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Mutação no novo coronavírus

Mutação no novo coronavírus: Variedade do novo coronavírus hoje predominante parece mais contagiosa do que a original. Identificada no fim de janeiro, a cepa apresenta uma mutação que pode facilitar a entrada nas células

Mutação no novo coronavírus

Maio/2020 :: Ricardo Zorzetto / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

A variedade do novo coronavírus hoje predominante no mundo é ligeiramente diferente daquela identificada em dezembro em Wuhan, na China, e possivelmente capaz de infectar as pessoas com mais facilidade.

Coronavírus no Brasil
Coronavírus no Brasil

Essas conclusões foram apresentadas por um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido em um manuscrito depositado em 30 de abril no repositório de artigos científicos bioRxiv.

No trabalho, ainda não publicado em revista científica nem avaliado por especialistas, a equipe coordenada pela bióloga Bette Korber, do Laboratório Nacional de Los Alamos (LANL), nos Estados Unidos, analisou 6.346 genomas do vírus Sars-CoV-2 provenientes do mundo todo, armazenados em uma base de dados genéticos alemã.

Confrontando o material genético das diferentes variedades do novo coronavírus que surgiram desde o início da pandemia, os pesquisadores identificaram 14 alterações no gene que codifica a proteína S das espículas, estruturas pontiagudas que recobrem o vírus e o ajudam a aderir às células das vias respiratórias e invadi-las.

Uma alteração em especial chamou a atenção dos pesquisadores: a D614G. Ela identifica uma cepa do Sars-CoV-2 que surgiu no final de janeiro e sofreu a troca de apenas uma de suas quase 30 mil bases nitrogenadas, as unidades formadoras do material genético do vírus.

Alteração genética

utação no novo coronavírus
Micrografia eletrônica de transmissão de partículas do vírus SARS-CoV-2,. National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID)

Em um trecho específico do gene da proteína S, a base nitrogenada adenina (A) substituiu a guanina (G) original da variedade do vírus identificada em Wuhan em dezembro de 2019. Ainda não é possível saber se a cepa D614G surgiu na China ou na Europa, mas, segundo os autores do estudo, foi a partir do continente europeu que ela rapidamente ganhou o mundo. Ela foi identificada na China e na Alemanha quase simultaneamente nas últimas semanas de janeiro.

Logo depois estava na Itália e na costa leste dos Estados Unidos. No final de março, a cepa D614G já teria se tornado a mais comum no mundo: era a variedade dominante em 13 dos 14 países dos quais vinham os genomas virais analisados.

Os pesquisadores suspeitam que ela seja mais contagiosa do que as outras porque, em todos os locais em que apareceu, ela logo se sobrepôs às cepas iniciais e em semanas tornou-se a mais comum. Por ora, não há indícios de que a cepa D614G cause uma doença mais grave do que as outras variedades do Sars-CoV-2 nem que seja mais difícil de combater.

Pandemia
Pandemia. Fila para comprar máscaras em Wuhan.

Os pesquisadores também não sabem se essa mutação seria a única responsável por tornar o vírus mais contagioso – algumas vezes, ela era acompanhada de duas outras alterações, em genes codificadores de outras proteínas virais.

A mutação D614G, no entanto, preocupa os autores do estudo porque a proteína S está sendo usada na produção de compostos candidatos a vacina contra o novo coronavírus.

Para saber mais: Artigos científicos / bibliografia

KORBER, B. et alSpike mutation pipeline reveals the emergence of a more transmissible form of SARS-CoV-2bioRxiv. 30 abr. 2020.
VAN DORP, L. et alEmergence of genomic diversity and recurrent mutations in Sars-CoV-2. Infection, Genetics and Evolution. 

Acesse o artigo completo da Revista Fapesp > Variedade do novo coronavírus hoje predominante parece mais contagiosa do que a original

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