Macaco-prego-kaapori

novembro 1, 2022novembro 3, 2022 pozzana

Macaco-prego-kaapori: espécie endêmica da Amazônia brasileira (Cebus kaapori) descrita em 1992, pode desaparecer devido ao desmatamento e degradação de seu habitat. Está criticamente ameaçada de extinção, segundo a IUCN.

Macaco-prego-kaapori, um dos primatas mais raros do mundo

1/11/2022 :: por Marco Pozzana, biólogo

O biólogo conservacionista e primatologista Helder Queiroz, descreveu a espécie Cebus kaapori em 1992. Na ocasião, Queiroz notou semelhanças com os membros da espécie C. olivaceus.

Contudo, nomes populares quase não são usados, uma vez que além de muito rara, a espécie é pouco conhecida. Todavia o macaco-prego-kaapori é conhecido como “Kaapori capuchin”, na língua inglesa, ou “Ka’apor capuchin”. Na verdade, foi tida como uma subespécie por muito tempo, e posteriormente considerada como uma espécie, baseado em diversas evidências morfológicas e moleculares.

Já era considerada muito rara, sendo descrita como tendo uma das menores áreas geográficas entre as espécies de Cebus na Amazônia. Mas a partir de 2017, a população teve uma queda de mais de 80%, tornando-a um dos primatas neotropicais mais ameaçados.

**Gênero Cebus (do grego kébos, “macaco de cauda longa”)**

Cebus é um gênero de macacos do Novo Mundo pertencente à família Cebidae. As espécies são encontradas na América Central e América do Sul.

Parte do gênero de macacos-prego gráceis, o macaco-prego-kaapori tende a ter membros mais longos em comparação com o tamanho do corpo, em contraste com os membros do gênero Sapajus.

Cebus kaapori (Queiroz, 1992)

O macaco-prego-kaapori é um macaco-prego frugívoro e diurno endêmico da Amazônia brasileira. Em média, um animal adulto pesa cerca de 3 kg. Eles são encontrados na fronteira leste da Amazônia brasileira ao longo da costa atlântica, nos estados do Pará e Maranhão. Na sua área de distribuição, estão dois trechos protegidos: a Reserva Biológica do Gurupi e a Área de Proteção Ambiental Lago de Turucuí.

Macaco-prego-kaapori, um dos primatas mais raros do mundo — *Cebus kaapori.* Fabiano R. Melo @FabianoRdeMelo1

Como a maioria dos macacos-prego, é diurno, arborícola e onívoro, mas com forte dependência de frutas para nutrição. Um estudo de sua dieta na natureza concluiu que quase 75% de sua dieta era composta de frutas. Outras fontes ressaltam a importância dos artrópodes e sementes em sua dieta.

Ao procurar insetos, podem ser observados empregando o uso de diversas e sofisticadas técnicas, como extrair suas presas das folhas quebrando-as manualmente, quebrando galhos com os dentes e as mãos para alcançar as formigas dentro. Outro comportamento notável é o modo como pressionam gastrópodes contra árvores para quebrar suas conchas.

Normalmente é encontrado vivendo em pequenos grupos de menos de 10 indivíduos. Muito pouco se sabe acerca de seus hábitos e reprodução. No entanto, sabe-se que é polígamo e os nascimentos geralmente ocorrem a cada 2 anos, de junho a julho. As fêmeas geralmente dão à luz um bebê por nascimento, sendo raros os gêmeos.

Conservação

Após uma forte queda nas populações a partir de 2017, é considerada uma das espécies de primatas mais ameaçados da Amazônia, classificada como “Criticamente Ameaçada” pela Lista Vermelha da IUCN.

*Cebus apella*: leia em Macacos-prego fazem charme para câmera

Alguns pesquisadores acreditam que a espécie parece ser muito sensível até mesmo a uma leve perturbação em seu habitat, que vem sofrendo com forte desmatamento e outros distúrbios ambientais.

Mais de 70% da sua floresta foi derrubada, principalmente para dar lugar a plantações de soja e pastagens. Em 1978, a maior hidrelétrica do Brasil foi construída dentro da área de vida da espécie, com devastador impacto em seu habitat, inundando mais de 2.000 km² e criando milhares de ilhas de 1 a 1.000 hectares onde a terra era uma vez.

Para proteger o macaco-prego-kaapori é essencial interromper o desmatamento na região, além de serem necessários mais estudos sobre esta delicada espécie, obtendo dados importantes sobre sua população, comportamento e área de abrangência, entre outras informações.