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Furão-do-pé-preto

Furão-do-pé-preto: a espécie de mustelídeo endêmica do centro da América do Norte (Mustela nigripes) foi declarada extinta em 1979. Com a descoberta de uma população selvagem e investimentos em um programa de conservação, o animal persiste, embora ameaçado de extinção.
artigo original www.biologo.com.br

Furão-do-pé-preto, uma épica história de luta contra a extinção

31/8/2022 ::  por Marco Pozzana, biólogo

O furão-do-pé-preto (Mustela nigripes) é uma daquelas fascinantes espécies que por pouco não foi perdida para sempre. Felizmente uma pequena população persistiu, possibilitando uma nova chance de salvação.

black-footed ferret on Make a GIFO Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos implementou um programa de criação em cativeiro que permitiu a reintrodução em oito estados do oeste dos EUA, Canadá e México de 1991 a 2009. Mesmo assim, a situação da espécie é muito delicada.

A crise de extinção que o planeta enfrenta é urgente, ameaçando a biodiversidade, mesmo com os esforços dos conservacionistas. Onde os métodos convencionais de conservação falharam, biotecnologias como clonagem e células-tronco tornam-se boas possibilidades, até para recuperar a diversidade genética perdida.

Pois mesmo com a polêmica aflorada no campo da bioética, os cientistas clonaram com sucesso animais ameaçados como o furão-do-pé-preto e o cavalo-de-przewalski, proporcionando esperança renovada na proteção das espécies.

Outros nomes: Doninha-de-patas-pretas, doninha-americana, toirão-americano, furão-do-pé-preto, furão-de-patas-pretas, furão-de-patas-negras 

Com um corpo longo e esbelto e contornos pretos nas patas, orelhas, partes do rosto e cauda, o furão-do-pé-preto atrai nossa atenção com sua aparência “fofa”.

O pescoço é longo e as pernas curtas e fortes. O rosto é atravessado por uma faixa negra larga, que inclui os olhos. O focinho é curto e com poucas vibrissas. As orelhas são triangulares, curtas, eretas e largas na base. Os pés são cobertos de pêlos, ocultando as garras afiadas, levemente arqueadas. Os machos que geralmente são 10% maiores que as fêmeas, medem de 50 a 53 cm de comprimento do corpo, com uma cauda de cerca de 12 cm.Steppe Polecat - Mustela Eversmanii GIF by likkaon | Gfycat

Mustela nigripes (Audubon & Bachman, 1851)

É um animal solitário, exceto para reprodução ou cria das ninhadas. É principalmente noturno, mais ativo na superfície do anoitecer à meia-noite e das 4 da manhã ao meio da manhã. 

Até 90% da alimento do furão-do-pé-preto consiste em cães-da-pradaria, roedores da família Sciuridae. O restante da dieta inclui outros pequenos animais, variando com a oferta da região. 

O animal é conhecido pela ciência desde 1851, quando os autores norte-americanos — John Bachman (1790-1874), ministro luterano, ativista social e naturalista, juntamente com John James Audubon (1785-1851) naturalista, ornitólogo e artista — descreveram a espécie. 

furão-do-pé-preto (Mustela nigripes)
Furão-do-pé-preto (Mustela nigripes) © Ryan Hagerty/USFWS

Conservação

Antes largamente difundida, indo de Alberta ao Texas, Novo México e Arizona, a espécie sofreu muito com diversas ameaças ao longo do século XX, principalmente como resultado da diminuição das populações de cães-da-pradaria, seu principal alimento, e da peste silvestre, uma doença causada pela bactéria Yersinia pestis.

furão-de-patas-negras
Em 2020, uma equipe de pesquisadores clonou pela 1ª vez o furão-de-patas-negras. © Revive & Restore.

Estudos com a M. nigripes de Wyoming revelaram baixos níveis de variação genética. A cinomose canina devastou em 1985 a população de furões de Meeteetse. 

O cenário era tão ruim que, em 1979, foi o furão-de-patas-negras foi declarado extinto. Uma população foi descoberta no Wyoming em 1981 mobilizando biólogos, conservacionistas e governo no desafio de salvar a espécie. Em 1996 a IUCN classificou a espécie como “extinta na natureza” antes da atualização para “em perigo” em 2008. Em 2015 foi feita a última atualização e a espécie permanecia na mesma categoria.

Luta contra a extinção

O governo entrou em ação, com um programa de criação em cativeiro que tem sido de grande valia na conservação, com diversas reintroduções bem-sucedidas. Em fevereiro de 2021, o primeiro clone bem-sucedido de um furão-de-patas-negras, uma fêmea chamada Elizabeth Ann, foi apresentada ao público (foto ao lado). Foi a primeira espécie norte-americana ameaçada de extinção a ser clonada.

Os cientistas esperam que a clonagem alivie os efeitos da endogamia: especialistas estimam que o genoma desta fêmea contém três vezes mais diversidade genética do que qualquer uma das doninhas-de-patas-pretas selvagens.

Best Mustela Nigripes GIFs | Gfycat

Felizmente, o furão-do-pé-preto é um exemplo de espécie beneficiada por uma forte ciência reprodutiva. O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, juntamente com agências estaduais e tribais, proprietários de terras, grupos de conservação e zoológicos norte-americanos tem reintroduzido a espécie na natureza desde 1991.

A implementação de esforços para conservar grandes paisagens de cães-da-pradaria e ferramentas de mitigação de pragas são muito importantes para conservar a população de furões-de-patas-negras. Para salvar uma espécie tão ameaçada, qualquer tentativa é válida.

Fontes e referências:

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