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Uma nova Origem das Espécies

Uma nova Origem das Espécies: Edições brasileiras do clássico de Charles Darwin põem em contexto a construção da teoria evolutiva.

Em 2019 celebraremos o aniversário de 160 anos de A origem das espécies. Desde já é recomendável a leitura da obra atualizada. 

Uma nova Origem das Espécies

por Maria Guimarães/Pesquisa FAPESP ::  Se um grupo de evolucionistas for trancado em uma sala até chegarem a um acordo sobre a melhor definição de espécie, é possível que fiquem lá para sempre.

Frases de Charles Darwin

Em meio a ferramentas e conceitos das diversas áreas da biologia – genética, anatomia, fisiologia, ecologia – é difícil priorizar e decidir qual é determinante na fronteira entre um organismo e outro.

Há quem diga que espécies não existem propriamente, já que cada organismo é um momento transitório de uma linhagem. A discussão pode ser moderna e cheia de detalhes que dependem de descobertas das últimas décadas, mas está enraizada no que o naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) publicou há quase 160 anos em A origem das espécies.

Pedro Paulo Pimenta: Uma nova Origem das Espécies

ornitologia
Ornitologia. Illustrations of the American ornithology of Alexander Wilson and Charles Lucian Bonaparte

Não à toa, uma publicação revolucionária em seu contexto. Leitores brasileiros ganharam este ano duas belas edições do clássico, a mais recente pela editora Ubu, com tradução e organização do filósofo Pedro Paulo Pimenta, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). “A espécie é a variedade que dura enquanto a gente está olhando”, resume. A visão evolutiva acaba tornando essa categoria de classificação um tanto artificial, pouco mais do que um nome.

Pimenta iniciou a coordenação do volume planejando o aparato crítico. Além da apresentação direcionada a um público amplo, na qual discute o contexto de pensamento da época, o conjunto abrange os textos de Darwin e de seu conterrâneo Alfred Russel Wallace (1823-1913), apresentados na Linnean Society de Londres como coautoria da teoria da modificação das espécies por seleção natural, três resenhas da época, dois capítulos incluídos por Darwin em edições subsequentes de A origem das espécies e um providencial glossário de quem é quem nessa evolução do conhecimento.

“Muito da ciência envolvida em A origem das espécies já caducou, mas o pensamento que ela suscita ainda vale”

origem das espécies
A origem das espécies

O filósofo acabou por também assumir a tradução do livro, com a prioridade de produzir um texto que funcionasse bem em português, sem perder o sabor do século XIX. “Mantive o estilo, a sintaxe e a terminologia fiéis ao original”, conta.

O Gênio de Darwin – Uma nova Origem das Espécies

O esboço histórico, capítulo que Darwin acrescentou à terceira edição, presta contas de maneira algo protocolar aos antecessores que contribuíram para as suas conclusões. Logo no início, Pimenta chama a atenção para uma imprecisão na menção ao filósofo da Grécia Antiga Aristóteles, como se ele fosse de certa maneira precursor das ideias transformistas ou evolutivas.

“O gênio de Darwin foi perceber que o mais adaptado sobrevive, mas o organismo não tem como prever o próximo passo”, diz Pimenta, ressaltando que o próprio britânico teve dificuldades em aceitar a insegurança dessa visão.

Documentário A biografia de Charles Darwin
Documentário A biografia de Charles Darwin

Uma nota de rodapé explica que o britânico recebeu de um amigo uma tradução falha do ensaio Das partes dos animais. O biólogo Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP e especialista na obra e no pensamento de Darwin, detalha que Aristóteles tinha o costume de redigir o trecho de outro autor que pretendia comentar, para em seguida tecer sua crítica.

O colaborador de Darwin teria enviado a tradução dessa primeira parte. “Na verdade, tratava-se de Empédocles e não Aristóteles”, afirma Bizzo, responsável pela organização e revisão técnica da edição de A origem das espécies publicada também este ano pela Edipro.

> Livro: DARWIN, C. A origem das espécies. 1859. São Paulo: Ubu e Edipro, 2018.

Hoje o leitor pode escolher entre uma edição contextualizada pela fortuna crítica organizada por Pimenta, e o texto original de Darwin comentado em detalhe pela revisão técnica de Bizzo – ou ler ambos. Em 2019, aniversário de 160 anos de A origem das espécies, a publicação da Filosofia natural de Lamarck pela Edusp enriquecerá o contexto e pode render bons debates em fevereiro, quando tradicionalmente se comemora o “dia de Darwin” por ocasião de seu aniversário. (Continue lendo em Darwin atualizado)

>> Fonte: Revista Fapesp >  Novas origens

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