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Novas descobertas sobre a doença de Alzheimer

Novas descobertas sobre a doença de Alzheimer: A dificuldade de encontrar as chaves do carro, distraidamente guardadas na gaveta de meias em vez do habitual porta-chaves.

Ou o terror de não lembrar o caminho de casa após uma corrida pelo bairro, como o vivido pela professora universitária no filme Para sempre Alice, de 2014, podem não ser os primeiros sinais da doença de Alzheimer.

Novas descobertas sobre
a doença de Alzheimer

por Ricardo Zorzetto/Pesquisa FAPESP :: Descrita há pouco mais de um século pelo psiquiatra e neuroanatomista alemão Alois Alzheimer e, quase simultaneamente, pelo também psiquiatra e neuroanatomista checo Oskar Fischer, essa enfermidade que elimina progressivamente as células cerebrais tornou-se conhecida por apagar a memória e reduzir a capacidade de planejar e realizar as tarefas do dia a dia, como fazer a lista do mercado.

O Cérebro.
O Cérebro. Novas descobertas sobre a doença de Alzheimer

Esses sinais, no entanto, são típicos dos estágios avançados da doença. Muito antes, ela pode se manifestar de modo dissimulado, fazendo-se confundir com problemas mais comuns na população, como a depressão, a ansiedade ou alterações súbitas no padrão de sono e apetite.

Há algum tempo se sabe que esses distúrbios psiquiátricos são mais frequentes nas pessoas que desenvolvem Alzheimer ao envelhecer do que na população idosa saudável.

Parte dos neurologistas e especialistas em saúde mental defende, com base em estudos populacionais, que a depressão e a ansiedade surgiriam primeiro, em decorrência de isolamento e outras dificuldades impostas pelo envelhecimento, e, se não tratadas, aumentariam o risco de Alzheimer.

Problemas psiquiátricos podem representar primeiros sinais do mal de Alzheimer

Novas descobertas sobre a doença de Alzheimer

Começam agora a surgir evidências de que, ao menos em parte dos casos, o oposto pode acontecer: as manifestações psiquiátricas surgiriam em consequência de danos neurológicos dos estágios iniciais do Alzheimer.

Indicações sólidas de que os problemas psiquiátricos precederiam a perda de memória e a demência, que se manifestam de duas a três décadas depois das primeiras lesões neurológicas do Alzheimer, vêm de um trabalho conduzido pela neuropatologista brasileira Lea Tenenholz Grinberg.

Professora da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), Estados Unidos, Lea e colaboradores brasileiros e norte-americanos observaram que, após surgirem as primeiras lesões, aumenta o risco de problemas psiquiátricos.

A probabilidade de desenvolver ansiedade e alterações (aumento ou diminuição) de apetite e sono é três vezes mais alta em quem tem as lesões iniciais do que nas pessoas sem elas. Também o risco de depressão é quase quatro vezes mais elevado e o de agitação seis vezes maior.

A pesquisa – Novas descobertas sobre a doença de Alzheimer

“Esses resultados indicam que, em parte desses casos, a doença de Alzheimer já está instalada em áreas que modulam a atividade cerebral quando as primeiras manifestações psiquiátricas surgem”, afirma Lea.

córtex cerebral em um paciente com início da doença de Alzheimer.
Imagem histopatológica de placas senis vistas no córtex cerebral em um paciente com início da doença de Alzheimer.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão ao analisar o cérebro de 455 pessoas com idade entre 58 e 82 anos armazenados no Biobanco para Estudos do Envelhecimento, da USP, um dos maiores acervos de cérebro do mundo.

Ali estão 3 mil exemplares, doados por familiares de pessoas que passaram por autopsia no Serviço de Verificação de Óbitos da Capital, em São Paulo. Na realidade, os autores do estudo não analisaram só o cérebro.

Inspecionaram também o tronco encefálico, que, com o cerebelo e o cérebro, compõe o encéfalo, conjunto de estruturas abrigadas no crânio. Em 2009, Lea e as equipes do neuroanatomista alemão Helmut Heinsen, à época na Universidade de Würzburg, Alemanha, e do neurologista Ricardo Nitrini e do geriatra Wilson Jacob Filho, ambos da USP, haviam confirmado que uma das primeiras estruturas danificadas na doença de Alzheimer estava no tronco encefálico, e não no cérebro.

>> Para saber mais, leia o artigo completo no site da Revista Fapesp –  Avanço no estudo sobre Alzheimer

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