Conservação

Darwin 200 chega ao Brasil

Darwin 200 chega ao Brasil:  o veleiro Oosterschelde chegou ao Rio, último porto em terras brasileiras, dia 4 de novembro, trazendo a bordo jovens conservacionistas do planeta, conhecidos como líderes Darwin (Darwin Leaders). O Projeto Ilhas do Rio foi um dos anfitriões da expedição Darwin200, projeto global que tem a finalidade de refazer os principais pontos da viagem pelo mundo do naturalista inglês Charles Darwin.

Darwin200 chega ao Brasil: unindo jovens conservacionistas do planeta

13/11/2024 – postado por Marco Pozzana via Ilhas do Rio

Com duração de dois anos (2023-2025), o projeto Darwin200 tem o objetivo de percorrer pontos em que Darwin esteve com a expedição do veleiro HSM Beagle, no século XIX (1831 a 1836), que originou a célebre teoria da evolução das espécies, eternizada em seu livro A Origem das Espécies. Baseando-se no legado de Charles Darwin, o projeto visa contribuir com pesquisas científicas e com a conscientização sobre os riscos para a vida planetária em virtude da crise climática global. Entre seus principais objetivos, está o treinamento de 200 jovens conservacionistas com o intuito de torná-los futuros tomadores de decisão na área ambiental, capazes de promover transformações necessárias ao redor do mundo.   

Darwin 200 no Rio de Janeiro

“Participar da iniciativa do Darwin200 faz a gente pensar como era o mundo na época da visita de Darwin. Como os ecossistemas e espécies no Rio de Janeiro estavam em equilíbrio! Mas também faz a gente refletir sobre todas as pressões e impactos que ocorreram para chegar nas mudanças que vivenciamos atualmente”, reflete Aline Aguiar, coordenadora técnica do Projeto Ilhas do Rio.

Oosterschelde 

O navio Oosterschelde começou sua expedição em 15 de agosto deste ano, em Plymouth, na Inglaterra, mesmo local de onde partiu o jovem Darwin, em dezembro de 1831, e já esteve em Tenerife (Ilhas Canárias), Cabo Verde, Fernando de Noronha e Salvador. Na lista de patronas e apoiadoras do projeto Darwin200, estão a etnóloga Dra. Jane Goodall, fundadora do Instituto Jane Goodall e mensageira da paz da Organização das Nações Unidas (ONU), Dra. Sarah Darwin, tataraneta de Charles Darwin, e a bióloga marinha Dra. Sylvia Earle, fundadora da aliança internacional Mission Blue.


A equipe do Projeto Ilhas conheceu de perto a embarcação e realizou uma saída de barco até o MONA Cagarras com a chilena Camila Eugenia Calderón Quirgas (2002), uma das jovens líderes da expedição, para mostrar de perto as pesquisas voltadas para monitoramento das tartarugas e os impactos encontrados na região como poluição, pesca fantasma e presença de espécies exóticas. Também estavam presentes a equipe do ICMBio/ MONA Cagarras, Sarah Darwin e outros integrantes da expedição.

“Com a visita do Darwin200, tivemos a oportunidade de mostrar todo conhecimento que está sendo gerado e todos os esforços de preservação feitos até hoje pelo Projeto Ilhas do Rio para que os jovens “Darwin Leaders” possam desenvolver suas habilidades e levar essa experiência para seus locais de origem. É despertar a curiosidade e inspirar lideranças para a esperança de um mundo melhor”, comemora Aline.

Tartarugas verdes

Uma das grandes descobertas do projeto no MONA Cagarras, que recebeu o título de Hope Spot, pela Mission Blue, foi a presença de tartarugas verdes, historicamente exploradas pela sua carne e ovos, o que fez com que sua população global diminuisse drasticamente. Atualmente, a espécie está classificada como Ameaçada pela Lista Vermelha da IUCN. No Brasil, o status das populações foi recentemente revisado, e as tartarugas verdes são consideradas com status Quase Ameaçado (Portaria MMA Nº 148, de 7 de junho de 2022).

Embora tenha melhorado, a continuidade dos esforços para proteger a espécie e seu habitat é essencial para que sua população não diminua novamente, o que faz com que o estudo feito pelo projeto no MONA Cagarras se torne tão importante, servindo de subsídio para o fortalecimento da gestão na Unidade de Conservação e, consequentemente, a proteção da espécie e do seu habitat crítico.

