Fungos patogênicos
Fungos patogênicos: Espécies de Candida e Aspergillus causam infecções resistentes a medicamentos e matam mais que malária e tuberculose.
Fungos patogênicos
09/7/2020 :: Carlos Fioravanti / Pesquisa FAPESP. CC BY-ND 4.0
É uma jaula de bichos perigosos. Em caixas metálicas dentro de um freezer a 80º Celsius negativos em um dos laboratórios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o infectologista Arnaldo Colombo mantém uma coleção com cerca de 4 mil amostras de leveduras e mil de fungos filamentosos colhidos de pacientes tratados em hospitais de todo o país.
Os fungos eram considerados inofensivos até alguns anos atrás, mas – como resultado da redução das defesas naturais das pessoas, causada por doenças ou medicamentos – aos poucos se tornaram agressivos e estão se espalhando em silêncio e causando infecções graves, resistentes a antifúngicos, e fatais.
Quase 4 milhões de pessoas no Brasil devem ter infecções fúngicas a cada ano, de acordo com um levantamento realizado por Juliana Giacomazzi, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Desse total, 2,8 milhões são infecções causadas por Candida e 1 milhão por Aspergillus, que avançam principalmente em pessoas com defesas orgânicas enfraquecidas em razão do uso de medicamentos contra rejeição de órgãos transplantados, câncer ou Aids, do uso intensivo de antibióticos ou de procedimentos invasivos como sondas e catéteres em unidades de terapia intensiva (UTI).
Cryptococcus
No mundo, o número de casos registrados de meningite causadas por Cryptococcus neoformans e C. gattii passou de poucas centenas na década de 1950 para o atual 1 milhão por ano, principalmente em pessoas com HIV/Aids. Estima-se que todos os fungos patológicos provoquem 11,5 milhões de infecções graves e micoses superficiais recorrentes, com 1,5 milhão de mortes por ano, mais que o total de óbitos decorrentes da malária e da tuberculose.
“Sabe o que aconteceu neste caso?”, perguntou Colombo ao mostrar uma placa em que vários fármacos foram aplicados sobre amostras de uma variedade de um fungo recém-chegado ao seu laboratório para identificação e análise. “Nenhum fármaco funcionou e o paciente morreu em decorrência da infecção.”
Várias espécies de fungos estão se mostrando resistentes aos poucos medicamentos usados para combatê-los. Em 2013 a equipe da Unifesp indicou a Candida glabrata como uma das mais preocupantes entre os casos de infecções hospitalares, por ter se mostrado resistente a quase todos os antifúngicos, começando pelo fluconazol, o mais usado, ocasionando uma taxa de mortalidade próxima a 50% em pessoas internadas em UTI.
Duas espécies de fungos, Aspergillus fumigatus e Fusarium solani, foram isoladas em 36 das 164 amostras de água usada em uma unidade oncológica pediátrica de um hospital da cidade de São Paulo, indicando que o próprio sistema de abastecimento poderia ser uma fonte de contaminação, já que os propágulos – ou esporos, estruturas reprodutivas semelhantes a sementes – dos fungos poderiam ser transmitidos durante o uso das torneiras ou do chuveiro.
Artigos científicos
BENADUCCI, T. et al. Virulence of Cryptococcus sp biofilms in vitro and in vivo using Galleria mellonella as an alternative model. Frontiers in Microbiology. v. 7, p. 290. 2016.
COLOMBO, A.L. et al. Candida glabrata: An emerging pathogen in Brazilian tertiary care hospitals. Medical Mycology. v. 51, n. 1, p. 38-44. 2013.
GIACOMAZZI, J. et al. The burden of serious human fungal infections in Brazil. Mycoses. v. 59, n. 3, p. 145-50. 2016.
Fonte: Revista Fapesp > O ataque silencioso dos fungos
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