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Declínio dos insetos terrestres

Declínio dos insetos terrestres: novos estudos apontam que os insetos terrestres estão diminuindo em abundância e diversidade no Brasil, impactando também a cadeia ecológica. Insetos aquáticos, por sua vez, apresentam relativa estabilidade. artigo original www.biologo.com.br

Declínio dos insetos terrestres no Brasil

11/10/2022 ::  por Marco Pozzana, biólogo

Se você tem a impressão que costumava ver mais insetos, das mais variadas espécies, do que costuma ver hoje em dia, tem motivos para pensar assim.Stick Bug GIFs | Tenor

Uma pesquisa publicada em 24 de agosto no jornal científico Biology Letters, reforça a noção do declínio dos insetos — o grupo mais diversificado entre os artrópodes e peça-chave na ecologia e meio ambiente —  no Brasil.

Uma queda assim tão significativa nas populações de insetos tem consequências dramáticas para a ecologia. Por exemplo, a polinização de plantas, e a reciclagem de resíduos que ajudam a construir solos férteis ficam comprometidas.

Também não se pode esquecer que os insetos são a principal fonte de alimento para muitas espécies animais, e um complemento indispensável para a dieta de tantas outras.

O declínio dos insetos terrestres no Brasil

Não se sabe ao certo o mecanismo que está acelerando esse declínio, no entanto, as razões para a queda na biodiversidade de espécies no Brasil são provavelmente as mesmas de todos os outros lugares: destruição de habitat, mudanças climáticas e pesticidas, usados cada vez mais no país.

Faltam estudos, especialmente em países tropicais

O paradoxo é que a maior parte das pesquisas que rastreiam o declínio da abundância e diversidade de insetos foi realizada em países com mais recursos na Europa e na América do Norte.

Isso mostra que os pesquisadores continuam focados principalmente em espécies temperadas, embora a enorme maioria dos insetos do mundo, seja encontrada nos trópicos. Acredita-se que a maioria das espécies de insetos tropicais permanece desconhecida pela ciência.

Declínio dos insetos terrestres no Brasil
Bicho-pau é o nome comum dado aos insetos da ordem Phasmatodea, © Mauricio Mercadante

É claro que a maioria dos países tropicais carece de recursos para financiamento de projetos científicos. Mas essa lógica tem que ser revertida logo, pois muitas espécies tropicais estão sendo perdidas antes mesmo de serem conhecidas.

“No geral, os estudos globais estão vendo um declínio nos insetos, e o estudo que fizemos é mais uma evidência da tendência”, diz a coautora Kayna Agostini, da Universidade Federal de São Carlos.

Para contornar essa escassez de dados de longo prazo sobre insetos tropicais, os cientistas usaram meios criativos para reunir dados, incluindo entrar em contato com mais de 150 pesquisadores em todo o Brasil para obter dados não publicados.

Eles avaliaram as tendências de insetos em estudos publicados e não publicados, relatórios técnicos e teses e periódicos tão pequenos que não aparecem em pesquisas de literatura científica.

Menos diversidade de insetos tropicais

As descobertas não são surpreendentes nem animadoras, mas adicionam dados críticos onde faltam estudos no mapa global de insetos.

Já os resultados para insetos aquáticos foram muito diferentes. A maioria dos estudos avaliados encontrou uma tendência estável para insetos aquáticos em abundância e diversidade.Os vilões do desmatamento

Embora o estudo tenha sido abrangente, certas lacunas permanecem. A maior parte das pesquisas reunidas concentrou-se na Mata Atlântica, com os campos do Cerrado e a floresta amazônica também representados, embora em menor número de estudos. Não foram encontrados estudos para dois dos maiores ecossistemas do Brasil: as florestas secas da Caatinga e o Pantanal – outra evidência da escassez de pesquisas com insetos tropicais.

Pesticidas e desmatamento: o Brasil dos últimos anos

O Brasil tem uma das maiores taxas de desmatamento do mundo. A destruição da floresta amazônica aumentou no atual governo, que desmantelou as regulamentações ambientais, atacou agências ambientais e incentivou uma extensa rede de novas estradas que penetram na floresta.

O Brasil também é um dos países com mais uso indiscriminado de agrotóxicos no mundo, com impacto profundo nos insetos. A mudança climática também afetou as populações, de acordo com os entomologistas. O clima extremo com o agravamento do aquecimento global também tem o potencial de perturbar as necessidades básicas dos insetos.

Com uma situação ambiental tão dramática, é preciso mais investimentos para a pesquisa com a fauna de insetos do Brasil que a ciência ainda desconhece. Antes que essa riqueza se perca para sempre.

Fontes e referências:
  • Lewinsohn, T. M., Agostini, K., Lucci Freitas, A. V., & Melo, A. S. (2022). Insect decline in Brazil: An appraisal of current evidenceBiology Letters18(8). doi:10.1098/rsbl.2022.0219 (em inglês).
  • Trouble in the tropics: The terrestrial insects of Brazil are in decline (5/10/2020) Mongabay (em inglês).
  • Van Klink, R., Bowler, D. E., Gongalsky, K. B., Swengel, A. B., Gentile, A., & Chase, J. M. (2020). Meta-analysis reveals declines in terrestrial but increases in freshwater insect abundancesScience368(6489), 417-420. doi:10.1126/science.aax9931 (em inglês).

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