Durante quase três anos de monitoramento de tartarugas marinhas, a equipe do Projeto Ilhas do Rio registrou muitas ameaças para os indivíduos tartaruga verde. Mesmo dentro dos limites do MONA Cagarras, muitos detritos marinhos foram registrados próximos aos locais de descanso dos indivíduos. Linhas de pesca, anzóis e redes são comumente observados dentro da Área Marinha Protegida . Além disso, os sacos de plástico são uma ameaça constante devido ao risco de ingestão acidental ou enredamento corporal.

MONA Cagarras

Apesar de todo o impacto sofrido pela poluição e a proximidade com uma metrópole, a região do MONA Cagarras e outras ilhas próximas ainda preservam uma rica biodiversidade. Já foram registrados mais de 280 espécies de peixes recifais, como, garoupas, robalos, pargo, linguado, arraias, entre outras. De acordo com as pesquisas, só a região do Monumento Natural compreende 65% das espécies encontradas na área, com 58 táxons exclusivos, mostrando a relevância desta Área Marinha Protegida para a conservação dos peixes recifais.

Ilhas Cagarras
Ilhas Cagarras

Os estudos também avaliaram o lixo marinho e a presença de espécies exóticas de coral sol e seus efeitos na comunidade de peixes de recifes. Baseado no monitoramento de dados desde 2020, as pesquisas mostraram que a presença do coral-sol impacta negativamente a comunidade de peixes. Portanto, há a necessidade de implementação de estratégias para controlar o estabelecimento e disseminação de coral-sol ao longo da costa, principalmente dentro de áreas protegidas.

Esperança nas Águas
foto: Caio Salles

Desde dezembro de 2022, o ICMBio, Órgão Gestor Federal responsável pela Unidade de Conservação, implementou um projeto para controlar a presença da espécie invasora através da remoção física dos mesmos no MONA Cagarras. Após removidas, as colônias são acondicionadas em samburás ou caixas plásticas e transportadas até o navio, onde são pesados, classificados por espécie e contados. Posteriormente, são destinados para fins ambientais atividades de educação e pesquisa ou descartados adequadamente como resíduos sólidos.

Este método seletivo apresenta uma possibilidade muito baixa de impactos negativos no habitat ou espécies nativas. Desta forma, com o controle constante, espera-se reduzir a pressão de novos indivíduos de coral sol e minimizar os efeitos negativos sobre os recursos naturais e ecossistemas protegidos pela Unidade de Conservação.

VIAGEM DE DARWIN
A viagem de Darwin
A viagem de Darwin

Recém-formado em Cambridge, Darwin tinha 22 anos quando embarcou rumo ao Hemisfério Sul no navio HSM Beagle, que estava a serviço da marinha real britânica para cumprir, entre os principais objetivos, levantamentos de dados geográficos e hidrográficos da Terra do Fogo, um arquipélago localizado na extremidade sul da América do Sul, e da costa sul deste continente. No dia 27 de dezembro de 1831, o veleiro deixou a Inglaterra rumo ao seu destino, sendo que a sua primeira parada foi em Cabo Verde, em janeiro de 1832. Lá, o naturalista começou a coletar material da flora e fauna.

Nos portos onde o veleiro atracava, Darwin aproveitava para enviar suas amostras, que eram desidratadas ou conservadas em álcool, para a Inglaterra aos cuidados de John Stevens Henslow, que tinha sido seu professor de botânica no Christ’s College, em Cambridge. Os materiais eram distribuídos por Henslow a vários especialistas para análise. Quando o naturalista retornou à Inglaterra, em 1836, ele já era um cientista conhecido.

Praticamente toda a costa da América do Sul, da Bahia ao arquipélago de Galápagos, no Equador, com paradas no Uruguai, Argentina, Chile e Peru, foi explorada pela expedição. Mas não foi a bordo do veleiro que Darwin ficou a maior parte do tempo. Em cinco anos de expedição, ele permaneceu 18 meses no mar e um total de três anos e um mês em terra firme. O retorno do navio HSM Beagle à Inglaterra foi pela Austrália, seguindo pelo Oceano Índico e África do Sul. 

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