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baleias jubarte no litoral carioca

Jubarte no litoral carioca: Projeto Ilhas do Rio faz expedições em alto mar para registrar a “fila indiana” de jubartes rumo ao Nordeste brasileiro. Desta vez, conseguiram o primeiro registro de filhote recém-nascido de jubarte no litoral do Rio de Janeiro.artigo original www.biologo.com.br

Estudo com baleias jubarte no litoral carioca

09/8/2022 ::  postado por Marco Pozzana, biólogo – via Projeto Ilhas do Rio

Todo o ano, nos meses de junho e julho, as baleias jubartes podem ser vistas passando pelo nosso litoral, que partem da Antártica para alcançar as áreas de reprodução e cria de filhotes na região Nordeste do Brasil.

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Desde o ano passado, o “corredor migratório” passou a ser objeto de estudo do Projeto Ilhas do Rio, que há mais de uma década já monitora os cetáceos, na região do Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MONA Cagarras) e seu entorno.

Neste segundo ano de expedições em alto mar, a equipe do projeto, conduzido pelo Instituto Mar Adentro-com a curadoria técnica do WWF-Brasile patrocínio da Associação IEP e JGP-avistou mais de 50 indivíduos no litoral carioca, comprovando o uso desta “autopista” de baleias afastada da costa. Segundo Liliane Lodi, pesquisadora do projeto e especialista em cetáceos, o “corredor migratório” ainda é pouco estudado por aqui.

humpback whale gifs | WiffleGif

Este ano, em cinco saídas de campo foram feitas 28 avistagens de grupos, totalizando 58 indivíduos, que passaram em grupos de uma sete animais. Em uma das saídas, foi observado um grupo com 7 baleias-jubarte em associação com 30 golfinhos-flíper interagindo pacificamente.

O mesmo aconteceu em 2021, quando 400 golfinhos foram avistados junto às jubartes. “Mesmo após tantos anos de pesquisa é sempre uma emoção muito forte avistar estes animais. É como se fosse sempre a primeira vez”, comenta Liliane Lodi, pesquisadora do projeto Ilhas do Rio.

A identificação e o lixo na rota das baleias

De acordo com as análises das fotos, 18 indivíduos foram identificados individualmente este ano através de marcas naturais. “As baleias-jubarte podem ser identificadas individualmente através do padrão de coloração branco e preto da região inferior da nadadeira caudal que é único para cada indivíduo, como uma impressão digital ou código de barras. Dessa forma pode-se traçar o histórico de vida desses animais”.

Apesar do sucesso da expedição, nem tudo é para comemorar. Os pesquisadores afirmam que havia muito lixo na rota das baleias: “algo que nos impressionou foi a quantidade de resíduos, o que também vem sendo estudado pelo projeto para entender como esses animais interagem com o lixo marinho”, explica Liliane.

GoPro: Humpback Whale Breach animated gif

Histórico

Há 10 anos os pesquisadores monitoram os padrões de ocorrência, distribuição, comportamento e movimentos dos cetáceos. O estudo, em andamento, já registrou a ocorrência de seis espécies de cetáceos: baleia-jubarte (Megapteranovaeangliae); baleia-de-bryde (Balaenoptera brydei); baleia-franca-austral (Eubalaenaaustralis); orca (Orcinus orca); golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis); e o golfinho-fliper (Tursiops truncatus).

Todas essas espécies estão no litoral carioca, mais especificamente no MONA Cagarras e na área compreendida entre a barra da Baía de Guanabara, praias da zona sul, suas ilhas e adjacências. Esta região é reconhecida pela aliança internacional Mission Blue como um Hope Spot – extensão com grande abundância e diversidade de espécies, habitats ou ecossistemas, com populações raras, ameaçadas ou endêmicas que carecem de proteção-pois é uma área crítica para a saúde dos oceanos.

Monitoramento – Estudo com baleias jubarte no litoral carioca 

O monitoramento é realizado por meio de saídas em barco para as ilhas do MONACagarras e entorno para atualização do catálogo fotográfico dos animais individualmente identificados através de marcas naturais; e análise do histórico de avistagem e reavistagem para determinar a fidelidade de área, residência e movimentos.

Esse trabalho permite a ampliação da análise espaço-temporal da ocorrência, através da plotagem de informações em mapas, possibilitando uma interpretação da sua distribuição, a indicação de áreas importantes para a conservação e a conexão de dados com outras pesquisas e projetos.

As fotografias são examinadas para comparação com as pré-existentes no catálogo de indivíduos identificados através de programas de computador especializados. Os dados das avistagens são georreferenciados para a elaboração de mapas as áreas preferencialmente utilizadas pelos cetáceos. Além disso, os pesquisadores estão mapeando as áreas com redes de pesca para levantar potenciais áreas de risco de capturas acidentais de cetáceos para a elaboração de propostas de conservação.

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Bia Hetzel/Projeto Ilhas do Rio.

O estudo desenvolvido pela equipe da Drª Liliane foi tema de artigo publicado na revista Marine Ecology Progress Series. O texto destacou a influência de variáveis ambientais e antropogênicas no uso do habitat por baleias-jubarte e baleias-bryde na costa da cidade brasileira do Rio de Janeiro.

Os autores usaram técnicas de SIG (Sistema de Informação Geográfica) paramodelar o uso do habitat dessas espécies de cetáceos na orla urbana da cidade do Rio de Janeiro, incluindo os ecossistemas insulares (Lodi e colaboradores, em 2020). De acordo com os resultados obtidos neste estudo, os registros de baleias-jubarte aumentam com a distância da costa.

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