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Meio Ambiente Inteiro

Meio Ambiente Inteiro: Muito aconteceu nesses últimos 12-13 anos, desde que escrevi pela última vez aqui na coluna Ecologia Hoje, do biologo.com.br. Outras formas surgiram de se ver e pensar sobre ecologia, sobre conservação, sobre o mundo.

Ecologia Hoje #9 :: Branca Medina

Meio Ambiente Inteiro

Vivemos os tempos pós-normais, quando complexidade, contradição e caos imperam. Nesses tempos, fatos são incertos, valores estão em disputa, interesses são enormes e decisões são urgentes.

Áreas protegidas
Áreas Protegidas. Formações rochosas e o pico Dedo de Deus ao fundo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, by Carlos Perez Couto

Começo essa reflexão com um comentário sobre a expressão “meio ambiente”, que é ao mesmo tempo uma redundância em si – meio e ambiente são sinônimos – e também dá uma ideia de metade de um sistema, ou um ambiente “não inteiro”.

E um ambiente “não inteiro” poderia ser um ambiente sem vida…. ambiente sem vida existe? Existe vida sem ambiente? No budismo, assim como em outras tradições humanas, essa divisão vida – ambiente nem faz sentido. Esho Funi é a expressão budista que traz essa ideia da inseparabilidade entre a vida e o ambiente.

Segundo essa lógica, sem o ambiente a vida não tem como existir, assim como não há vida sem o ambiente. São sistemas interligados, interdependentes, se auto influenciam, numa dinâmica infinita de união, apesar de serem dois fenômenos únicos em si. O que há no indivíduo reflete-se no meio, e o que há no meio reflete no indivíduo. Em suma, segundo o budismo, a vida e o ambiente são dois aspectos integrantes da mesma unidade.

Analisando o papel do biólogo – Meio Ambiente Inteiro

Trabalho de campo de biólogos
Trabalho de campo

Nós, biólogos, somos formados e direcionados para estudar o ambiente natural, não ou pouco antropizado, e somos direcionados a olhar, pensar, estudar esses ambientes. Contudo, seguindo o raciocínio budista, o meio influencia muito a vida. Então olhar para o meio onde a vida se insere, entender esse meio e suas relações com o as áreas naturais / nativas, é fundamental para entender esse complexo funcionamento.

Entender as influências de uma pastagem, por exemplo, no funcionamento de um fragmento florestal nela inserido é básico para planejar o manejo e conservação dessa área nativa. A ecologia de paisagem vem mostrando, com os mais diferentes grupos biológicos, em biomas distintos, que parâmetros como abundância, riqueza, diversidade, composição de espécies, dentre outros, respondem mais à composição da matriz aonde se insere o fragmento, do que ao tamanho, forma, ou isolamento do fragmento.

A importância do meio pode ser observada até no funcionamento do nosso cérebro! Recentemente, pesquisadores da USP descobriram a importância dos astrócitos – células que formam o meio aonde ficam os neurônios – na determinação do desenvolvimento do neurônio.

Astrócitos de indivíduos saudáveis, ou neurotípicos, “consertaram” neurônios defeituosos de indivíduos autistas, dando-lhes a correta forma e funcionamento, idêntica à de um neurônio normal. Ao mesmo tempo, os astrócitos de indivíduos autistas tornaram defeituosos os neurônios originalmente saudáveis. Neurônios de autistas tem axônios bem mais curtos, o que atrapalha as sinapses no cérebro e acarretam nos problemas neurológicos observados no espectro do autismo.

Repensando – Meio Ambiente Inteiro

Meio Ambiente InteiroBiólogos, vamos olhar para o nosso meio? Para o nosso entorno, começando pelo mais próximo: a casa, a família, o prédio, a rua, o bairro, o país, o mundo… como você influencia eles e como eles te influenciam? O que está a seu alcance para torna-los melhor, o que, invariavelmente, o deixarão melhor também?

A minha sugestão é que precisamos repensar a ideia de um mundo verde idealizado, e encarar a dura realidade que ele está indo embora cada vez mais rápido; em verdade há bem pouco tempo, as projeções apontam para pouco mais de uma década para ainda ser possível reverter a situação antes de entrarmos num caminho sem volta. Desse modo, não se pode esperar um estudo de 10 anos para tomar uma decisão mais precisa, por exemplo.

Vamos estudar as pastagens, as áreas agrícolas e seus insumos, as áreas urbanas, as áreas degradadas, indo além das áreas nativas de interesse. Ampliando ainda mais, é fundamental entender as interações do componente biótico com seu ambiente social, econômico, político, e vice-versa. Esse é o caminho para encontrarmos a sustentabilidade da nossa vida no planeta Terra, a nossa casa-vida. Precisamos ir além da “conservação da natureza”, estamos falando da nossa própria vida, a sobrevivência humana! Que, afinal, não se separa do seu meio…

E é necessário integrar as disciplinas rápido, urgente, para encontrar as soluções para que o nosso meio, o nosso ambiente, e nós, sejamos inteiros.

Consultas sugeridas:

Agradeço a revisão e colaboração fundamental de José Henrique Nogueira.

Branca M. O. Medina – branca@biologo.com.br – Bióloga Mestre e Doutoranda em Ecologia, Consultora Ambiental e de SIG.

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