Pica-pau-da-taboca
Pica-pau-da-taboca: bela ave endêmica dos cerrados do Brasil, o pica-pau-da-taboca (Celeus obrieni) ficou 80 anos sem ser vista, por isso, chegou a ser considerada extinta. Todavia, foi “redescoberta” no Tocantins, mas corre risco de extinção com as populações em declínio segundo da IUCN.

Pica-pau-da-taboca: uma ave rara do Brasil
6/9/2023 :: por Marco Pozzana
Com 45,6% de sua vegetação original alterada, o Cerrado, segundo bioma brasileiro mais extenso e um dos mais ricos em diversidade de plantas e animais, encontra-se ameaçado. Está se tornando mais quente, seco e propenso a grandes queimadas.

Tamanha degradação tem impacto direto sobre a fauna: com o pica-pau-da-taboca (Celeus obrieni) ou pica-pau-do-parnaíba não poderia ser diferente e a ave enfrenta problemas cada vez mais complexos..
Celeus obrieni
Essa bonita ave do Cerrado ocorre nos estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Maranhão. Foi descrita pela primeira vez pelo ornitólogo Emil Kaempfer em meados da década de 1920, no Piauí. Inicialmente foi considerada uma subespécie do pica-pau-lindo (Celeus spectabilis). Somente no início dos anos 2000 que as diferenças entre as duas espécies de pica-pau apontaram que o pica-pau-da-taboca era uma espécie distinta e endêmica do Brasil.
O epíteto específico homenageia Charles O’Brien, que primeiro notou a singularidade do espécime. Já o nome popular inglês da espécie é Kaempfer’s woodpecker, uma homenagem à Kaempfer, que coletou o espécime-tipo (uma fêmea).

Pica-pau-do-parnaíba
Após 80 anos sem ser vista pelos cientistas e amantes de aves, em 2006, o biólogo Advaldo Prado capturou um indivíduo vivo no Tocantins. Outros avistamentos se seguiram em outros estados e os cientistas entenderam que a espécie não é tão rara quanto se pensava. Todavia, a situação é delicada com a degradação do seu bioma, e segue listada pela IUCN como ‘vulnerável” com as estimativas apontando para que existam, no máximo, 6,000 animais maduros.
O animal maduro mede cerca de 24 centímetros. Essas aves têm cabeça ruiva com crista espessa, pescoço posterior e a parte superior amarelados, com algumas barras pretas no manto e nos escapulários. Os machos adultos apresentam uma mancha malar vermelha brilhante e um pouco de vermelho atrás dos olhos e na crista. As fêmeas não têm nenhum vermelho brilhante.
Aprecia áreas de floresta com taboca, uma espécie de bambu e embaúbas, alimentando-se principalmente de formigas presentes nestes vegetais.
A saúde das populações de aves, incluindo o Pica-pau-da-taboca, pode servir como indicador do estado geral do ambiente. Mudanças em suas populações podem sinalizar problemas ambientais, como desmatamento, poluição ou alterações climáticas.
O pica-pau-da-taboca faz parte da rica biodiversidade do Cerrado, uma das áreas mais diversas em termos de vida selvagem do mundo: estima-se que possua mais de 6 mil espécies de árvores e 800 espécies de aves (MMA, 2002). A preservação do pica-pau-do-parnaíba contribui para a manutenção dessa biodiversidade única.
No Tocantins, onde a Floresta Amazônica encontra o Cerrado, o Instituto Araguaia, criou a primeira área protegida para o pica-pau, no Parque Estadual do Cantão, com o intuito de preservar o que resta do bioma Cerrado e sua biodiversidade. Iniciativas assim são indispensáveis para a proteção da fauna do Cerrado.
Fontes e referências:
- BirdLife International. 2018. Celeus obrieni. The IUCN Red List of Threatened Species 2018: e.T22731646A131330745. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T22731646A131330745.en. Accessed on 07 September 2023.
- Pacheco, José Fernando; Minns, Jeremy; Silveira, Luis Fábio; Olmos, Fabio (December 2006). “Proposal (249) to South American Classification Committee: Change the English name of Celeus obrieni to Kaempfer’s Woodpecker”. South American Classification Committee.
- del Hoyo, J., N. Collar, C. J. Sharpe, and D. A. Christie (2020). Kaempfer’s Woodpecker (Celeus obrieni), version 1.0. In Birds of the World (J. del Hoyo, A. Elliott, J. Sargatal, D. A. Christie, and E. de Juana, Editors). Cornell Lab of Ornithology, Ithaca, NY, USA. https://doi.org/10.2173/bow.caawoo1.01
- Short, Lester (1973). “A new race of Celeus spectabilis from eastern Brazil”. The Wilson Bulletin. 85 (4): 465–467.
