Origem dos pássaros
Origem dos pássaros: Maioria das espécies teria emergido em ambientes extremos dos trópicos, como desertos e montanhas, e depois se fixado em outros biomas.
Origem dos pássaros
31/3/2021 :: Por Eduardo Geraque
Quase um terço das aves do Neotrópico, região que vai do sul do México e do estado norte-americano da Flórida até o extremo sul da América do Sul, pertence à subordem dos suboscines.
Esse grupo abrange 1.306 espécies de pequeno porte, quase todas presentes apenas nas Américas, entre as quais algumas muito conhecidas, como o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) e o joão-de-barro (Furnarius rufus).
A Amazônia, a Mata Atlântica e a parte norte dos Andes são atualmente as grandes áreas de concentração de biodiversidade, os chamados hotspots, da subordem, uma das duas em que se divide a ordem dos Passeriformes, os populares passarinhos, aves de pequeno porte, muitas delas conhecidas pelo canto harmonioso. Mas nem sempre foi assim.
Onde surgiram os pássaros
Segundo artigo publicado em 11 de dezembro na revista científica Science, as principais linhagens de suboscines surgiram em pontos extremos e remotos das Américas, como desertos e topo de montanhas, em áreas secas de clima frio ou instável.
Para esse grupo de aves, o processo de aparecimento de novas espécies, denominado especiação pela biologia, teria começado há cerca de 50 milhões de anos. Apenas mais tarde, a maior parte dessas espécies se deslocou e se estabeleceu nos atuais hotspots de biodiversidade, ambientes mais amenos e hospitaleiros.
Paradoxalmente, os lugares inóspitos das Américas em que o processo de especiação desse grupo de aves foi mais intenso, como a Patagônia, na Argentina, são hoje coldspots, áreas com baixa diversidade de espécies, onde devem ter ocorrido muitas extinções no passado.
‘Museus’ de aves
O estudo defende a hipótese de que os atuais hostpots tropicais seriam grandes concentradores de espécies, mas a origem da maior parte de sua diversidade viria dos coldspots, que, no entanto, não ofereceriam condições naturais para manter muitas de suas formas de vida no longo prazo.
Esses coldspots se concentram nas regiões central e sul dos Andes, na Patagônia, no Caribe e no chamado Neártico, região que abarca Groenlândia, Canadá, Estados Unidos e norte do México.
“Basicamente, o trabalho mostra que a Amazônia e os demais hotspots funcionariam como ‘museus’ de aves, que, ao longo do tempo, também acumulariam e preservariam muitas das espécies originadas em áreas remotas”, explica Luís Fábio Silveira, chefe de divisão científica e curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), um dos dois brasileiros que assinam o artigo.
O outro é o ornitólogo Alexandre Aleixo, hoje na Universidade de Helsinque, na Finlândia, ex-pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém. “Essa conclusão nos surpreendeu e contrasta com o que acreditávamos ser o padrão geral de especiação desse grupo de aves no Neotrópico, especialmente na Amazônia”, conta Silveira, cujo projeto foi financiado pela FAPESP. Como regra, os pesquisadores supunham que as aves surgiam nas próprias áreas de maior concentração de espécies.
Artigo científico
HARVEY, M. G. et al. The evolution of a tropical biodiversity hotspot. Science. 11 dez. 2020.
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