava para fazer de conta que não tinha um outro chapéu guardado, o de epidemiologista. Fiz mestrado e doutorado com bolsas pagas pela sociedade.

O governo fez um investimento na minha formação para que eu estivesse pronto para ajudar em um momento de pandemia. O programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFPel é um dos mais conceituados do país e seus pesquisadores têm uma evidente contribuição a dar nesse momento.

Baixando a curva do coronavírus

Estou coordenando o primeiro estudo feito no Brasil sobre a prevalência da Covid-19 em uma população, a do Rio Grande do Sul, que agora será ampliado para todas as regiões do Brasil. O objetivo é entrevistar e coletar sangue de indivíduos em cidades selecionadas em quatro momentos diferentes, com intervalo de duas semanas entre as coletas.

Sars-CoV-2

Com isso, conseguiremos saber o percentual de pessoas que têm anticorpos contra o Sars-CoV-2, ou seja, que já entraram em contato com a doença, e os sintomas que sofreram. Cada coleta mostrará o retrato de um momento, e a comparação das quatro revelará a velocidade com que o vírus está se disseminando.

Se cada coleta é uma foto, o conjunto das quatro vai mostrar um filme. Adotamos a imagem de um iceberg como logotipo do projeto, uma vez que as estatísticas oficiais mostram apenas a ponta mais evidente do problema.

“Voltei a vestir meu chapéu de epidemiologista”
Coronavírus acelera produção científica
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No estudo do Rio Grande do Sul, os resultados da primeira coleta foram divulgados no dia 15. Foram realizados testes em 4.189 indivíduos em nove cidades do estado, e dois testaram positivo para anticorpos da doença – o que indica uma prevalência de 0,05% na população. Extrapolada para os 11,3 milhões de gaúchos, essa proporção sugere que haveria hoje 5.650 pessoas infectadas no Rio Grande do Sul, e não as 747 oficialmente registradas.

As cidades não foram escolhidas ao acaso, são os principais municípios de cada uma das nove regiões do estado. Depois de um intervalo de duas semanas, haverá outra coleta com mais 4,4 mil pessoas, que se repetirá outras duas vezes. É uma iniciativa tripartite. Um dos polos é a academia – são 10 universidades gaúchas envolvidas sob a liderança da UFPel.

Outro é o poder público. O governo do estado coordena o estudo e o Ministério da Saúde forneceu os testes. E também há a sociedade civil. O financiamento foi obtido com instituições privadas, como a Unimed e o Instituto Cultural Floresta, do Rio Grande do Sul, e o Instituto Serrapilheira, no Rio de Janeiro.

Números da Epidemia

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O Ministério da Saúde solicitou que a gente expandisse a pesquisa para o país inteiro. Em duas semanas, nós preparamos o protocolo da pesquisa e remetemos para o Ministério da Saúde, que fez o repasse de recursos para a UFPel.

Fizemos uma chamada para contratar a empresa que vai fazer as entrevistas e coletar amostras de sangue dos entrevistados e a selecionada foi o Ibope [Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística]. O trabalho será feito em 133 cidades em todas as regiões e cada etapa vai coletar dados e amostras de mais de 33 mil pessoas.

Esses estudos não têm precedentes no mundo em volume da população estudada. 

Acesse o artigo completo da Revista Fapesp > “Voltei a vestir meu chapéu de epidemiologista”

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