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A força da biologia

A força da biologia: UFRJ – 100 ANOS. Produção científica se destaca em diferentes áreas, desde as mais básicas até as aplicadas. 

A força da biologia

26/10/2020 ::  Por Eduardo Geraque

Na universidade se ensina por que se pesquisa.” O lema do médico Carlos Chagas Filho (1910-2000), filho do sanitarista Carlos Chagas (1878-1934), continua atual no Instituto de Biofísica, que ele criou em 1945.

Biologia. cientista

Uma das instituições basilares da área de biologia e saúde da UFRJ, o instituto surgiu ainda no campus da Praia Vermelha, nos anos 1940, e depois se mudou para a Cidade Universitária na ilha do Fundão, às margens da baía de Guanabara, na primeira metade dos anos 1970.

Ao longo das décadas, nomes e grupos de pesquisa das mais variadas áreas da biologia e da saúde foram se formando e dando continuidade ao trabalho dos pesquisadores pioneiros. Esta reportagem cita apenas alguns deles, de forma não exaustiva.

Vídeos didáticos de biologia
Vídeos didáticos de biologia

Neurologia

O neurocientista Roberto Lent, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), investiga há quase 40 anos a formação e a reorganização das conexões entre as áreas do cérebro e é uma referência em trabalhos sobre a contagem de neurônios.

Estudos em neurologia são uma das áreas de destaque na UFRJ. “Em um dos trabalhos, mostramos que a perda de memória e outras alterações neurológicas ocorrem por meio de mecanismos idênticos aos que causam alterações semelhantes na doença de Alzheimer”, afirma o bioquímico Sergio Teixeira Ferreira, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), como hoje é chamado.

Como o zika afeta o cérebro adulto
Zica vírus

Experimentos realizados na UFRJ indicaram também que o vírus zika pode infectar e se reproduzir em tecidos cerebrais de pessoas adultas, produzindo novas partículas virais capazes de infectar mais células nervosas.

O trabalho ampliou o conhecimento sobre o alcance do vírus. Antes dessa descoberta, os pesquisadores pensavam que neurônios maduros fossem resistentes à infecção. Em estudos prévios, o patógeno havia sido detectado apenas em neurônios em formação ou imaturos, em cérebros em desenvolvimento, como o de embriões, causando microcefalia e outras malformações neurológicas.

Do ponto de vista de saúde pública, esses resultados sinalizaram que, além das crianças recém-nascidas e das grávidas, os adultos precisam ser monitorados se infectados pelo vírus.

Bioquímica

Bioquímica: proteínas

O grupo de Fernanda De Felice, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), muitas vezes em conjunto com o laboratório de Ferreira, contribuiu para o entendimento da doença de Alzheimer.

No início do ano passado, a neurocientista apresentou à comunidade científica um estudo vinculando a atividade física à formação da memória e a proteção dos neurônios dos efeitos tóxicos de compostos associados à origem do Alzheimer.

A ligação identificada é responsabilidade do hormônio irisina, liberado pelos músculos durante a prática de exercícios físicos. “Nossos estudos, incluindo o da descoberta da irisina, mostram a importância de um estilo de vida saudável, com prática de exercícios físicos e alimentação adequada, na preservação da saúde do cérebro, especialmente no contexto de Alzheimer”, afirma a pesquisadora. A doença de Alzheimer, enfermidade que atinge cerca de 35 milhões de pessoas no mundo, é marcada por profunda perda de memória.

Biomedicina

Biomedicina
Conheça a Biomedicina

No Instituto de Biologia, uma das 26 unidades acadêmicas do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, os avanços científicos também se acumulam ao longo do tempo. À frente do Laboratório de Virologia Molecular, por exemplo, o médico Amílcar Tanuri se destaca como uma das principais referências brasileiras da área.

Um dos grandes especialistas em HIV, tanto em termos de diversidade genética quanto sobre a resistência que o vírus da Aids apresenta às mais variadas drogas, Tanuri lidera pesquisas para entender as respostas imunológicas desencadeadas por pacientes brasileiros à infecção pelo
novo coronavírus.

Funcionamento dos neurônios
Neurônios

Outros grupos de pesquisa ocupam espaços importantes no universo da genética, da psiquiatria – como os estudos que trafegam pela psicanálise e filosofia de Joel Birman, do Instituto de Psicologia – e da farmacologia. Nesse último caso, destaca-se o trabalho em química médica do grupo de Eliezer Barreiro. Na área de morfologia e microscopia eletrônica, Wanderley de Souza é um nome importante, a exemplo de Jerson Lima da Silva e Débora Foguel na parte de biologia estrutural e enovelamento de proteínas.

Os estudos com células-tronco conduzidos no laboratório do biólogo Stevens Rehen, pesquisador do ICB e colaborador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), têm, igualmente, alcançado ampla repercussão. Ele produz neuroesferas e organoides cerebrais que são usados para estudar como infecções causadas por vírus ou certos compostos afetam o desenvolvimento cerebral.

A força das biológicas

Em artigo publicado em março de 2020 na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, seu grupo identificou, por exemplo, que a saxitoxina, toxina produzida por uma cianobactéria e encontrada em água contaminada, amplifica os estragos do vírus zika sobre o tecido cerebral. Outra linha de pesquisa envolve as chamadas substâncias psicodélicas, como a ayahuasca, drogas que alteram a percepção da realidade e as emoções e causam uma sensação de bem-estar. “Nos últimos anos, trabalhamos na caracterização molecular dos efeitos de psicodélicos sobre o tecido neural humano visando aplicações terapêuticas”, explica Rehen.

A força da biologia
Cortesia do Pacific Northwest National Laboratory.

As ciências biológicas da UFRJ se tornaram a casa acadêmica de pesquisadores de variados perfis. Brasileiro nascido na Itália, o médico Leopoldo de Meis (1938-2014), com seus estudos sobre bioquímica e metabolismo e paixão por unir arte, ciência e divulgação, foi um dos nomes de maior destaque que fizeram carreira na universidade. Também do exterior veio o croata Radovan Borojevic, de 79 anos, que iniciou seus estudos em Zagreb, mas se graduou em biologia na Universidade de Estrasbrugo, na França, país do qual também é cidadão e para onde emigrou jovem. Mais tarde, radicou-se no Brasil, com passagens por instituições do Nordeste antes de se fixar na capital fluminense.

Especialista em terapias celulares e medicina regenerativa, Borojevic começou a trabalhar no Instituto de Química no início dos anos 1980. “Na época, tínhamos condições muito boas de trabalho. Havia ajudado a estabelecer um programa de colaboração entre a universidade e o Instituto Pasteur de Lyon e passava uns meses na França e outros no Rio”, lembra Borojevic, hoje professor emérito da UFRJ. “Tinha mais facilidade para trabalhar no Fundão do que no Pasteur. Essa foi uma das razões que me levaram a fazer concurso para professor e me ancorar na universidade.”

Fonte: A força das biológicas /Revista Fapesp  CC BY-ND 4.0

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