Colhereiro, a linda ave que está de volta
Colhereiro: A Lagoa Rodrigo de Freitas tem passado por um longo processo de melhoria de suas condições ambientais, o que se reflete na qualidade de suas águas e sua biodiversidade. E eis que a presença de mais uma bela ave vem atestar a melhora.
Colhereiro, a linda ave que está “de volta”
21/9/2021 :: Josué Fontana
Há 32 anos o biólogo Mario Moscatelli trabalha na restauração ambiental da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Nesse longo período, a paisagem e a qualidade das águas da lagoa mudaram drasticamente — para melhor.

Os mangues plantados pelo biólogo na lagoa ajudam a limpar as águas e fornecem muitos recursos para os animais do local, entre eles, peixes, crustáceos e aves. O combate ao lançamento de esgoto, entre outras medidas, também foi importante para a melhora ambiental da lagoa, e visitantes ilustres aparecem confirmar isso, como o frango d’água que ali se multiplicaram.
E para a surpresa e admiração de biólogos, cariocas e turistas, recentemente o colhereiro (Platalea ajaja), uma ave colorida, parece ter eleito a lagoa como moradia. Segundo os biólogos, a presença desses animais representa mais uma confirmação da melhora das condições ambientais.

O biólogo Rodrigo Guerra, da UERJ, explica que quanto mais rosada a plumagem das aves, maior o sinal de saúde. A pigmentação é oriunda dos micro crustáceos, normalmente avermelhados, comidos pelos colhereiros.
Colhereiro (Platalea ajaja)
A ave pode viver até 15 anos. O animal adulto têm cabeça cinzenta e nua medindo entre 68,5 e 86,5 cm de comprimento. As asas e parte inferior das costas são especialmente rosadas com algumas penas avermelhadas. Não há distinção entre a plumagem do macho e da fêmea.
O bico cinza tem a forma de uma colher, com cerca de 20 centímetros. Com ele, peneira a água à procura de alimento como peixes, insetos, camarões, moluscos, crustáceos e pequenos anfíbios.
Reprodução

Essas aves pelecaniformes da família Threskiornithidae, têm uma parada nupcial sofisticada. O ritual inclui batimentos de bico e ofertas mútuas de galhos. Nidifica em arbustos ou árvores, geralmente manguezais, como na lagoa carioca.
O macho constrói o ninho com gravetos e ervas secas em árvores. As colônias frequentemente são mistas, com outras espécies de aves, como biguás e garças. A fêmea geralmente coloca de 2 a 3 ovos, incubados por 22 dias. Após 6 semanas o juvenil começa a voar e aos 3 anos de idade atinge a maturidade sexual e apresenta a plumagem adulta.
Não se sabe ao certo se a ave habitava a Lagoa Rodrigo de Freitas antes da urbanização, tampouco quando teria sumido. Todavia, Moscatelli garante que ela não está presente há, no mínimo, 32 anos — o tempo em que atua no local.
Uma coisa é inegável: os colhereiros colorem e embelezam a lagoa, dando vida e movimento ao espaço natural urbano.
Fontes e referências:
- Chesser, R.Terry; Yeung, Carol K.L.; Yao, Cheng-Te; Tians, Xiu-Hua; Li Shou-Hsien (2010). «Molecular phylogeny of the spoonbills (Aves: Threskiornithidae) based on mitochondrial DNA». Zootaxa
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CLEMENTS, J. F., T. S. Schulenberg, M. J. Iliff, D. Roberson, T. A. Fredericks, B. L. Sullivan, and C. L.. The Clements checklist of Birds of the World: Version 6.9; Cornell: Cornell University Press, 2014.
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The World Bird Database, AVIBASE; http://avibase.bsc-eoc.org/species.jsp?avibaseid=70924157EB774F64
- Aparição rara de ave colhereira na Lagoa sugere melhoria da condição ambiental, dizem especialistas – extra.globo