Pantanal em Chamas
Pantanal em Chamas: O filme “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, de Lawrence Wahba foi premiado na categoria ‘Mérito de Sustentabilidade’ no Wildscreen Festival, maior festival de filmes de natureza e meio ambiente do mundo.
Pantanal em Chamas, filme de Lawrence Wahba
13/10/2022 :: postado por Marco Pozzana, biólogo
Nos últimos 30 anos, o documentarista de natureza Lawrence Wahba fez dezenas de expedições ao Pantanal. A 44ª delas, em março de 2020, foi, no entanto, o início de um duplo pesadelo.
Enquanto realizava as primeiras filmagens sobre as belezas do Pantanal, numa área remota da maior planície alagável do planeta, o diretor foi surpreendido com o anúncio de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia decretado a pandemia de Covid-19.
No retorno emergencial para isolar-se em São Paulo, cidade onde reside, ao sobrevoar o Pantanal Wahba foi surpreendido por focos de incêndio atípicos para aquele período do ano. Era o presságio de uma ameaça igualmente assombrosa: a escalada de queimadas jamais vistas, muitas delas de origem criminosa e que, entre junho e outubro de 2020, devastaram o Pantanal, deixando um saldo de mais de 15 milhões de animais mortos e um prejuízo ambiental sem precedentes.
Formação de uma brigada de incêndio
Recluso em casa e desolado com o que via à distância, em agosto, Wahba idealizou a formação de uma brigada de incêndio que logo contou com o crescente apoio de voluntários. No começo de setembro, o documentarista ignorou os riscos da pandemia e decidiu partir para o Pantanal, a fim de se juntar ao grupo de profissionais e voluntários que, dia e noite e na contramão da omissão do Governo Federal, não media esforços para tentar combater o fogo, minimizar o impacto das queimadas e salvar animais.
Chegando lá, ao se dar conta da dimensão da tragédia e do diminuto grupo destacado por órgãos governamentais para enfrentar o recrudescimento das queimadas, as maiores desde 2006, Wahba articulou novas frentes para ampliar as ações da brigada voluntária composta por ribeirinhos, pescadores, indígenas, fazendeiros, entre outros.
“(…) A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, orgulha-se.
A criação da Brigada Alto Pantanal, que protege uma área específica, a Serra do Amolar, contou com o apoio de primeira hora de empresários e de personalidades como Luciano Huck e Gisele Bundchen, que impulsionou doações de aporte financeiro e inspirou ações de outras instituições do terceiro setor, como a ONG SOS Pantanal, resultando na criação de 26 brigadas. Os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul também destinaram verbas para o combate aos incêndios.
Trailer: Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas “Disponível no Globoplay”
Em paralelo ao serviço voluntário que realizava, de câmeras em punho e contando com a ajuda de outros cinco cinegrafistas – Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite – para dar conta da dimensão das queimadas, Wahba era também tomado pela amarga consciência de que o filme que planejava fazer no começo de 2020, baseado em uma série de registros sobre a exuberante beleza do Pantanal, ganhava agora o caráter de um testemunho de horror.
Concluído em 2021, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas, o impactante documentário que resultou dessa aflitiva missão, foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay em 12 de novembro, o Dia do Pantanal. O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e Jefferson Pedace, segue disponível, com exclusividade, na plataforma de streaming da Rede Globo.
“Jaguaretê-Avá não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores. Por duas semanas depois da estreia, o documentário foi o mais visto no Globoplay. Recentemente, quando algumas imagens dos incêndios foram usadas na novela Pantanal, voltou a subir o número de pessoas querendo assistir ao filme”, comenta o diretor, às vésperas de vivenciar um momento de celebração aos seus 30 anos de apaixonada dedicação à causa ambiental.
Jaguaretê-Avá
Em 14 de outubro, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas enfim chega ao público internacional, quando será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente. Com o impacto da exibição para o júri que selecionou os títulos que compõem essa edição especial da mostra britânica, que celebra 40 anos, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi condecorado com uma premiação que enaltece seu forte teor de denúncia: o Mérito de Sustentabilidade.
“Ao mesmo tempo em que essa é a realização de um sonho, é também a lembrança de um pesadelo, porque eu gostaria mesmo é de ver um filme meu com as belezas do Pantanal na tela grande do festival, e não saber que 15 milhões de animais morreram. Esse é o filme que eu não gostaria de ter feito. Perto do que significaram os incêndios, esse prêmio não vale nada”, lamenta.
Divulgado em 22 de setembro – juntamente com a programação do evento e a confirmação da participação de convidados como os cineastas James Cameron, Darren Aronofsky e a ex-secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres – o simples anúncio da premiação especial de Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas no Wildscreen Festival tem chancelado a relevância do filme, trazendo efeitos positivos para uma promissora carreira internacional do documentário.
“Acabo de dar entrevista para um jornalista da BBC, e o que ele falou do filme me deixou meio tonto. Foi só elogios. Outros festivais de cinema do mundo e distribuidores internacionais estão me procurando. Minha expectativa é que esse prêmio possa ser uma alavanca para a gente espalhar a mensagem do filme. E vale dizer que uma grande porcentagem do que a gente arrecadar com a venda internacional do filme será doada. Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal”, defende.
Espécie de aquecimento para o Wildscreen Festival, no último dia 26 de setembro Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi exibido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, na abertura da mostra de cinema do Festival Green Nation.
“As exibições que a gente fez no Green Nation foram de total catarse. O público inteiro chorando, as pessoas me abraçando no fim do filme. Estou agora na expectativa de ver como a audiência internacional vai reagir”, conclui Wahba.
Sobre Lawrence Wahba:
Lawrence Wahba, 53 anos, é documentarista de natureza, apresentador de TV, fotógrafo, mergulhador e autor. Vencedor do Emmy, seus documentários, filmados em todos os continentes e oceanos, foram exibidos em 160 países, em canais como NatGeo, Smithsonian, Discovery, entre outros. Para a TV brasileira produziu mais de 600 matérias, apresentou programas no GNT, NatGeo e Discovery, além do quadro Domingão Aventura, no programa então liderado por Faustão na Rede Globo. Em 2017, lançou nos cinemas Todas as Manhãs do Mundo, seu primeiro documentário.
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