Salvando as aves marinhas
Salvando as aves marinhas: as aves estão entre os grupos de animais mais afetados pela ação do homem e das mudanças climáticas. Com as aves marinhas o cenário é preocupante, mas há boas notícias.

Salvando as aves marinhas
20/3/2025 :: por Marco Pozzana, biólogo
A conservação de aves marinhas normalmente funciona, é o que mostra um conjunto de dados abrangente. Este é um tema de grande importância porque as aves desempenham um papel fundamental nos ecossistemas costeiros e oceânicos, mas estão enfrentando várias ameaças que colocam sua sobrevivência em risco.
As aves marinhas incluem espécies como albatrozes, petréis, gaivotas, fragatas e pinguins, que dependem do ambiente marinho para alimentação e reprodução. Mas a degradação dos oceanos é um problema complexo que exige colaboração internacional da sociedade para buscar soluções ambientais.

Atualmente, cerca de 30% das aves marinhas correm risco de extinção, o que posiciona elas entre os grupos mais vulneráveis do reino das aves.
Como salvar as aves marinhas?
A poluição dos oceanos é uma das principais ameaças: derramamentos de óleo, plásticos, produtos químicos e resíduos marinhos afetam negativamente as aves, poluindo seus habitats e causando danos à sua saúde. A degradação do habitat costeiro também é uma ameaça significativa. A urbanização, o desenvolvimento costeiro e a destruição dos manguezais e áreas de nidificação impactam diretamente as populações de aves marinhas.
As aves marinhas estão sujeitas à pesca acidental. Elas frequentemente ficam presas em redes de pesca ou capturam iscas em anzóis, resultando em lesões e mortes.

A mudança climática afeta as aves marinhas de várias maneiras. As alterações na temperatura do oceano, a elevação do nível do mar e os eventos climáticos extremos podem perturbar os padrões de reprodução e alimentação, afetando negativamente a saúde das aves.
Todavia, este cenário sombrio pode ser revertido. Pesquisadores reuniram um vasto conjunto de dados sobre projetos de restauração de aves marinhas ao redor do mundo, incluindo iniciativas que utilizaram técnicas de translocação e atração social. Esses métodos, pioneirizados pelo ornitólogo Stephen Kress, foram empregados mais de 850 vezes nos últimos 70 anos, frequentemente com notável sucesso.
Eficácia na conservação de aves marinhas
A translocação e a atração social surgem como estratégias promissoras para proteger tais aves contra ameaças como espécies invasoras e os impactos das mudanças climáticas.
Há cinco décadas, Kress teve uma visão ambiciosa para a ilha de Eastern Egg Rock, na costa do Maine: restaurar a colônia de papagaios-do-mar do Atlântico, dizimada pela caça no século XIX. À época, a restauração de aves marinhas era um território inexplorado, mas Kress estava determinado a tentar. Em 1973, iniciou a translocação de filhotes de papagaios-do-mar (Fratercula arctica), conhecidos como pufflings, do Canadá para a ilha. No entanto, nos primeiros quatro anos do projeto, enfrentou dificuldades para que as aves retornassem e se reproduzissem. Foi então que decidiu experimentar outra abordagem.
Ao ler um artigo na National Geographic sobre caçadores islandeses que usavam papagaios-do-mar mortos como iscas para atrair outras aves, Kress percebeu que a presença de indivíduos da mesma espécie poderia estimular o retorno das aves à ilha. Inspirado por essa observação, instalou esculturas de madeira, meticulosamente pintadas para imitar os papagaios-do-mar, em Eastern Egg Rock.
“Para minha surpresa, no mesmo dia em que posicionamos os chamarizes, tivemos nosso primeiro pouso”, relatou Kress. Entre os visitantes estavam aves anilhadas, revelando que eram, de fato, os filhotes translocados. Esse momento marcou um divisor de águas para o projeto.
Esperança para o futuro
Hoje, Eastern Egg Rock abriga uma próspera população de mais de 750 pares reprodutores de papagaios-do-mar. A abordagem inovadora foi replicada centenas de vezes ao redor do mundo.

Um estudo recente, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) e coassinado por Kress, documentou 851 iniciativas de restauração de aves marinhas nos últimos 70 anos, sendo a maioria realizada na última década. Esses projetos, distribuídos por 551 locais, envolveram 138 espécies.
Dentre esses eventos, 49 recorreram à translocação, transportando aves de um local para outro, enquanto 802 utilizaram a atração social, com chamarizes, espelhos, gravações sonoras e outras estratégias para estimular o retorno das aves. Em 52 casos, ambas as técnicas foram combinadas.
Os pesquisadores também lançaram o Seabird Restoration Database, um banco de dados que compila informações detalhadas sobre esses projetos, destacando êxitos e desafios.

Desafios
Além do desafio da nutrição, os projetos de restauração exigem um compromisso de longo prazo. Posto que, ao longo do tempo, as aves passam a cooperar naturalmente com os esforços de conservação. Kress explica que as aves possuem um forte instinto de sobrevivência e fidelidade ao local onde se reproduzem. Se a colônia for bem-sucedida ao se estabelecer, os próprios animais continuarão retornando ano após ano.
Portanto, mais do que um desafio técnico, a restauração das aves marinhas é um compromisso contínuo com a preservação da biodiversidade e a resiliência dos ecossistemas oceânicos. A educação e conscientização pública desempenham um papel fundamental na conservação das aves marinhas. Informar as pessoas sobre a importância dessas espécies e como protegê-las é essencial para promover a mudança de comportamento.

A reabilitação e o resgate de aves marinhas feridas ou debilitadas são importantes para sua recuperação. Centros de reabilitação especializados desempenham um papel crucial nesse processo.
Em suma, podemos dizer que programas de pesquisa e monitoramento são necessários para obter informações atualizadas sobre as populações de aves marinhas, seus movimentos migratórios e as ameaças que enfrentam. O desafio para salvar as espécies ameaçadas nos oceanos são enormes, mas com investimentos, colaboração internacional e conscientização podemos alcançar resultados gratificantes.
Fontes e referências:
- Spatz, D. R., Young, L. C., Holmes, N. D., Jones, H. P., VanderWerf, E. A., Lyons, D. E., … Taylor, G. A. (2023). Tracking the global application of conservation translocation and social attraction to reverse seabird declines. Proceedings of the National Academy of Sciences, 120(16). doi:10.1073/pnas.2214574120
- Seabird conservation mostly works, comprehensive new data set shows – Mongabay (em inglês).
