Degradação ambiental e epidemias
Degradação ambiental e epidemias: Da floresta para as cidades. Degradação ambiental pode favorecer emergência de vírus desconhecidos e desencadear pandemias como a do novo coronavírus.
Degradação ambiental e epidemias
12/6/2020 :: Rodrigo de Oliveira Andrade / Pesquisa FAPESP. CC BY-ND 4.0
O desmatamento na Amazônia voltou a acelerar nos primeiros meses de 2020. Entre janeiro e abril, pouco mais de 1.200 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos, um aumento de 55% em relação ao mesmo período de 2019, segundo dados divulgados em maio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O desmatamento é um problema antigo no Brasil. No entanto, em um momento em que os olhos do mundo estão todos voltados para a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), a preocupação com a degradação do meio ambiente ganhou um significado ainda mais grave: a destruição das florestas aumenta o risco de seres humanos entrarem em contato com animais hospedeiros de vírus que podem causar doenças desconhecidas, como a Covid-19.
Essa preocupação foi reforçada em um estudo publicado em abril na revista Landscape Ecology por pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Eles cruzaram imagens de satélite com dados obtidos por meio de entrevistas com mais de 900 pessoas em áreas agrícolas próximas ao Parque Nacional da Floresta Kibale, em Uganda, África.
Menos florestas no avanço da agricultura
A ideia era determinar o grau de contato entre seres humanos e macacos, em qual parte da região estudada ocorriam e se esses fatores aumentavam o risco de vírus pularem de animais para pessoas.
Os pesquisadores verificaram que o avanço da agricultura sobre a floresta aumentou a densidade populacional na região. Muitas pessoas se estabeleceram em áreas próximas a fragmentos florestais, onde humanos e animais compartilham o mesmo espaço e amiúde competem pela mesma comida.
A maior proximidade abriu brechas para situações de risco de transmissão de vírus entre animais e seres humanos. Algumas delas foram registradas pelos pesquisadores: um menino mordido por um macaco da espécie Colobus guereza enquanto brincava no quintal de sua casa.
Um homem embrenhado na floresta em busca de madeira que tentou salvar um macaco de L’Hoest (Cercopithecus lhoesti) das garras de um cachorro do mato; e uma mulher que encontrou o corpo de um macaco-vervet (Chlorocebus pygerythrus) no meio da sua plantação de milho e o manuseou sem nenhuma proteção, entrando em contato com sangue e secreções.
Degradação do meio ambiente
“Essas situações exemplificam algumas maneiras pelas quais os vírus podem quebrar seu ciclo zoonótico e infectar os seres humanos”, esclarece a bióloga Paula Prist, do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação da Universidade de São Paulo (USP).
“Pode-se dizer que todas se deram em razão da degradação do meio ambiente”, comenta a pesquisadora, que estuda como o desmatamento em São Paulo afeta o risco de disseminação do hantavírus, transmitido por roedores e responsável por uma síndrome pulmonar pouco frequente em humanos, mas quase sempre fatal.
Uma das causas do aumento do risco de transmissão é a redução da diversidade de espécies em regiões desmatadas. “A transformação de ambientes florestais em pastos ou áreas agrícolas quase sempre diminui a variedade de espécies locais”, explica Prist. “Sem predadores naturais, algumas espécies se adaptam à nova paisagem e se reproduzem de forma descontrolada.”
O aumento da população desses animais, muitas vezes reservatórios de vírus, pode elevar o risco de contato e transmissão de microrganismos antes restritos ao ambiente florestal para seres humanos. É o caso dos roedores selvagens transmissores do hantavírus, que se adaptaram bem às áreas de plantações de cana-de-açúcar no interior de São Paulo a partir dos anos 2000.
Fonte: Revista Fapesp > Da floresta para as cidades
Você precisa fazer login para comentar.