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Salvando as tartarugas

Salvando as tartarugas: Uso conjugado de registros de som, imagens aéreas e dados ambientais tenta melhorar o monitoramento de espécie amazônica ameaçada de extinção

Salvando as tartarugas

17/7/2020 ::  Rubem Barros / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

A proteção de uma espécie de quelônio da Amazônia sob risco de extinção ganhou recursos adicionais. O acompanhamento do período de desova da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), marcado pelo comportamento gregário da espécie e vulnerabilidade à caça ilegal, está sendo feito com o uso integrado de novas tecnologias.

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foto: ICMBio

Além de sensores para registro de dados ambientais e de microfones e hidrofones para a captação dos sons emitidos pelos animais, drones são usados para imageamento do ciclo da desova.

Câmeras em veículos aéreos captam as etapas do processo, como o agrupamento das tartarugas no rio, a chegada conjunta à praia para a postura nos ninhos e a recepção aos filhotes após a eclosão dos ovos.

Salvando as tartarugas
Equipes do Programa Quelônios da Amazônia protegem tartarugas. Foto: Felipe Werneck/Ibama

O emprego simultâneo dessas tecnologias é fruto de um projeto liderado pela bióloga Camila Ferrara, da Associação de Conservação da Vida Silvestre (WCS), organização não governamental presente em 164 países. O estudo tem apoio da Fundação Grupo Boticário (FGB).

Essa é a primeira iniciativa para conservação de tartarugas que usa as três tecnologias em conjunto, segundo Ferrara. Estudiosa da tartaruga-da-amazônia, ela descobriu a existência de comunicação sonora entre os animais da espécie durante o doutorado concluído em 2012 no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. O estudo foi o segundo, em nível mundial, a mostrar esse tipo de comunicação entre tartarugas.

Para proteger as tartarugas

Agora, para flagrar a comunicação entre os indivíduos, foram instalados microfones nos ninhos e hidrofones no leito do rio. A coleta de variáveis ambientais é feita por meio de instrumentos eletrônicos chamados dataloggers, que medem a temperatura na água e nos ninhos. Informações sobre o nível do rio são coletadas na Associação Nacional de Águas (ANA). A bióloga Camila Fagundes, também vinculada à WCS e especialista em Sistemas de Informação Geográfica (SIG), é responsável pela operação do drone e pela análise das imagens captadas.

A tartaruga-da-amazônia se distingue por apresentar acentuado comportamento social e movimentação coletiva. As fêmeas emitem sons de baixa frequência, de maior alcance, quando estão se agrupando antes de saírem para a desova, como forma de chamar aquelas que estão mais distantes. Quando saem do rio, os sons são de uma frequência um pouco mais elevada, para organizar o movimento de chegada à praia.

“Elas saem quase em fila indiana”, conta Ferrara.

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O projeto atual da pesquisadora foi escolhido para ser financiado pela FGB a partir de um edital lançado em 2019. Uma das exigências era o uso de metodologias inovadoras na conservação da natureza. “Não havia nenhum projeto com essas características voltado a tartarugas. Iniciativas como essa trazem a tecnologia para a conservação”, diz a bióloga Karynna Tolentino, analista de Projetos Ambientais da fundação. Prevista para durar dois anos, a pesquisa foi contemplada com R$ 190 mil.

Artigo científico

FERRARA, C. R. et alSound communication and social behavior in the giant amazon river turtle (Podocnemis expansa)Herpetological Bulletin. v. 7, p. 149-56. 2014.

Fonte: Revista FapespPara proteger as tartarugas

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