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Sagui-da-serra

Sagui-da-serra: com as frágeis populações em declínio, o sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps) agora aparece na nova lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta. Um programa de conservação busca salvar a espécie.

Sagui-da-serra: primata do Brasil entre os mais ameaçados do mundo

14/2/2023 ::  Marco Pozzana, biólogo

Espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira, o sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps) foi descrito em 1903 pelo zoólogo britânico Michael Rogers Oldfield Thomas (1858–1929). Desde então a Mata Atlântica foi muito atacada e degradada. Hoje a cobertura vegetal nativa do Bioma está reduzida a cerca de 27% de sua área original, mas é importante salientar que somente cerca de 7% são remanescentes florestais bem conservados. As consequências dessa perda para a biodiversidade foram profundas.

sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps)
sagui-da-serra-claro (Callithrix flaviceps). Giovanni Mari

Pois o C. flaviceps apareceu na nova lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta, divulgada durante o 19º Congresso da Sociedade Brasileira de Primatologia, realizado no final de agosto do ano passado em Mato Grosso.

Além do flaviceps, que é conhecido popularmente como sagui-da-serra-claro, sagui-da-serra ou sagui-taquara, aparecem na lista outros três primatas do Brasil, sendo eles: Plecturocebus grovesi (o zogue-zogue-de-alta-floresta), o Cebus kaapori (macaco-prego-kapori), e o bugio-ruivo (Alouatta guariba). Agora o sagui-da-serra-claro pela primeira vez integra esta triste lista.

Callithrix flaviceps

Da família dos calitriquídeos (Callitrichidae), o raríssimo sagui-da-serra só pode ser encontrado em florestas de altitude da Mata Atlântica, normalmente em áreas acima de 400 metros.

Sagui-da-serra-claro
Sagui-da-serra (Callithrix flaviceps) – Peter Schoen

Pequeno, ágil e leve, o Callithrix flaviceps pesa em média entre 119 e 710 gramas. O porte diminuto os deixa suscetíveis a uma ampla gama de predadores, como falcões, serpentes, felinos e outros predadores, até mesmo tucanos.

Todavia, desenvolveram um sofisticado comportamento de defesa. Sabe-se que fazem uso de no mínimo quatro sons distintos para soar o alarme em caso de predadores. Assim, o grupo sabe como se comportar com a informação, por exemplo, de onde vem a ameaça, entre outras. Vocalizações específicas também são usadas se um sagui descobre uma fonte de alimento.

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Normalmente se alimentam de frutas ou outras partes vegetais, além de fungos (que representam uma importante fonte nutricional), lagartas e diversos insetos. Ocasionalmente podem complementar a dieta com pequenos répteis e anfíbios como pererecas, além de ovos de aves e seus filhotes.

Conservação

Listado como ‘em perigo crítico de extinção’ na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, o sagui-da-serra enfrenta diversas ameaças. A mais grave é sem dúvida o desmatamento juntamente com a degradação de seu habitat. No entanto, outros problemas complexos dificultam a conservação da espécie, tais como as mudanças climáticas, a hibridização, doenças e epidemias como a da febre amarela.

Foi estimado que existem menos de 2 500 animais maduros na natureza, por isso, está em curso um esforço para salvar a espécie, representado pelo Programa de Conservação dos Saguis-da-serra (PCSS) que conta com o auxílio de diversos pesquisadores e instituições. O programa inclui a elaboração de guias, protocolos e chaves de decisão para nortear estudos com C. flaviceps e C. aurita. Salvar espécies assim preciosas é indispensável na busca de reparar o erro histórico de termos destruído tanto de nossa preciosa Mata Atlântica.

Fontes e referências:

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