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Nettie Stevens e os cromossomos sexuais

Nettie Stevens: é considerada, até hoje, um dos maiores nomes da história da genética e da biologia pela importante descoberta dos cromossomos sexuais. Nettie superou inúmeras barreiras para estudar e trabalhar com ciência. Eis aqui um pouco de sua história.artigo original www.biologo.com.br

Nettie Stevens e os cromossomos sexuais

26/8/2021 ::  Por Josué Fontana

Nettie Maria Stevens (1861-1912) conseguiu marcar seu nome na história da ciência em um tempo em que mulheres raramente tinham oportunidades de trabalho com condições dignas. 

Nettie no laboratório
Nettie no laboratório do zoológico de Nápoles, 1909

Nettie nasceu em 7 de julho de 1861, em Vermont, nos Estados Unidos. Aos dois anos sua mãe morreu e em seguida seu pai, um carpinteiro, se casou de novo e a família mudou-se para Massachusetts. Ali, Nettie e a irmã tiveram o privilégio de ter uma boa educação até o ensino médio, proporcionada pelo dinheiro obtido com o trabalho do pai. 

Biografia

Stevens logo se revelaria uma ótima estudante, se destacando entre os melhores alunos da turma. Somente três mulheres se formaram na Westford Academy entre 1872 e 1883 — Nettie e sua irmã estavam entre elas.

Nettie Stevens e os cromossomos sexuaisAo concluir sua formação, se muda para New Hampshire, onde deu aulas por três anos, em áreas científicas como zoologia, fisiologia e matemática, mas também inglês e latim. Depois retomou seus estudos em Vermont. Ela conseguiu completar o curso de quatro anos em apenas dois, se destacando entre os melhores de sua classe.

Cada vez mais interessada em ciência, Nettie matriculou-se na novíssima Universidade de Stanford, onde recebeu seu bacharelado em 1899 e o Master of Arts em biologia em 1900.

Ela voltou seu foco para a histologia após completar um ano de pós-graduação em fisiologia. Depois faz seu doutorado em citologia no Bryn Mawr College, estudando tópicos como regeneração em organismos pluricelulares primitivos, estrutura de organismos unicelulares, o desenvolvimento de espermatozoides e óvulos, entre outros.

Poucos anos depois da redescoberta da obra de Mendel, em 1900, Nettie observou que vermes machos produziam dois tipos de esperma. Um com um cromossomo grande e um com um pequeno. E que quando o esperma com cromossomos grandes fertilizavam os óvulos, eles produziam uma prole fêmea e quando era o cromossomo pequeno, produziam uma prole macho. O par de cromossomos que ela estudou ficariam conhecidos como X para o feminino e Y para o masculino.

Depois passa um ano na Zoological Station em Nápoles, Itália, trabalhando com organismos marinhos, e também no Zoological Institute da University of Würzburg , Alemanha. Retornando aos Estados Unidos, faz seu Ph.D. em genética, concluindo-o em 1903. Depois segue trabalhando com morfologia experimental até o ano de sua morte. 

Nettie Stevens foi uma das primeiras mulheres americanas a ter sua contribuição para a ciência reconhecida

Machismo na biologia
Machismo na biologia

Quando lhe foi oferecida o cargo que há muito procurava, o de professora pesquisadora no Bryn Mawr College ela não pode aceitá-lo devido aos seus avançados problemas de saúde.

Um artigo, escrito em 1905, rendeu a Stevens um prêmio de mil dólares pelo melhor artigo científico escrito por uma mulher.

Em 1908, recebeu a bolsa Alice Freeman Palmer da instituição que hoje é a American Association of University Women. No mesmo ano conduziu pesquisas na Estação Zoológica de Nápoles e na Universidade de Würzburg, além de peregrinar por diversos laboratórios da Europa.

Principais avanços científicos:

Gregor Mendel - 2ª Lei de Mendel
Tudo sobre Mendel
  • Seu registro de 38 publicações inclui várias contribuições importantes que promovem os conceitos de hereditariedade cromossômica.
  • Em suas experiências com células germinativas, concluiu que os cromossomos têm um papel na determinação do sexo durante o desenvolvimento. Como resultado de sua pesquisa, Stevens forneceu evidências críticas para as teorias de herança mendeliana e cromossômica.
  • Usando observações de cromossomos de insetos, Stevens descobriu que, em algumas espécies, os cromossomos são diferentes entre os sexos e quando a segregação cromossômica ocorre na formação do esperma, essa diferença leva a resultados de progênie feminina versus masculina.
  • Sua descoberta foi a primeira vez que diferenças observáveis ​​de cromossomos podem estar ligadas a uma diferença observável no fenótipo ou atributos físicos (ou seja, se um indivíduo é do sexo masculino ou feminino). Este trabalho foi publicado em 1905.
  • Nos seus experimentos com insetos, identificou o cromossomo atualmente conhecido como cromossomo Y na larva da farinha. Ela deduziu que a base cromossômica do sexo dependia do cromossomo Y. Um óvulo fertilizado por um espermatozóide que carrega o cromossomo pequeno se torna masculino, enquanto um óvulo fertilizado por um espermatozoide com o cromossomo maior se torna feminino.
  • Stevens viu que havia cromossomos que existiam em pares hoje conhecidos como pares de cromossomos XY. Também viu cromossomos desemparelhados, XO. Ela não nomeou os cromossomos X ou Y, seus nomes vieram depois.

Aos 50 anos, apenas 9 anos após completar seu Ph.D., Stevens morreu de câncer de mama em 4 de maio de 1912, em Baltimore, Maryland. Sua carreira foi curta, mas prolífica — publicou aproximadamente 40 valiosos artigos.

“Sua obstinação e devoção, combinadas com aguçados poderes de observação; consideração e paciência, unidas a um julgamento bem equilibrado, são responsáveis, em parte, por sua notável realização.” – Thomas Morgan, sobre Nettie Maria

Fontes e referências:
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