BioéticaBioquímicaNotícias

Motivação na ciência

Motivação na ciência: A bioquímica Fernanda de Felice, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta o que faz para mobilizar os 28 estudantes, técnicos e pesquisadores de seu laboratório após a suspensão das atividades presenciais.

Motivação na ciência

Maio/2020 :: Depoimento concedido a Fabrício Marques / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

Coordeno um laboratório no Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ que faz pesquisas sobre o sistema nervoso, particularmente relacionadas ao mal de Alzheimer e a disfunções neuronais ligadas ao diabetes e à obesidade.

Epidemiologista na Pandemia
Epidemiologista na Pandemia

Somos ao todo 28 pessoas: 5 pós-doutorandos, 6 alunos de doutorado, 8 de mestrado, além do corpo técnico e 6 alunos de iniciação científica. Foi um baque para um laboratório grande como o nosso quando a UFRJ recomendou que as atividades fossem reduzidas ao essencial. Como não trabalhamos com pesquisas diretamente relacionadas com a Covid-19, suspendemos as atividades presenciais.

O perigo de contaminação era real. Muitas pessoas do grupo dependem de transporte público para se deslocar até a Ilha do Fundão, e, claro, todos estão com medo. Conversei com eles sobre o que era razoável fazer. Conseguimos, na maior parte dos casos, manter projetos que estavam em andamento e preservar as coisas mais importantes.

“Tento passar uma mensagem positiva e manter o grupo ativo”.

Motivação na ciência

Estamos trabalhando de forma remota, mas dois alunos precisam ir ao laboratório uma vez por semana para concluir trabalhos: se há um experimento em que é preciso manter um animal com uma dieta específica durante 16 semanas, perdemos tudo se interrompermos o estudo. O corpo técnico também segue trabalhando para manter cuidados com os animais e com os equipamentos do laboratório e dar suporte ao que segue funcionando.

Não dá para começar um experimento novo. Foi preciso tomar decisões difíceis e sacrificar alguns animais de laboratório. Os alunos ficaram tristes, mas entenderam e concordaram. O trabalho nos biotérios está funcionando em esquema de rodízio, para reduzir a circulação de pessoas e o risco de contágio dos funcionários. Por isso, todos os pesquisadores da UFRJ tiveram de reduzir o número de experimentos e a quantidade de animais preservados nessas instalações.

Em tempos de Covid-19

Pesquisando na quarentena
Pesquisando na quarentena

Cada pessoa do grupo tem uma história diferente – um vive em casa onde tem uma pessoa em grupo de risco para Covid-19, outro pertence a uma família em que há situação de perda de emprego e de salário. É difícil e noto que alguns alunos estão tristes. Abri uma conta no Zoom e estou tentando manter todo mundo ativo.

Fazemos discussões sobre os artigos em andamento uma vez por semana; o grupo se organiza para cantar parabéns para quem faz aniversário. Eu fico cutucando os alunos, mando artigos, tento envolvê-los na preparação de projetos. Não dá para falar com 28 pessoas todo dia, mas dividi em grupos menores e tento monitorar todos o tempo todo.

Consigo mobilizar uns 85% a 90% dos membros de grupo. Tento passar uma mensagem positiva e mostrar que estamos todos no mesmo barco. Mas me preocupo porque alguns nem estão respondendo aos meus e-mails.

Acesse o artigo completo da Revista Fapesp > “Tento passar uma mensagem positiva e manter o grupo ativo”

Comentários do Facebook