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Uma borboleta rara

Uma borboleta rara: Espécie ameaçada de extinção só foi registrada três vezes no Estado, a terceira aconteceu neste ano na Reserva localizada no Vale do Ribeira

Uma borboleta rara

São Paulo, 12 de junho de 2019: Foi registrado no Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do País, o aparecimento da espécie de borboleta Prepona deiphile deiphile

A espécie rara e vista apenas duas vezes no Estado, teve dois indivíduos fêmeas identificados dentro da Reserva, pela bióloga Laura Braga, especialista em borboletas e mariposas.

Uma borboleta rara - Prepona deiphile
Borboleta Prepona deiphile deiphile

De acordo com a pesquisadora, esta é a terceira vez que a espécie é registrada no Estado. A primeira ocorreu na cidade de Santo André, embora sem data precisa, o registro pode ter ocorrido nos anos 50. O segundo registro, feito pelo pesquisador K. Brown, que foi apenas visual, se deu nos anos 2000, em Ubatuba.

A Reserva, localizada no Vale do Ribeira, também é jardim de borboletas extremamente raras. Em 2017 foi descoberta a borboleta Godartiana byses, que jamais havia sido registrada no Estado de São Paulo. Os 31 mil hectares de floresta em alto grau de conservação do Legado das Águas são um berço e refúgio para espécies raras e ameaçadas de extinção, como o muriqui – o maior macaco das américas, o raríssimo cachorro-vinagre entre outras espécies da fauna brasileira.

Espécie de borboleta rara é registrada em SP

O registro dos dois indivíduos, segundo a pesquisadora, indica uma população viável, ou seja, a possibilidade de mais borboletas da mesma espécie. “Ainda que a presença dessa espécie seja sazonal, dependendo do ano, encontrar dois indivíduos em um mesmo dia indica que há uma população”, explica. Após o registro fotográfico para documentação, as borboletas foram devolvidas à natureza.

Pertencente à família Nymphalidae, subfamília Charaxinae, a espécie Prepona d. deiphile é frugívora, se alimentando de frutas fermentadas. Além disso, habita o dossel, ou seja, o topo das árvores da Mata Atlântica, que em sua maioria são muito altas. Segundo a pesquisadora, é um fator que dificulta sua amostragem, aumentando a importância da descoberta.

“A ciência sabe pouco sobre a história natural dessa espécie, não sabemos, por exemplo, qual o impacto que a extinção dessa espécie poderia causar no ecossistema e, por consequência, nos serviços ecossistêmicos prestados à humanidade. No entanto, a extinção de qualquer espécie é sempre uma perda para o planeta, principalmente para os ecossistemas onde elas interagem”, explica Laura Braga.

A bióloga também diz que as espécies ameaçadas de extinção, no geral, têm populações reduzidas, são raras na natureza e a principal ameaça é a perda do habitat.

“A perda de habitat é, em sua maioria, causada pelas atividades humanas, como desmatamento, agropecuária e urbanização. Por isso, é de suma importância descobertas sobre a distribuição e biologia dessas espécies para gerar conhecimento científico e subsidiar planejamentos para a conservação da natureza. O que se tem certeza é a necessidade de um ambiente florestal saudável e bem conservado para a existência de P. d. deiphile, evidenciando a importância de locais como o Legado das Águas, para a sobrevivência das espécies endêmicas da Mata Atlântica”, explica Laura Braga.

Prepona d. deiphile
Prepona d. deiphile

Conservação – Uma borboleta rara

O Legado iniciou, no ano de 2016, o levantamento de borboletas no Vale do Ribeira. A pesquisa está sendo realizada em parceria com a Sustentar Meio Ambiente e consistiu-se, até o momento, em sete expedições de campo para amostragens das espécies, sendo a última delas realizada em janeiro de 2019. Até o momento, foram registradas 226 espécies no Legado das Águas.

A gerente executiva da Reservas Votorantim, Frineia Rezende, explica que a conservação das espécies garante o equilíbrio da ecologia do planeta, que impacta, principalmente, ao longo da cadeia da produção de alimentos.

“Quarenta por cento dos insetos, como as borboletas, de todo o planeta podem ser extintos nas próximas décadas, como alertou uma pesquisa sobre o tema publicada no periódico científico Biological Conservation. Umas das principais causas é a perda do habitat. São eles os grandes responsáveis pela produção da nossa comida, graças aos seus serviços ecossistêmicos.

Os insetos polinizam 75% das plantações em todo mundo; são alimentos para outros animais também importantes para o equilíbrio do ecossistema, como pássaros e peixes; reabastecem os solos e mantêm o número de pragas sob controle. Ou seja, muitos fatores dentro do ecossistema que nos atinge como seres humanos, ou que nos mantém, depende desses pequenos animais. Por isso, o Legado das Águas investe nas pesquisas científicas e compartilha esse conhecimento, seja com outras instituições de pesquisa, ou em educação ambiental”, finaliza a gerente.

Sobre o Legado das Águas: Reserva Votorantim

O Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão aproximada à cidade de Curitiba (PR), é um dos ativos ambientais da Votorantim. Localizada na região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, a área foi adquirida a partir da década de 1940 e conservada desde então pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que manteve sua floresta e rica biodiversidade local com o objetivo de contribuir para a manutenção da bacia hídrica do Rio Juquiá, onde a companhia possui sete usinas hidrelétricas.

Em 2012, o Legado das Águas foi transformado em um polo de pesquisas científicas, estudos acadêmicos e desenvolvimento de projetos de valorização da biodiversidade, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

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