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Maturana e a Autopoiese

Humberto Maturana: Faleceu nesse ano o famoso biólogo Humberto Maturana, criador em parceria com Francisco Varela da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer. Também foi um dos idealizadores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical.artigo exclusivo www.biologo.com.br

Maturana e a Autopoiese

10/5/2021 ::  Por Josué Fontana

A epistemologia de Maturana se destaca com o estudo e explicação do ser vivo como produtor do conhecimento. O neurobiólogo focava no ser humano, vendo-o como um sistema autoconstrutivo, permeado de emoções e incapaz de distinguir entre percepção e ilusão. 

Humberto Maturana
Humberto Maturana (1928 – 2021)

Para Maturana, o ser humano é um sistema que define, constrói e modifica sua própria organização a partir de seu comportamento e ideias, sendo autoconsistente e autopoiético.

Autopoiese

Autopoiese é o termo para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo a teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, com uma rede fechada de produções moleculares. 

A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, autônomo, está sempre se autoproduzindo e autorregulando, mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não através de um agente externo.

A teia da aranha
A Teia da aranha

autopoiesis (do grego auto “próprio”, poiesis “criação”)

Segundo a tese, existe autonomia no estabelecimento de duas constituintes básicas de um sistema: estrutura (componentes de um sistema) e organização: (relação entre esses componentes).

O termo cunhado por Maturana e Varela passou a ser usado não somente na neurobiologia e biologia, mas em áreas como a sociologia (por Niklas Luhmann), na filosofia (por Deleuze), na arquitetura, no direito e outras áreas do conhecimento.

“Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais. Nossa crença nessa afirmação, nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade, a ponto de querermos atribuir pensamento racional a animais não-humanos, sempre que observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, fizemos com que a noção de realidade objetiva, se tornasse referência a algo que supomos ser universal e independente do que fazemos, e que usamos como argumento visando a convencer alguém, quando não queremos usar a força bruta.” (do livro “A Ontologia da Realidade” – Ed. UFMG, 1997)

Biografia resumida

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Humberto Maturana Romesín nasceu em Santiago do Chile em 14 de setembro de 1928. Se formou no Liceo Manuel de Salas em 1947 e logo ingressou na carreira médica na Universidade do Chile. Trabalhou em neurociência e no centro de pesquisas “Biología del Conocer” (Biologia do Saber).

Maturana seguiu para a University College of London para estudar anatomia e neurofisiologia, já com bolsa da Fundação Rockefeller. Obteve em 1959 o Doutorado em Biologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Foi pioneiro no registro da atividade de uma célula direcional de um órgão sensorial, com o cientista Jerome Lettvin. Pelo feito, ambos foram candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. Em 1960 voltou ao Chile na função de professor adjunto em Biologia da Escola de Medicina da Universidade do Chile.

Ctenomys tucumanus. Cronobiologia

No ano de 1965 fundou o Instituto de Ciências e a Faculdade de Ciências da Universidade do Chile. Em 1970 criou e aprimorou o conceito de Autopoiese. 

Em 1992 gerou com o biólogo Jorge Mpodozis a idéia da evolução das espécies por meio da deriva natural, baseada na concepção neutralista.

Maturana faleceu em 6 de maio de 2021, aos 92 anos de idade, vítima de pneumonia. No Twitter, a universidade Universidade do Chile, onde era professor, confirmou: “a lamentável partida de Humberto Maturana, professor da Faculdade de Ciências, cujo legado da biologia, da ciência e do pensamento reflexivo permeou todos os ramos do conhecimento”.

“O amor é a única emoção que expande a inteligência”. – H. Maturana

Prêmios e legado
  • Teoria-de-Gaia-Hipotese-de-gaia
    Hipótese de gaia

    Foi co-fundador e docente da Escola Matríztica de Santiago, Chile, onde trabalhou com Ximena Davila (co-fundadora e docente) no desenvolvimento da dinâmica da Matriz Biológico-cultural da Existência Humana.

  • Em 1992, junto ao biólogo Jorge Mpodozis, gera a ideia da evolução das espécies por meio da deriva natural, baseada na concepção neutralista.
  • Em 1990 foi designado Filho Ilustre da comunidade de Ñuñoa (Santiago do Chile). 
  • Doctor honoris causa pela Université Libre de Bruxelles.
  • Prêmio Nacional de Ciência no Chile (1994), por suas investigações no campo da percepção visual dos vertebrados e a seus modelos conceituais a respeito da teoria do conhecimento.

Estudos:

  • MATURANA, H. “Biology of language: The epistemology of reality,” in Miller, George A., and Elizabeth Lenneberg (eds.), Psychology and Biology of Language and Thought: Essays in Honor of Eric Lenneberg. Academic Press: 27-63. 1978
  • Varela, F., Maturana, H. R. Times courses of excitation and inhibition in retinal ganglion cells. Exper. Neurology 26: 53-59, 1970.
  • MATURANA, H. “Ontology of Observing, The biological foundations of self-consciousness and the physical domain of existence” Conference Workbook: Texts in Cybernetics, American Society For Cybernetics Conference, Felton, CA. 18-23, 1988.
  • MATURANA, H. “REALITY: The Search for Objectivity or the Quest for a Compelling Argument” The Irish Journal of Psychology 9: 25-82. 1988
  • MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco (1984). A árvore do conhecimento – As bases biológicas do conhecimento humano. Campinas: Ed. Psy, 1995. São Paulo: Ed. Palas Athena, 2004.
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