A viagem de Darwin
A viagem de Darwin: Charles Darwin foi ousado não somente em suas propostas científicas. A expedição que partiu do Reino Unido e circundou o globo era uma aventura muito arriscada, mas que seria fundamental para formular suas ideias revolucionárias.
A viagem de Darwin
26/8/2020 :: Josué Fontana. CC BY-ND 4.0
Depois de chegar de Gales, Darwin passou uma semana com colegas em Barmouth, voltando para casa em 29 de agosto.
Ali encontrou uma carta de Henslow propondo uma viagem a bordo do HMS Beagle. O capitão seria Robert FitzRoy e Henslow deixou claro que apesar da oportunidade irrecusável para um jovem naturalista, Darwin estaria primeiramente na posição de cavalheiro e não apenas como “mero colecionador”. O navio partiria em quatro semanas começando pela costa da América do Sul.
O pai, Robert Darwin, foi contra a empreitada alegando que seria “uma perda de tempo”, mas o seu cunhado o persuadiu a financiar os custos.
Darwin deixou a expedição em segredo a fim de manter controle do material coletado, já que desta maneira este poderia ser melhor preservado para futuras investigações científicas. Após atrasos, a viagem começou após o natal de 1831, durando quase cinco anos.
Charles começou a esboçar suas primeiras observações e quando possível mandava espécimes encontrados para Cambridge, anexando cópias do seu diário de viagem para sua família.
A primeira parada foi em Santiago, Cabo Verde, onde Darwin notou intrigado rochas vulcânicas em grande altitude com várias conchas.
Darwin no Brasil
Na chegada ao Brasil, Darwin encantou-se com a floresta tropical. No entanto, ficou chocado com a escravidão na região, debatendo sobre o assunto com Fitzroy. Em suas anotações ele ressalta que todo o trabalho braçal era feito por negros e se refere aos ingleses como “selvagens polidos”.
No livro Viagens de um naturalista ao redor do mundo, Darwin escreveu cerca de dez páginas a sua passagem por Salvador, onde chegou em fevereiro de 1832. Embora tenha passado pouco tempo ali, Darwin explorou a cidade e coletou plantas, insetos e até um lagarto.
Em 4 de abril, chegou ao Rio de Janeiro, onde ficaria por mais de quatro meses. Um capítulo inteiro de seu livro é dedicado a este período em que fez uma longa incursão pelo interior do estado. Essa exploração em terras cariocas renderam muitas coletas e observações em seu diário.
Como planejado, Darwin conseguiu passar a maior parte do tempo em terra para investigar materiais geológicos e acumular coleções de artefatos naturais, enquanto o Beagle era reparado e abastecido.
Tinha algum conhecimento em geologia, e experiência em colecionar besouros e dissecar invertebrados marinhos, mas em outras áreas era novato e recolhia espécimes habilmente para serem apreciados por especialistas. O capitão deu-lhe o livro de Charles Lyell, Principles of Geology, o qual defendia os conceitos do uniformitarismo e a lenta formação e movimento das rochas por longos períodos, pensamento logo sendo adotado por Darwin, que começou a teorizar seus próprios conceitos.
Até quando sofreu com doenças tropicais, ele não deixou de fazer anotações detalhadas em seus diários enquanto estava a bordo do navio. A maioria de suas anotações eram sobre invertebrados marinhos, como os plânctons.
A expedição do Beagle
A expedição prosseguiu ao sul da Patagônia, com uma parada em Bahía Blanca e lugar onde Darwin fez a grande descoberta de fósseis de mamíferos extintos perto de conchas modernas, uma evidência de que extinções nem tão recentes ocorreram no sítio sem qualquer sinal de catástrofes ou outras alterações bruscas.
Ele identificou o pouco conhecido Megatherium através de um dente e um osso do braço, um possível antigo parente gigante do tatu. Esses achados causaram grande interesse entre os cientistas quando Darwin voltou para a Inglaterra.
Três fueguinos foram capturados durante a primeiro expedição do Beagle e posteriormente educados como missionários na Inglaterra. Darwin considerou eles amigáveis e civilizados, ainda que na Terra do Fogo ele acabou por encontrar “selvagens miseráveis e degradantes”, nem tão diferentes quanto os animais da natureza.
Darwin sempre permaneceu com a ideia que, apesar da diversidade, todos os humanos tinham o potencial para serem civilizados. Ao contrário de outros colegas cientistas, ele nunca considerou uma barreira intransponível entre humanos e animais.
Após um ano, o projeto com os fueguinos foi abandonado. Um deles, com o nome adotado de Jemmy Button, chegou a ter uma esposa, mas jamais desejou abandonar seus conterrâneos e ir para a Inglaterra.
Galápagos, Austrália e Cidade do Cabo
Nas Ilhas Galápagos, famosas por sua geológica vulcânica, Darwin buscou por evidências ligando a vida selvagem com elementos que indicassem um início de vida antiga na Terra, e encontrou tentilhões (Fringillidae) que variavam entre si de ilha em ilha, inclusive daqueles encontrados no Chile. Darwin soube de carapaças tartarugas correspondentes de cada uma das ilhas, mas acabou falhando em coletá-las pois foram servidas como comida no navio.
Na Austrália, os marsupiais potoroidae e o ornitorrinco chamaram tanta a atenção de Darwin pelas suas peculiaridades que ele chegou a cogitar na obra de dois distintos Criadores. Ele achou os aborígenes “bem-humorados e receptivos”, e notou o quanto estavam ameaçados pela presença dos europeus.
Fitzroy investigou como os atóis das Ilhas Cocos em Keeling foram criados, e suas pesquisas corroboraram na formação da teoria de Darwin. O capitão começou a anotar os diários oficiais da expedição Beagle, anexando-os com os de Darwin após uma proposta. O diário de Darwin foi posteriormente separado em um terceiro volume sobre história natural.
Na Cidade do Cabo, Darwin e Fitzroy conheceram John Herschel, apoiador do uniformitarianismo de Lyell e de “mente aberta para o mistérios dos mistérios, o porquê da ‘substituição’ de espécies por outras”.
Quando o navio chegou na Inglaterra, em 2 de outubro de 1836, Darwin já tinha prestígio entre os círculos acadêmicos e científicos.
Darwin não perdeu tempo para divulgar e estudar os materiais coletados com auxílio de especialistas de Londres. Os zoologistas teriam bastante trabalho.
Referências
- Browne 1995, p. 360 «Darwin, C. R. (Read 14 March 1837) Notes on Rhea americana and Rhea darwinii, Proceedings of the Zoological Society of London»
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