Fertilizadores do mar: Baleias e golfinhos são importantíssimos por liberarem nutrientes que fertilizam os microrganismos marinhos.
Fertilizadores do mar
7/12/2020 :: Por Gilberto Stam/Revista Fapesp
As informações sobre os cetáceos nem sempre foram obtidas em expedições e observações em alto-mar. “Comecei na década de 1990 procurando notícias e fotos em jornais antigos e animais encalhados na praia”, lembra o biólogo Marcos César de Oliveira Santos, da Universidade de São Paulo, que estuda a movimentação e os hábitos de golfinhos e baleias no litoral paulista.
Foi assim que ele identificou pela primeira vez no país a orca-pigmeia (Feresa attenuata), de corpo preto e cerca de 2,5 metros de comprimento, e resgatou a foto de uma baleia-franca encalhada no litoral paulista em 1955.
Em seus corpos monumentais, as baleias acumulam muito carbono e podem ajudar a reduzir os impactos das mudanças climáticas. Estudos indicam que, ao longo da vida, uma baleia grande, com até 30 metros, sequestra, em média, 33 toneladas de gás carbônico, que, se liberado para a atmosfera, poderia aumentar o efeito estufa.
Fertilizando os oceanos
Ao morrer, as baleias afundam e o carbono contido nelas permanece durante séculos no fundo do mar. “Ao fertilizar o fitoplâncton, as baleias contribuem com metade da produção do oxigênio que a humanidade respira, proveniente da produção primária do fitoplâncton”, comenta Santos.
Baleias e golfinhos também movimentam o turismo. No Brasil, principalmente de julho a novembro, quem percorre de barco os arredores do arquipélago de Abrolhos, a cerca de 70 quilômetros de Caravelas, ou Porto Seguro, ambos no estado da Bahia, pode ver as baleias-jubarte, uma das espécies que migram das águas geladas da Antártida para a costa brasileira na época da reprodução – outra é a baleia-franca, que aparece no litoral de Imbituba, Laguna e Garopaba, no sul de Santa Catarina.
“O turismo em embarcações deveria ser bastante planejado para não prejudicar as baleias”, recomenda Santos, que exemplifica com um episódio ocorrido em julho de 2012: turistas em um passeio de barco encurralaram sem querer uma baleia-jubarte em uma baía de águas rasas em Arraial do Cabo. A baleia ficou presa entre o costão rochoso e a embarcação, com risco de se ferir nas pedras ou encalhar, até conseguir sair.
No final de outubro, os moradores da cidade irlandesa de Dingle estavam apreensivos com o desaparecimento de Fungie, um golfinho nariz-de-garrafa que transformou o povoado em atração turística internacional desde que apareceu por lá, há 37 anos.
Estudos:
FIGUEIREDO, G. C. et al. Cetaceans along the southeastern Brazilian coast: Occurrence, distribution and niche inference at local scale. PeerJ. v. 8, e10000. 29 ago. 2020.
LODI, L. et al. Rough-toothed dolphins (Cetartiodactyla: Delphinidae) habitat use in coastal urban waters of the South-western Atlantic. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom. v. 100, p. 471-9. mar. 2020.
TARDIN, R. H. et al. Modelling habitat use by the Guiana dolphin, Sotalia guianensis, in south-eastern Brazil: Effects of environmental and anthropogenic variables, and the adequacy of current management measures. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems. v. 30, p. 775-86. 2 dez. 2019.