Incêndios controlados
Incêndios controlados no Cerrado: Experimento sugere que pequenos incêndios controlados aumentam o número de espécies de plantas no Cerrado sem diminuir o de animais.
Incêndios controlados
Maio/2020 :: Marcos Pivetta / Pesquisa FAPESP. CC BY-ND 4.0
Entre 2015 e 2017, sempre no meio do inverno, um grupo de ecólogos e biólogos partia pouco antes do auge da estação seca para a Estação Ecológica de Santa Bárbara, uma área do interior paulista de 2.715 hectares preservados de Cerrado, formação típica do Brasil Central similar à savana africana.
Sua missão era incomum: iniciar pequenos incêndios controlados em glebas dessa unidade de conservação e registrar seu impacto sobre a biodiversidade local de plantas e animais.
O trabalho foi motivado por estudo anterior, feito no mesmo local, que havia indicado perdas de diversidade devido à supressão do fogo por três décadas e tendência ao desaparecimento das fisionomias abertas do Cerrado (campos) e de sua fauna peculiar.
Os principais resultados do experimento de queima foram publicados em 19 de fevereiro em um artigo na revista científica Frontiers in Forests and Global Change.
As conclusões do estudo sugerem que as queimadas são benéficas para a flora, cujas plantas rebrotam rapidamente depois da passagem do fogo. Entre os grupos vegetais em que os incêndios produziram mais efeitos positivos foi registrado até um discreto aumento da biodiversidade. Antes das queimadas, os pesquisadores contabilizaram 38 espécies de gramíneas (capins) e 68 de ervas.
Fogo e biodiversidade
Depois, esses números subiram para 44 e 74, respectivamente. O dado indica que o fogo abre caminho para que novas espécies vegetais desses dois grupos se instalem no Cerrado. Também foram analisados mais três grupos vegetais, os subarbustos, os arbustos e as árvores, nos quais os benefícios dos incêndios foram menos pronunciados.
Para a fauna, o efeito das queimadas foi praticamente neutro, como se nada tivesse ocorrido. Na maioria dos grupos de animais, não foi registrada redução significativa no número de espécies nem no tamanho de suas populações nas áreas estudadas.
Nesse cenário de manutenção da fauna, os sapos foram uma exceção. Houve uma pequena redução na quantidade de espécies e na abundância de suas populações em áreas abertas de Cerrado depois dos incêndios. Antes do fogo, havia 13 espécies; depois, 9. No entanto, estudos posteriores, ainda em andamento, indicam que esse resultado teria sido atípico.
Segundo os pesquisadores, os eventuais efeitos negativos do fogo sobre os anfíbios tendem a ser revertidos com o tempo. Nos demais grupos analisados (formigas, lagartos, aves e pequenos mamíferos) não houve alterações significativas.
“Em linhas gerais, podemos dizer que as queimadas fazem bem para as plantas do Cerrado e não têm um efeito negativo importante sobre os animais, que, evolutivamente, estão adaptados a um ambiente com fogo esporádico”, resume a engenheira florestal Giselda Durigan, do Laboratório de Ecologia e Hidrologia do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, que coordenou o estudo.
Acesse o artigo completo da Revista Fapesp > Fogo e biodiversidade
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