EvoluçãoHerpetologiaPaleontologiaZoologia

O crocodilo com chifres

O crocodilo com chifres: Um crocodilo de aparência singular viveu entre 11 milhões e 8,5 milhões de anos atrás em uma parte do que hoje corresponde ao sudoeste da Amazônia brasileira.

O crocodilo com chifres

Jun/2019 :: por Ricardo Zorzetto/ Pesquisa FAPESP
C
om um crânio de quase 60 centímetros (cm) de comprimento e de 3 a 4 metros (m) de extensão do focinho à cauda, tinha o tamanho de um jacaré-açu (Melanosuchus niger), a maior espécie viva desse grupo de répteis na América do Sul, e provavelmente se alimentava de peixes, moluscos, cobras e mamíferos de médio porte, além de tartarugas.

“Chifres”

Sua característica mais impressionante, porém, eram as duas protuberâncias que apresentava no alto da cabeça, semelhantes aos chifres de uma girafa. Por causa das saliências de quase 5 cm de altura, os pesquisadores brasileiros que descreveram a nova espécie em artigo publicado em janeiro no Journal of Vertebrate Paleontology lhe deram o nome científico de Acresuchus pachytemporalis, algo como crocodilo-do-acre com têmporas espessas.

Protuberâncias no alto do crânio não são exclusividade dessa espécie de crocodiliano, grupo de répteis que surgiu há pouco mais de 200 milhões de anos.

crocodilo com chifresAlgumas espécies extintas, como as do gênero Mourasuchus, e outras atuais, como o crocodilo-cubano (Crocodylus rhombifer), também têm saliências no crânio.

“As protuberâncias de Acresuchus, no entanto, são as maiores já observadas em crocodilianos vivos ou extintos”, afirma a paleontóloga Annie Schmaltz Hsiou, da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto (USP-RP), uma das autoras do artigo que descreve a nova espécie.

“Suspeitamos que as saliências do crânio de Acresuchus seriam uma característica que distinguia machos de fêmeas e poderiam ser usadas para comunicação durante a corte”, conta o paleontólogo Giovanne Cidade, estudante de doutorado sob orientação de Annie Schmaltz Hsiou e coautor do artigo sobre Acresuchus.

O crocodilo do Acre

O ICMBio e a proteção da biodiversidade
O ICMBio e a proteção da biodiversidade

O crânio usado para descrever a nova espécie é quase completo. O paleontólogo Jonas Pereira de Souza Filho, da Universidade Federal do Acre (UFAC), encontrou-o em 1989 durante uma escavação na margem oriental do rio Acre, no município de Senador Guiomard, a 30 quilômetros ao sul da capital, Rio Branco. Além desse, há 10 outros crânios fossilizados, mas menos íntegros, de Acresuchus – nove coletados no Acre e um no Amazonas.

O paleontólogo Marcos Bissaro Junior, do grupo de Ribeirão, datou grãos microscópicos do mineral zircão oriundos da camada geológica de dois locais em que os fósseis foram encontrados. O resultado indica que o exemplar do Amazonas seria mais antigo. Teria vivido há uns 11 milhões de anos, enquanto a idade dos exemplares do Acre seria de 8,5 milhões de anos.

Nos 30 anos em que o primeiro fóssil de Acresuchus permaneceu no acervo da UFAC aguardando análise detalhada, dois outros nomes foram sugeridos para a espécie. Em um congresso em 1991, Souza Filho e o paleontólogo francês Jean Bocquentin-Villanueva o chamaram de Caiman niteroiensis, ou jacaré-de-niterói, em referência à localidade de Niterói, em Senador Guiomard, onde o crânio foi achado.

Em seu doutorado, defendido em 1998, Souza Filho trocou o nome para Caiman pachytemporalis, por causa das protuberâncias na cabeça. Nenhum dos nomes se tornou válido por não ter sido publicado em um periódico científico, como exige o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica.

>> Para saber mais, leia o artigo completo no site da Revista Fapesp > O crocodilo com “chifres” do Acre

Comentários do Facebook