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Reprodução de meros

Reprodução de meros: o Projeto Meros do Brasil atua para viabilizar uma experiência pioneira no Brasil e desafiadora: a reprodução de mero-preto, uma espécie ameaçada, em ambientes artificiais. artigo original www.biologo.com.br

Reprodução de meros em cativeiro pode ocorrer em breve

16/8/2022 ::  postado por Marco Pozzana, biólogo via Meros do Brasil

O Projeto Meros do Brasil fechou uma parceria com o Aquário de São Paulo, que disponibilizou um tanque oceanário, de aproximadamente 160 mil litros, proporcionando condições ideais para a manutenção de um grupo de matrizes com seis meros. Desta forma, será possível acompanhar o crescimento e a manifestação dos comportamentos reprodutivos da espécie. 

Meros
Meros agregados © Áthila Bertoncini – Meros do Brasil

A formação do plantel do Aquário de São Paulo está sendo feita com o auxílio de pescadores artesanais parceiros, responsáveis pela coleta das amostras, o que permite envolver a comunidade pesqueira nas ações de pesquisa, ampliando o acesso ao conhecimento local.

Com o avanço das pesquisas, espera-se, enfim, responder a uma série de perguntas ainda em aberto na ciência para a espécie, tais como: de que forma ocorre a formação do plantel em cativeiro num ambiente artificial? Os meros poderão se reproduzir neste  ambiente?

CONSERVAÇÃO DOS MEROS NO BRASIL

As parcerias com instituições do Brasil e Colômbia visam a realização de estudos pioneiros  no país  para as primeiras tentativas de reprodução da espécie em cativeiro.

Raras imagens de meros
Mero e mergulhador © Áthila Bertoncini – Meros do Brasil

De acordo com o professor, pesquisador do Instituto de Pesca, Dr. Eduardo Gomes Sanches, que é coordenador do Meros em São Paulo e responsável por esta pesquisa , “apesar do grande conhecimento e das expressivas conquistas acumuladas em todos estes anos de esforços de pesquisa, um dos grandes desafios que enfrentamos ainda, é a formação de um plantel, ou seja, de um cardume de reprodutores”. 

À vista disso, para avançar nas pesquisas, recentemente o Projeto Meros ganhou dois  grandes aliados: no Brasil, o Aquário de São Paulo e na Colômbia e o Oceanario Islas del Rosario. 

Inaugurado em 2006, o Aquário de São Paulo é o primeiro aquário temático da América Latina. Com um total de 15 mil metros quadrados e 4 milhões de litros de água, o espaço abriga milhares de animais de centenas de espécies, mantendo-se como referência em tratamento, bem estar e manejo de animais. A parceria vai permitir o acompanhamento do crescimento e a manifestação dos comportamentos reprodutivos dos meros. O tanque Oceanário conta com um volume de aproximadamente 160 mil litros, o que proporcionará condições ideais para a manutenção de um grupo de matrizes com seis meros.

“O Oceanário fica no circuito de visitação e desta forma temos a chance de ampliar as ações em parceria com o Aquário para além da ciência, potencializando também atividades de educação e sensibilização ambiental, já que mais pessoas poderão ver um mero, conhecê-lo e possivelmente compreender a importância da conservação desta espécie ameaçada”, destaca Sanches. Anualmente, o Aquário recebe mais de 550 mil visitantes. 

Cooperação

Já, a cooperação internacional com o Oceanario Islas del Rosario, na Colômbia possibilita um novo intercâmbio de informações técnico-científicas e contribui para o fortalecimento da rede de conservação da espécie Epinephelus itajara integrando conhecimentos em uma área distinta de sua ocorrência. 

“O mero é uma espécie com ampla distribuição, ultrapassando fronteiras. Em cada local suas populações enfrentam realidades distintas, e conhecer essas diferentes realidades de conservação, políticas e pesquisas, pode auxiliar na definição dos rumos futuros quanto à conservação e estudo da espécie no Brasil”, explica o professor Sanches. 

