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Golfinho-lacustre-chinês

Golfinho-lacustre-chinês, um cetáceo de água doce que era encontrado no rio Yang-Tsé na China. Até os anos 1950, milhares de golfinhos eram vistos ali, mas a degradação ambiental pelo homem rapidamente declinou as populações. Hoje a espécie está, provavelmente, extinta.artigo original www.biologo.com.br

Golfinho-lacustre-chinês, o último mergulho

17/6/2021 ::  Por Josué Fontana

Vigorosos e alegres, esses mamíferos aquáticos chegavam a 230 quilos e mediam até 2,7 metros. Embora restritos ao rio Yang-Tsé, suas águas se estendiam por cerca de 1700 quilômetros no território chinês. Todavia, o animal hoje é apenas uma lembrança dos chineses mais velhos e persiste em fotos e vídeos.

Golfinho-lacustre-chinês - animais extintos pelo homem
Qiqi, último Golfinho-lacustre-chinês registrado © I.H, Chinese Academy of Sciences

Amados por pescadores e camponeses, o Golfinho-lacustre-chinês (Lipotes vexillifer) ganhou status de um deus — segundo o folclore chinês, o Baiji (como o cetáceo é conhecido por lá) é a encarnação de uma linda garota que se afogou nas águas do rio, fugindo de um homem mau. Por isso o animal era chamado de “Deusa do Yangtze”. Na região ele permanece como um símbolo de paz e prosperidade.

Outros nomes: Golfinho-do-yang-tsé, Golfinho-branco, Golfinho do Rio Chinês, Baiji 

Por ser um animal que há relativamente pouco tempo podia ser estudado vivo, sua biologia é bem conhecida. Mas quanto ao comportamento, certas lacunas permanecem.

Características do Baiji (Lipotes vexillifer)

Cadê os golfinhos? - Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis)
leia: Cadê os golfinhos?

Com olhos pequenos e visão muito ruim, o animal se orientava mais por sua ecolocalização (ou biossonar). Tal sentido dava a ele uma sofisticada capacidade para detectar a posição e a distância de objetos ou animais através de emissão de ondas ultrassônicas na água. O biossonar também auxiliava na socialização e comunicação entre a espécie.

A coloração variava entre azul claro a cinza no dorso, com o ventre sempre branco. A gestação das fêmeas durava de 10 a 11 meses e os machos atingiam a maturidade sexual aos quatro anos e as fêmeas aos seis. Estas eram também um pouco maiores que os machos.

O Golfinho-lacustre-chinês, de bico longo e ligeiramente voltado para cima, era capaz de atingir a velocidade de 60 km/h, mas geralmente nadava acelerando entre 30 e 40 km/h.

O último mergulho: o declínio da espécie

Um golfinho Baiji morto em 1914 por Charles Hoy, um americano.
Golfinho-lacustre-chinês morto em 1914 por Charles Hoy, um americano.

A população foi estimada em cerca de 6 mil animais na década de 1950, mas nessa época diversas ameaças trazidas pelo homem se multiplicaram em suas águas. O Grande Salto para Frente (1958 e 1960), conduzido pelo líder chinês Mao Tse Tung, ajudou a perseguir a espécie que sofreu drástica redução do número de indivíduos.

Até os anos 1970, a população desses golfinhos diminuiu rapidamente e restavam apenas algumas centenas de animais. Por isso, finalmente o governo estabeleceu que a matança deliberada estava proibida. Restringiu a pesca e estabeleceu reservas naturais. 

Assim mesmo, novas ameaças não pararam de surgir. Em 1994 foi iniciada a construção da hidrelétrica de Três Gargantas. Se o esforço de conservação não era tardio, ele se revelaria insuficiente — em 1997 foi realizada uma busca completa pela espécie na região e somente 13 golfinhos foram registrados. 

Anos depois, líderes de uma expedição conduzida por trinta pesquisadores numa busca de seis semanas no rio, declararam que a espécie estava “funcionalmente extinta” em dezembro de 2006. Seria a primeira extinção de um cetáceo por ação humana.

August Pfluger, da fundação Baiji.org, disseː “a estratégia do governo chinês era boa, porém não tivemos tempo de pô-la em ação”.

Infelizmente, depois disso nenhum registro foi confirmado. Somente em 2016 teria havido um suposto avistamento, sem embasamento em imagens. Desde então, um longo silêncio se segue. Entretanto, ainda existem cientistas esperançosos de que a espécie não esteja extinta e pedem que os esforços de conservação continuem.

Mesmo se algum animal for registrado em vídeo, a “população” desses golfinhos provavelmente não seria suficiente para sustentar a reprodução prolongada. Cautelosa, a IUCN mantém o status de “Em perigo crítico, possivelmente extinta”.

Estudos e referências:
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