Biologia marinhaConservaçãoIctiologiaZoologia

Imagens raras de meros

Imagens raras de meros: Pesquisadores do projeto Meros do Brasil avistam agregação da espécie em Santa Catarina pela primeira vez no ano. Fenômeno raro de ser observado, conhecido como período de reprodução da espécie de peixe, acontece anualmente durante o verão.

Imagens raras de meros

19/3/2021 ::  Por Josué Fontana

Após um ano de pandemia e de atividades paralisadas, pesquisadores do “Projeto Meros do Brasil”, patrocinado pela Petrobras, enfim, retornaram suas atividades e, pela primeira vez, em 2021, conseguiram presenciar uma agregação reprodutiva da espécie.

Meros
Meros agregados © Áthila Bertoncini – Meros do Brasil

A avistagem foi feita nesta quarta-feira (17), durante a instalação de um receptor (utilizado pelo projeto para monitoramento dos peixes), em São Francisco do Sul, Santa Catarina. Para sorte dos pesquisadores, foram avistados oito meros, o que, nos tempos de hoje, é um número para se comemorar. 

Desde 2014, o mero entrou para a lista vermelha de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente/ICMBio (2014) e, em 2016, como globalmente vulnerável de acordo com a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). Em 2015, a Portaria N° 13 (MPA/MMA) passou a proteger os meros, estabelecendo a proibição da sua captura, transporte e comercialização em território nacional.

“Flagrar uma agregação já é algo que exige muita sorte, pois temos que estar no local certo, na hora certa. No passado, essas agregações chegavam a reunir centenas de meros, porém, hoje, com a pesca predatória os números foram ficando cada vez menores”, explica Maira Borgonha, gerente geral do projeto. Em fevereiro de 2012, pesquisadores do Projeto Meros do Brasil avistaram, no mesmo local, entre 45 e 50 peixes.

Período de reprodução

ROV - Expedição científica descobre quatro novas espécies de peixe em Fernando de Noronha
Leia também: Monitorando a saúde dos corais

Ainda não se sabe se a redução se dá pela extinção ou pelo período de reprodução. “Agora, março, é o fim do período reprodutivo deles, o que pode justificar esse número menor. Por isso que o monitoramento é tão importante, pois só comparando os dados ano a ano é que conseguimos saber se a espécie está sendo mantida ou segue ameaçada”, explica Áthila Bertoncini, pesquisador do projeto.

O registro de ontem foi feito durante a instalação de um receptor de telemetria acústica que, a partir de agora, passará a enviar informações sobre o aparecimento de indivíduos já rastreados pelo projeto naquele ponto de agregação.

A técnica, inspirada numa metodologia desenvolvida na Florida State University (FSU) e aprimorada no país pelo Meros do Brasil, consiste na implantação de um marcador (tag) ultrassônico por baixo da pele do animal, que emite um sinal sonoro, que é detectado pelos aparelhos quando próximos do animal.

Movimentação e migração dos meros

Ao todo, o projeto tem nove receptores instalados entre Santa Catarina e São Paulo, englobando: arquipélago de Tamboretes, monoboia, arquipélago das Graças e bota-fora, em Santa Catarina, passando por alguns recifes marinhos artificiais, ilha de Itacolomis e ilha dos Currais no Paraná, chegando até a Ilha da Figueira, em São Paulo. Assim, é possível obter dados sobre a movimentação e migração dos meros marcados entre esses pontos.

Os corais das Bahamas
leia: Corais das Bahamas

Até o momento foram capturados 20 meros, sendo 11 fêmeas, oito machos e um exemplar de sexo indeterminado. Os tamanhos destes indivíduos variaram entre 95 centímetros e 2,10 metros de comprimento. Este último com cerca de 20 anos de idade e aproximadamente 250 quilos. É pela telemetria que o Projeto já conseguiu constatar alguns padrões comportamentais da espécie.

Foi registrado o retorno de mais de metade das fêmeas marcadas aos pontos de agregação durante a época reprodutiva – no verão – em anos consecutivos. Também, foi observado que após este período alguns indivíduos seguem em direção à Ilha da Figueira, no litoral de São Paulo. Estas descobertas são extremamente importantes já que preservar as áreas de reprodução é um fator chave para a conservação da espécie.

Agregações reprodutivas

As agregações reprodutivas do mero ocorrem anualmente no verão, de novembro a março, e são consideradas fator chave na regeneração das populações, mas, infelizmente, também são oportunidades extremamente atraentes de pesca. No caso dos meros, sua lenta taxa de crescimento, maturação tardia (cerca de cinco anos), alta longevidade (até quarenta anos), formação de agregados reprodutivos em áreas rasas (50m) e a alta fidelidade ao hábitat fazem com que esta espécie torne-se altamente suscetível à sobrepesca. Outro fator agravante é que por serem extremamente dóceis e grandes (podem chegar a 2,40m de comprimento), tornam-se presas fáceis no oceano.

Raras imagens de meros
Mero e mergulhador © Áthila Bertoncini: Meros do Brasil

Pertencente à família das garoupas (ao lado do robalo, cherne, entre outros), também conhecido como “Senhor das Pedras”, o mero (Epinephelus itajara) costuma agregar em recifes de mar aberto, especialmente recifes rochosos, naufrágios e recifes artificiais que contenham grandes buracos, cavernas e alto relevo. “Ao longo dos anos, percebemos que a formação das agregações tem acontecido com maior frequência em ambientes artificiais como naufrágios e monoboias, pois são áreas mais protegidas, que oferecem maior abrigo, segurança e alimento” explica Áthila.

Por serem fenômenos altamente dinâmicos, as agregações representam um desafio para a realização de estudos, como por exemplo, a contagem do número de peixes, já que ele pode variar a cada hora ou dia.

Fases lunares

As fases lunares também influenciam as agregações e no litoral brasileiro costumam acontecer durante a lua nova. Também é sabido que são bons nadadores, capazes de migrar centenas de quilômetros para chegar ao local da agregação (um mero marcado na Flórida nadou cerca de 400 km de distância para chegar no local de agregação). Por isso, é muito difícil fazer uma contagem precisa de quantos meros existe mar adentro, seja pela extensão marítima na qual eles vivem, seja pelo simples fato de que eles estão sempre em movimento.

As ações do Projeto Meros do Brasil estão voltadas para a conservação da biodiversidade através da pesquisa científica, educação, comunicação, cultura e esporte, e buscam envolver as comunidades locais, valorizando o seu conhecimento, e toda a sociedade, promovendo equidade de gênero, inclusão racial e de pessoas com deficiência.

Fonte: http://www.merosdobrasil.org/

Comentários do Facebook