Reprodução de meros em cativeiro
© Meros do Brasil

O Oceanario Islas del Rosario está instalado em uma ilha que faz parte do arquipélago de Barú, localizado a cerca de 50 quilômetros da cidade de Cartagena. A instituição é pioneira na pesquisa de aquicultura de peixes marinhos na Colômbia, e é a única em todo o mundo que conseguiu reproduzir e manter larvas, juvenis e agora adultos de mero. 

Para Sanches, conhecer a estrutura de trabalho do Oceanário nos mostrou que o Laboratório de Piscicult ura Marinha do Instituto de Pesca, em parceria com o Projeto  Meros do Brasil, está no caminho certo. “Nosso conhecimento em inversão sexual e criopreservação de sêmen de meros e outras garoupas surpreendeu a equipe do Oceanário que ficou muito interessada em utilizar estas técnicas em futuras ações. Além disso, o domínio da ferramenta da hematologia (estudo de componentes sanguíneos) aqui no Brasil, referência para identificação do estado sanitário, nutricional e reprodutivo dos meros, foi alvo de grande admiração, visto que o Oceanário nunca havia cogitado sua utilização”, destaca.

O litoral brasileiro
O litoral brasileiro
Gigantes do mar

Seguindo essa linha de novas possibilidades com o avanço das pesquisas, espera-se, enfim, responder a uma série de perguntas ainda em aberto na ciência para a espécie, tais como: de que forma ocorre a formação do plantel em cativeiro num ambiente artificial? Os meros poderão se reproduzir neste ambiente?

Uma vez respondidas essas questões, será possível desenvolver outros estudos complementares para trazer novas informações acerca de práticas de bem-estar animal, do comportamento reprodutivo dos meros e de outros aspectos que ampliarão o conhecimento de todos sobre esses gigantes do mar.

É importante destacar que para a formação do plantel do Aquário de São Paulo, as coletas dos exemplares estão sendo realizadas com o auxílio de pescadores artesanais parceiros, o que permite envolver a comunidade pesqueira nas ações de pesquisa, ampliando o acesso ao conhecimento local “O conhecimento científico precisa ser disponibilizado para as comunidades tradicionais, assim como os saberes destas comunidades precisam integrar as ações de conservação. Somente assim poderemos garantir a presença dos meros nos estuários e oceanos para as próximas gerações” conclui Sanches.

Aquacultura – reprodução de meros em cativeiro pode ocorrer em breve
Aquecimento dos oceanos
Aquecimento dos oceanos

Todas as etapas do componente de aquacultura desde 2012 até aqui, assim como a coleta dos meros, são realizadas mediante a licença concedida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por se tratar de espécie ameaçada e que possui portaria específica que proíbe a captura, transporte e comercialização.

Os estudos de reprodução sob cuidados humanos, conduzidos pelo Projeto Meros em parceria com o Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca de São Paulo e o Aquário de São Paulo, são realizados exclusivamente com a intenção de responder às questões que seguem em aberto na ciência para a espécie e não de repovoamento em ambiente natural, visto que esta é uma prática não permitida por lei no Brasil.

SOBRE O PROJETO MEROS DO BRASIL – Criado em 2002 em Santa Catarina, o Projeto Meros do Brasil atua hoje em nove estados do país (Pará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina) com o objetivo de garantir a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros, e do peixe mero, que é considerada a maior espécie de garoupa do Oceano Atlântico. Devido à destruição de seus habitats, sobrepesca e poluição, a espécie é considerada Criticamente Ameaçada de Extinção e está protegida integralmente há 19 anos. Desde então, em quase duas décadas de atuação, o Meros do Brasil consolidou o seu trabalho e tem oferecido os principais subsídios para a recuperação das populações de meros na costa brasileira.  Para mais informações visite merosdobrasil.org 

Fontes e referências:
  • Projetos Meros do Brasil – merosdobrasil.org/
  • Bertoncini, A.A., Aguilar-Perera, A., Barreiros, J., Craig, M.T., Ferreira, B. & Koenig, C. 2018. Epinephelus itajara (errata version published in 2019). The IUCN Red List of Threatened Species 2018: e.T195409A145206345. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T195409A145206345.en. Accessed on 17 August 2022. (em inglês).

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