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Arara-azul-pequena

Arara-azul-pequena: Uma linda ave que não é vista na natureza há mais de 80 anos. O Ministério do Meio Ambiente a considerou oficialmente extinta em 2003 mas a IUCN mantém o status da espécie como criticamente ameaçada baseada em relatos não confirmados de avistamentos. Também não há exemplares conhecidos em cativeiro.artigo original www.biologo.com.br

Arara-azul-pequena, o último voo

4/6/2021 ::  Por Josué Fontana

Ave ornamental que voava livremente por uma vasta região, mas que sofreu forte impacto da presença humana. Foi caçada, perdeu parte de sua floresta e também parte das árvores que lhe davam alimento. Essa é a triste história da Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus)

Anodorhynchus glaucus - Arara-azul-pequena
Anodorhynchus glaucus. Recriação digital.  © Andrés González.

Seu território abrangia desde o sul do Brasil a partes do Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai, com as populações concentrando-se nas bacias dos rios. Tratava-se de uma ave endêmica dessas regiões.

O Anodorhynchus glaucus media cerca de 70 centímetros de comprimento e sua plumagem tinha coloração azul pálida e esverdeada. Sua cabeça e bico eram grandes e o animal ostentava uma bela e longa cauda.

Outros nomes: arara-azul-claro, arara-celeste, arara-preta, araraúna e araúna

Pouco se sabe sobre o comportamento das araras-azul-claro, que há muito não são vistas. Segundo o relatos de Goeldi em 1894, a espécie consumia nozes (de tucum e mucujá) e outros apontavam que ela consumia caroços variados de palmeiras.

Análises recentes da estrutura do bico indicaram que a Arara-azul-pequena estava adaptada para consumir, principalmente, nozes de palma, provavelmente a butiá-jataí (Butia yatay) cujo fruto de sabor doce é comestível também por humanos. J. C. Chebez também afirmava que os frutos do butiá-jataí eram o principal alimento do animal.

Butiá-jataí
Parque Nacional El Palmar na Argentina, dedicado à preservação de uma floresta de árvores Butiá-jataí. © Pablo D. Flores

Essa palmeira (ao lado) é nativa do sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina e foi avaliada como ‘vulnerável’ pelo Centro Nacional de Conservação da Flora em 2012. Embora ocorra em uma área grande, as árvores restantes estão ameaçadas pela expansão das áreas cultivadas.

Outras palmeiras provavelmente também forneciam alimento, como a Butia capitata. Acredita-se que a Arara-azul-pequena também consumia ocasionalmente outras frutas, quando disponíveis.

Possíveis causas da extinção

Com base na dieta da Anodorhynchus glaucus, os biólogos tem mais pistas para a extinção da Arara-azul-pequena, uma vez que essas palmeiras que lhe serviam de alimento escassearam na sua região.

Também deve ser dito que nunca houve relatos de abundância nas populações dessa arara em sua área de ocorrência. Todavia, durante o século XIX diversas ameaças como o desmatamento para a agricultura e a caça cobraram seu preço e, provavelmente, dizimaram os animais restantes.

Arara-azul-pequena - Anodorhynchus glaucus
Arte gráfica em antiga Ilustração da Arara-azul-pequena de Bourjot Saint-Hilaire, 1837-1838.

Somente dois registros são aceitos no século XIX, uma observação no Uruguai em 1951 e relatos feitos no estado do Paraná no início da década de 1960. O último exemplar conhecido em cativeiro morreu no Zoológico de Buenos Aires em 1936.

Apesar de os dados mostrarem que dificilmente veremos a Arara-azul-pequena novamente, alguns preferem acreditar nos relatos não comprovados de avistamentos que ainda persistem. Também é possível que ainda existam animais que sobreviveram ao cativeiro.

Fontes e referências:
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