Toninha, uma tragédia anunciada
Toninha: vítima da pesca acidental e do desastre de Mariana, a toninha (Pontoporia blainvillei) preocupa os conservacionistas. É a única espécie de golfinho em ameaça de extinção no Brasil, e possivelmente a mais ameaçada da América do Sul.
Toninha, uma tragédia anunciada
27/4/2022 :: Marco Pozzana, biólogo
Os biólogos já manifestavam grande preocupação com a conservação da Toninha, por conta do número sempre menor desse cetáceo encontrado em nosso litoral. Até que ocorreu o desastre de Mariana, o rompimento da Barragem de Fundão em 2015, tida como a maior tragédia ambiental da história do Brasil.
O evento levou mais de 60 milhões de toneladas de rejeitos de mineração através do Rio Doce atingindo toda a área de ocorrência da toninha no Espírito Santo e impactando fortemente a população no litoral do estado. Desde então, a situação não melhorou. A espécie ainda é muito pescada acidentalmente em redes, por viverem perto da costa, a área mais visada por pescadores.
Nesse mês, o Instituto Baleia Jubarte (IBJ) emitiu nota técnica encaminhada aos órgãos ambientais e aos ministérios públicos Federal e Estadual alertando para a extinção iminente das Toninhas do norte do Espírito Santo.
Os autores da nota alertaram para o “iminente risco das toninhas (Pantoporia blainvillei) serem extintas no Espírito Santo se não forem tomadas com urgência medidas para reduzir sua mortalidade”.
Quando são encontrados mortos nas praias, os cientistas aproveitam para estudar as carcaças. A análise química tem mostrado um aumento na concentração de mercúrio e zinco no músculo e fígado dos animais encalhados após a chegada da lama da mineração.
Toninha ou franciscana (Pantoporia blainvillei) “La Plata dolphin”
Única espécie do gênero Pontoporia, a toninha vive nas águas costeiras do Brasil (do Espírito Santo à Região Sul) e da Argentina e Uruguai, e encontrada ocasionalmente em certos rios.
Animal de comportamento discreto e solitário, vive em média entre 15 e 20 anos, pesando de 36 kg e 50 kg e medindo cerca de 1,8 m de comprimento. Sua dieta consiste principalmente de pequenos peixes, moluscos e crustáceos.
É um dos menores golfinhos do mundo e tem o bico mais longo (em proporção ao tamanho do corpo) de qualquer cetáceo. O corpo é marrom acinzentado, com a parte inferior mais clara.
A toninha tem hábitos costeiros, mantendo-se principalmente em áreas com profundidade máxima de vinte metros. A maturidade sexual é alcançada entre dois e três anos.
Conservação
A toninha está listada como “Vulnerável” na IUCN. No entanto, a situação provavelmente está agravada desde 2017, o ano da última classificação. Cientistas dos três países com presença da franciscana no litoral expressaram preocupações e pediram ajuda internacional para salvar a espécie.
Os biólogos sugerem medidas urgentes de proteção, como a proibição efetiva da pesca com rede de emalhe mas principais áreas de ocorrência. Tais medidas devem ser acompanhadas de compensação financeira aos pescadores locais. Além disso, uma fiscalização eficiente da pesca no trecho proposto é indispensável.
Fontes e referências:
- Zerbini, A.N., Secchi, E., Crespo, E., Danilewicz, D. & Reeves, R. 2017. Pontoporia blainvillei (errata version published in 2018). The IUCN Red List of Threatened Species 2017: e.T17978A123792204. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2017-3.RLTS.T17978A50371075.en. Accessed on 28 April 2022 (em inglês).
- Bordino, P.; Siciliano, S.; Bastida, R.; Cremer, M. (2002). “Report of the Working Group on Distribution and Behavior”. Latin American Journal of Aquatic Mammals. 1. doi:10.5597/lajam00004. (em inglês).
- Crespo, Enrique A.; Harris, Guillermo; Gonzalez, Raul (October 1998). “Group Size and Distributional Range of the Franciscana, Pontoporia Blainvillei“. Marine Mammal Science. 14 (4): 845–849. doi:10.1111/j.1748-7692.1998.tb00768.x. ISSN 0824-0469. (em inglês).
- Toninhas do norte do Espírito Santo quase extintas – Mar sem fim
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