Biologia

Os últimos Tietê-de-coroa

Um dos pássaros mais enigmáticos, o raríssimo (e talvez extinto) tietê-de-coroa (Calyptura cristata), endêmico da Mata Atlântica, não é avistado desde 1996.

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Os últimos Tietê-de-coroa

19/05/2024 ::  por Marco Pozzana

O Tietê-de-coroa é uma ave muito pequena, medindo cerca de 7,5 cm de comprimento. Possui partes superiores verde-oliva e partes inferiores amareladas, com uma crista curta e característica na cabeça.

Esta ave da Mata Atlântica, habita florestas de altitude. Devido à destruição do habitat, sua população diminuiu drasticamente.

O Tietê-de-coroa foi considerado extinto por muitos anos, pois não houve avistamentos confirmados por um longo período. No entanto, relatos ocasionais indicam que a espécie pode ainda sobreviver em pequenos números. Atualmente, está listado como Criticamente Ameaçado na Lista Vermelha da IUCN, mas é possível que a ave já esteja extinta.

Tietê-de-coroa (Calyptura cristata)

Calyptura cristata (Vieillot, 1818)

Esta que é a única espécie do gênero Calyptura, foi classificada por Louis Jean Pierre Vieillot em 1818. Segundo Helmut Sick, este pássaro de 7.6 cm “possui um bico curto e grosso, cauda bem curta e um topete vermelho (amarelado, na fêmea), ladeado de negro, com o corpo apresentando principalmente um padrão de verde por cima e amarelo por baixo”. Segundo Descourtilz (1854) sua vocalização consiste de um chamado breve, rouco e forte.

Após décadas sem registros, o Tietê-de-coroa foi redescoberto por uma equipe de cientistas, entre eles o biólogo Ricardo Parrini, em 27 de outubro de 1996 no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro. Desde então, houve poucos avistamentos não confirmados, reforçando a necessidade de esforços de conservação. No final de 2023, uma pesquisa identificou 104 espécimes em coleções de 47 museus, reforçando o fato de que pássaro era facilmente encontrado nas florestas fluminenses.

Pouco se sabe sobre o comportamento desta ave devido à sua raridade e natureza evasiva. Presume-se que se alimente de insetos e pequenos frutos. Dados de reprodução desta espécie são desconhecidos.

Os últimos Tietê-de-coroa
Ilustração em aquarela

Conservação

O desmatamento e a mineração de ouro e pedras preciosas e as plantações de café que ocorreram nas áreas onde os espécimes foram inicialmente coletados estão entre os principais fatores apontados para a situação crítica dos Calyptura.

O tietê-de-coroa é um símbolo dos desafios de conservação enfrentados pela Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo. Hoje restam, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, apenas 12,4% da floresta que existia originalmente. Endêmicos do bioma, as populações dos tietê-de-coroa dependem de projetos de conservação e estudos para que possam persistir.

Os esforços de conservação são essenciais para proteger essas espécies e seus habitats. Organizações governamentais e não-governamentais trabalham para preservar a biodiversidade brasileira através de programas de reprodução em cativeiro, restauração de habitats e educação ambiental.

Registrar esta espécie na natureza seria o “Santo Graal” para conservacionistas e observadores de aves. A redescoberta ajudaria a levantar fundos e argumentos para novas pesquisas e projetos de conservação na região, ajudando também na conservação da Mata Atlântica. De todo modo, se esta mítica ave futuramente tiver sua extinção confirmada, teremos ainda mais motivos para lutar para salvar a biodiversidade do bioma.

Fontes e referências:

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